8 crianças de até 10 anos estavam no avião que trouxe deportados ao Brasil; veja perfil dos repatriados
Ao todo, 25% dos deportados, ou seja, 28 brasileiros, estavam com familiares no voo

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) divulgou, na madrugada deste sábado (8), o perfil dos 111 brasileiros deportados dos Estados Unidos que chegaram a Fortaleza, na última sexta-feira (7). Entre os deportados, estavam 8 crianças de até 10 anos e mais 11 crianças e jovens até 20 anos.
A secretária dos Direitos Humanos do Ceará, Socorro França, revelou que os repatriados chegaram ao Brasil “acorrentados, com algemas”, e muitos estavam “machucados emocionalmente”. Crianças e seus acompanhantes são vieram algemados nem acorrentados, segundo divulgou o Governo Federal na noite de sexta (7). Após pousar em Fortaleza, 88 brasileiros deportados seguiram em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para Minas Gerais.
"O pouso na capital do Ceará representa uma redução do tempo de restrição física dos repatriados. A medida subtraiu em cinco horas a chegada ao Brasil, reduzindo o período em que os brasileiros permanecem algemados e acorrentados pelos pés durante o transporte", informou o MDHC.
Segundo dados da Polícia Federal (PF), a maioria dos repatriados são homens e jovens. A pessoa mais velha tem 53 anos. E apenas 25% dos deportados (ou seja, 28 brasileiros) estavam com familiares no avião. Confira os perfis detalhados:
Por sexo:
- 85 homens (dos quais 71 estavam desacompanhados);
- 26 mulheres (das quais 12 estavam desacompanhadas).
Por idade:
- 8 pessoas têm até 10 anos de idade;
- 11 pessoas têm entre 11 e 20 anos;
- 38 pessoas têm entre 21 e 30 anos;
- 33 pessoas têm entre 31 a 40 anos;
- 17 pessoas têm entre 41 a 50 anos;
- 4 pessoas têm 51 anos ou mais (sendo o mais velho do grupo com 53 anos de idade).
Uma mulher transgênero, que estava acompanhada do marido, foi recebida pela Secretaria da Diversidade do Ceará, a pedido da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+.
Veja também
A secretária-executiva do MDHC, Janine Mello, elogiou a recepção dada no Ceará aos brasileiros deportados: “O atendimento foi muito bom, considerando que foi a primeira vez em que o Ceará recebeu repatriados. Tivemos um apoio enorme, fizemos um acolhimento humanitário, e as pessoas, quando viam a gente, ficavam aliviadas. Alguns chegaram envergonhados, mas quando viram como seria a recepção, relaxaram bastante”.
O Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante (PAAHM), instalado no Aeroporto Internacional de Fortaleza, foi mobilizado para receber os brasileiros repatriados.
Os repatriados tiveram um atendimento multidisciplinar, com assistentes sociais e psicólogos, e também foram orientados para serviços de documentação e regularização migratória. Foi oferecida ainda estrutura com água, alimentação, pontos de energia, internet e banheiro, segundo o MDHC.
Deportação em massa
O avião com 111 brasileiros repatriados pousou em Fortaleza pouco depois das 16 horas desta sexta-feira (7). O voo partiu do Aeroporto Internacional Rafael Hernández, em Aguadilla, Porto Rico, e a capital cearense foi escolhida para a recepção para evitar o uso prolongado de algemas pelos passageiros em território nacional.
Esse é o segundo voo que chega ao País. Na primeira leva, um avião pousou em Manaus no dia 24 de janeiro com 88 brasileiros que foram mantidos aprisionados. O Ministério da Justiça e Segurança Pública classificou o caso como “flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”.
As operações de deportação em massa começaram poucos dias após a posse de Donald Trump como presente dos Estados Unidos. Ao longo da campanha presidencial, ele prometeu conter a imigração ilegal nos EUA. Logo no primeiro dia de governo ele assinou ordens destinadas a impedir a entrada de imigrantes ilegais.
Durante a espera pela chegada do avião, uma mãe que estava no saguão do Aeroporto conversou com o Diário do Nordeste. Cearense, o filho dela, João (nome fictício), saiu do Brasil para morar no Canadá, mas há três anos morava nos Estados Unidos.
No dia 2 de janeiro, ele avisou para a mãe que tinha sido detido. Ao longo dos últimos anos, ele viveu em New Jersey e na Flórida, foi motorista e atuou na construção civil. Era um “faz-tudo”, conta. “Meu filho não é bandido”, disse a mãe. “Ele tinha vontade de morar fora, aqui a pessoa é muito desvalorizada. Era o sonho dele”.