3 etnias indígenas do CE terão teleconsultas por meio de projeto do SUS e Hospital Sírio Libanês

Iniciativa pioneira reduzirá distâncias e fila de espera para atendimento com especialistas em 12 áreas, como oncologia e neurologia

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Pacientes terão apoio de equipes multiprofissionais para a marcação de consultas
Foto: Kid Jr.

Indígenas cearenses das etnias Jenipapo-Kanindé, Tremembé e Pitaguary, residentes em Aquiraz, Itarema e Maracanaú serão beneficiados por um projeto inovador de saúde digital no Estado. A parceria entre o Ministério da Saúde e o Hospital Sírio Libanês deve levar teleconsultas às aldeias ainda neste mês de setembro.

O lançamento ocorreu na última quinta-feira (21), na Escola Indígena Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz, com a presença de autoridades federais, estaduais e municipais, bem como lideranças e indígenas da comunidade.

O chamado “TeleNordeste” recebe investimentos do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). O projeto promove as teleconsultas com médicos especialistas e equipes multiprofissionais, um gargalo histórico das comunidades indígenas.

Segundo Lucas Guerra, coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará (DSEI-CE), os moradores costumam ser atendidos pela Atenção Primária, nas unidades básicas e por meio de visitas domiciliares, mas os atendimentos de maior complexidade - como oncologia e neurologia - demandam longas viagens para fora dos territórios.

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“O TeleNordeste conecta o nosso médico que atua na comunidade com o especialista das diversas áreas e ajuda nosso paciente. Temos buscado nos articular melhor com Estado e Municípios para que a saúde indigena possa ser percebida. Ainda temos muita dificuldade sobre a falta de conhecimento”, explica ele.

Por isso, 12 especialidades serão ofertadas dentro do TeleNordeste, que também será implantado em aldeias da Bahia. Uma equipe de 26 profissionais do Sírio Libanês ficará disponível para os atendimentos. Estarão acessíveis consultas em:

  • Ortopedia
  • Reumatologia
  • Urologia
  • Neurologia
  • Psiquiatria
  • Dermatologia
  • Cardiologia
  • Endocrinologia
  • Pneumologia
  • Pediatria
  • Ginecologia
  • Obstetrícia 

Além disso, haverá equipes de referência com Medicina de Família e Comunidade, Nutrição e Enfermagem.

Funcionamento do projeto

A partir da próxima segunda (25), as equipes do projeto receberão computadores e serão treinadas. As consultas devem ser agendadas mediante disponibilidade do profissional requisitado, mas a projeção é que ocorram na mesma semana do pedido.

No dia da consulta, o paciente entra numa sala virtual com um médico ou médica, a partir de uma plataforma específica. Durante a conversa, podem ser anexados exames e fotos para facilitar a análise do caso. Não há meta de consultas mensais, uma vez que esse número depende da demanda.

Legenda: Apresentação do projeto reuniu lideranças indígenas em Aquiraz
Foto: Kid Jr.

Para Sabrina Dalbosco, gerente do portfólio Saúde Digital da Diretoria de Compromisso Social do Sírio Libanês, o projeto dá atendimento qualificado dentro dos próprios territórios e permite aos profissionais “conhecer diversas culturas pela tela”. 

Os médicos envolvidos nos atendimentos serão treinados e sensibilizados sobre as especificidades da saúde indígena, bem como incentivados a respeitar o protagonismo dos pacientes.

Caso haja necessidade de medicamentos ou procedimentos médicos, será feita uma “articulação interfederativa” para garantir o acesso, de acordo com Weibe Tapeba, advogado cearense e titular da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde. 

Reestruturação da política de saúde

Essa é a primeira vez que a saúde indígena foi incluída como prioridade de financiamento de projetos especiais no Proadi, comemora Weibe. Segundo o gestor, o momento é de recuperação da política de saúde indígena, “fragilizada” na última gestão federal.

Legenda: Cearense Weibe Tapeba lidera política de saúde indígena em todo o território brasileiro
Foto: Kid Jr.

Em 2022, por exemplo, uma decisão da Sesai não permitia investimentos em territórios indígenas não homologados, o que afetava mais de 95% das terras no Brasil. Além disso, naquele ano, houve um corte de 59% no orçamento da Secretaria.

Por isso, desde janeiro, ele busca articulações com outros Ministérios e programas federais. Na Lei Orçamentária Anual (LOA) que vai vigorar no ano que vem, conseguiu ampliar os investimentos na área em cerca de R$900 milhões, somados aos R$1,6 bilhões geridos atualmente. 

“A sensação que eu tenho é que a Sesai tinha a tradição do isolamento. Hoje, trabalhamos intersetorialmente, e essa aproximação nos permite criar um cenário favorável a ampliar relações. Esse planejamento vai resultar em muitas conquistas para os povos indígenas”, destaca.

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