Morre Giovanna Sampaio, jornalista, artista visual e ceramista cearense, aos 66 anos
Além de editora no Diário do Nordeste, nos últimos anos ela se dedicou à pintura e à produção de cerâmica artesanal, com peças que refletem a leveza pelo qual era conhecida
Faleceu no último domingo (10) a jornalista e artista plástica cearense Giovanna Sampaio, aos 66 anos. Ela atuou no Diário do Nordeste como repórter nas editorias de Cidade e Economia. No posto de editora, trabalhou na revista Siará e nos suplementos de saúde Viva e Vida. Elaborou também projetos, a exemplo do Vida Saudável. No total, foram 37 anos no periódico.
Para além do Jornalismo, Giovanna se dedicou às Artes Visuais a partir da pintura e produção de cerâmica artesanal. As peças, de grande valor afetivo, refletiam a leveza pela qual a artista era conhecida. Flores, curvas, desenhos e cores se entrelaçavam de forma única, e estavam presentes em jarros, pratos, bandejas, brincos, broches, entre outros objetos.
Sem nunca desvencilhar das palavras, era sócia e diretora da Casa de Memória, editora e agência produtora de conteúdos, livros, biografias e eventos. Por meio do trabalho de Giovanna, foram publicadas obras como “Manga verde com sal - Cartas de amor, de luto, do sabor agridoce da vida”, da também jornalista Erilene Firmino; “Do Barro à Luz”, de Roseane Cândido Duarte; e “Lis e suas sapatilhas mágicas”, de Lis Maria e Bê Alencar.
O comunicado do falecimento foi publicado nas redes sociais da jornalista e artista visual na manhã desta segunda-feira (11). O texto evidencia: “É difícil expressar em palavras a tristeza que estamos sentindo neste momento”.
Destaca também que a família está providenciando o translado do corpo do Rio de Janeiro para Fortaleza, onde ocorrerá velório e sepultamento. O velório será na Funerária Ternura, a partir de 16h desta quinta-feira (14); a missa de corpo presente será na sexta-feira (15), às 8h30. O sepultamento, por sua vez, acontecerá no Parque da Paz, também na sexta-feira (15), às 16h.
“Agradecemos desde já todas as mensagens de apoio e solidariedade neste momento de dor”, diz a família. Giovanna deixa esposo, Paulo Ernesto Serpa; três filhos, Carol, Rafael e Pedro Ernesto; três netos, Ravi, Lis e Tom; e uma legião de amigos e admiradores.
Rica travessia
Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Giovanna Cabral Sampaio também é co-autora do livro “São Lourenço, Parque e Vida” (2020), publicado pela Minalba Brasil. Participou de congressos no âmbito nacional e internacional, sempre com ênfase nas áreas de pesquisa e saúde.
Foi assessora de imprensa da Secretaria de Ciência e Tecnologia, da Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa do Ceará (Funcap), da Embratel e do Grupo Telles – Assessoria de Imprensa, atestando a versatilidade do fazer jornalístico.
No perfil da Casa de Memória, o relato das jornalistas e amigas Cristina Pioner, Germana Cabral e Roberta Souza, demais sócias do projeto, dá conta de dimensionar a importância de Giovanna para a jornada de tantos. “O coração da Casa de Memória amanheceu batendo mais devagarinho… Uma das moradoras pediu licença para se despedir”, introduz o texto.
“Giovanna Sampaio era o espírito artista e brincalhão da nossa morada. Com suas mãos, moldou e pintou as primeiras casinhas de cerâmica que constituíram a essência deste projeto. Com suas brincadeiras, provocou os inúmeros sorrisos que davam leveza aos dias e noites de trabalho. As cores sempre foram suas melhores amigas. E não há duvidas de que um mundo colorido a espera do outro lado. Daqui, seguimos gratas e felizes pelo presente de sua existência”.
A publicação segue: “Nossos mais sinceros sentimentos ao esposo, Paulo Enesto, aos filhos Carol, Rafael e Pedro, e aos netinhos Ravi, Lis e Tom, que Gio tanto amava. Que a luz daquela estrelinha tatuada na mão siga guiando os passos de todos que a amam. E nós que vivemos de tantas palavras, hoje só temos duas para nossa querida amiga: amor e saudade!”.
Gerente de Projetos Especiais no Sistema Verdes Mares, Ildefonso Rodrigues afirma que Giovanna “é uma das profissionais mais íntegras e corretas do Jornalismo cearense”. “Ela ajudou a formar uma geração de profissionais que hoje estão brilhando nas redações e em outras áreas da Comunicação”, partilha.
E completa: “Ela bebeu de uma fonte, e essa fonte é eterna: a fonte do Jornalismo. O jornalismo investigativo, da apuração, do contato com a fonte, da produção do conhecimento... Essa é a profissional Giovanna Sampaio, que vai nos deixar uma saudade imensa. Estou alegre por ter aprendido com ela”.
O Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) publicou nota de pesar lamentando a partida de Giovanna, filiada de número 528 da instituição. "Neste momento de dor, o Sindjorce se solidariza com os familiares e amigos de Giovanna, prestando homenagem à sua trajetória e contribuição inestimável ao jornalismo cearense. Que sua memória inspire as futuras gerações de profissionais de jornalismo".
Vida em cores
Na seara artística, Giovanna seguiu princípio muito íntimo: não economizou em cores e carinho. Era comum ela compartilhar nas redes sociais, de forma poética e aconchegante, um pouco do processo criativo de cada obra.
Em postagem no último dia 17 de outubro, por exemplo, escreveu: “Cada peça é única: premissa de todo trabalho manual. Na cerâmica não é diferente, tanto pelo exercício da criação, como pela forma minuciosa impressa em cada desenho e pincelada”.
Em outro momento, no mês de maio, ao exibir outra peça, compartilhou: “Sóis azuis ou meio mandalas desconstruídas. Liberdade para interpretar o que imprimi nesse conjunto de xícaras. O certo é que a harmonia no movimento e nas cores será sempre o ponto de partida para cada peça que faço ou pinto”.
A expertise nas Artes Plásticas e Visuais alçou a artista a voos bonitos. Não à toa, o ambiente “Espaço Cearense”, assinado pelo arquiteto Elias Petruço, na Casacor Ceará 2024, traz uma tela dela. Ao lado de outras obras, compõe o ambiente que enaltece a importância de momentos, histórias e vivências.
Numa dicção muito livre, é como traz uma fagulha de quem é Giovanna. Foi ela mesma quem afirmou: "As cores quentes me acalmam. Sempre foi assim. Meu olhar as encontra quase em tudo ao redor, inclusive na natureza. É uma atração nada fatal. é natural; e que bom que seja assim. Sou movida por essas nuances, tons. Isso não exclui do meu olhar as cores frias. Isso nunca. Mas é fato que deixo esse caminho natural fluir quando pinto. No meu vestir e na minha morada, o neutro (madeira e cerâmica) reina. Os pontos de luz estão nas plantinhas (em jarros, na água e kokedamas), na cor âmbar (das luminárias) e nas peças com forte pegada afetiva".