Mais de 30 artesãs de Pacujá recebem reconhecimento da Ceart por artesanato em palha

Município pretende se destacar como a “capital do chapéu de palha”

Escrito por Roberta Souza , roberta.souza@svm.com.br
Artesãs de Pacujá
Legenda: Artesãs de Pacujá na Igreja Matriz de São João Batista, em cerimônia realizada na quinta-feira (15)
Foto: Jorge de Moura

Aos 63 anos, a artesã Célia Maria de Oliveira realiza um sonho: ver o ofício que aprendeu ainda na infância, no município de Pacujá (a 301 Km de Fortaleza), ser valorizado em âmbito nacional.

É que na última quinta-feira (15), ela e outras 36 mulheres receberam a carteira do artesão, disponibilizada a todas com o apoio da Central de Artesanato do Ceará (Ceart), em reconhecimento às habilidades na técnica de trançado na tipologia da palha.

Veja também

“É um sentimento muito bom, de dever cumprido e de um longo trabalho pela frente”, introduz Célia, que aprendeu com as mães (adotiva e biológica) a trançar chapéus a partir da matéria-prima proveniente da carnaúba.

É uma coisa que há muito tempo eu tentei fazer e agora consegui, uma vitória não só pra mim como para outras mulheres daqui”, reforça.
Célia Maria
Artesã

A identificação e o cadastro das artesãs teve início ainda este ano, após intensa mobilização de alguns gestores da cidade, como é o caso do secretário adjunto do Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente do município, Jorge de Moura, e do jovem ambientalista Elenilson Gouveia de Carvalho.

Célia
Legenda: Célia, uma das artesãs que ajudou a articular a ida da Ceart ao município
Foto: Jorge de Moura

Nesses 65 anos de escuridão para o setor do artesanato em Pacujá, uma luz foi acesa no final do túnel. Por conhecer bem a benéfica ação da Ceart, a qual testemunhei como secretário municipal da assistência social em Barraquinha e Tauá, foi possível nessa cidade abrir o canal de comunicação com os artesãos que sofrem e têm seus trabalhos menosprezados pela força da presença do atravessador”, partilha.
Jorge de Moura
Secretário Adjunto do Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente e Articulador do Selo UNICEF Edição 2021-2024

Agora, ele entende que a ação fará nascer a Associação dos Artesãos de Pacujá, uma medida necessária, tendo em vista o grande número desses profissionais no município sem apoio oficial.

“Aqui todo mundo vive do artesanato, fazem chapéu, mas não sabem o valor, vendem a qualquer preço, e não podemos deixar nossa mina de ouro deixar de existir”, completa a artesã Célia.

Benefícios para a comunidade

Com a carteira do artesão em mãos, além do reconhecimento, as mulheres de Pacujá também conseguirão o benefício de isenção do ICMS para comercializar os próprios produtos, como explica a gerente de produção artesanal da Ceart, Ticianne Gomes.

Queremos gerar renda realmente, trazer uma capacitação, desenvolver uma coleção e articular com os fornecedores para levar os produtos para nossas lojas, que são uma vitrine do Estado, e também para as feiras”, explica.
Ticianne Gomes
Gerente de produção artesanal da Ceart

A artesã Maria José de Sousa, 46 anos, anseia pelas formações que virão nos próximos meses. “A moça falou que vamos estudar mais coisas, que vai vir uma pessoa para nos ensinar, e tô botando fé que podemos crescer”, avalia.

Desde os 10 anos ela trabalha com a palha da carnaúba. Aprendeu com a mãe e já passou para a filha de 26 anos, que, atualmente, também tira a renda deste ofício.

maria josé
Legenda: Maria José recebe a carteirinha do artesão
Foto: Jorge de Moura

“Quando eu aprendi, fazia mesmo era o chapéu. Agora, com esse movimento que a dona Célia arrumou com seu Jorge, fui tentar fazer bolsa, deu certo, mas sou especialista mesmo é em chapéu”, explica.

Os preços das peças variam, simbolicamente, de R$0,70 a R$2,50, mas estão passando por revisão para melhor valorizar o trabalho das artesãs.
“É preciso pensar na melhoria dessas famílias, a comunidade é muito carente e tem que dar qualidade de vida”, aponta Célia.

Além das artesãs contempladas, já existem outras em fase de testes de habilidade pela Ceart para receberem as carteirinhas. Alguns homens dedicados à tipologia do couro também devem ser reconhecidos, ampliando ainda mais a rede artesanal deste município cearense.


 

Assuntos Relacionados