Filhos da região do Cariri crescem juntos à mostra multicultural
Artistas locais que começaram na Mostra Sesc Cariri de Culturas como meros espectadores, hoje olham para o evento a partir do palco
Fotos: Jr Panela
Aos 15 anos de idade, Jordânia Martins talvez não imaginasse que, quando chegasse aos 27, subiria ao palco da 20ª Mostra Sesc Cariri de Culturas, em sua cidade natal, o Crato, para lançar o primeiro disco da carreira com as colegas Géssica Alencar e Ranny Ramos, da banda de reggae Nazirê. É que naquela época a cratense era apenas uma espectadora fiel. "Aquilo pra mim era incrível, porque a gente se sentia junto dos nossos, num verdadeiro encontro de tribos", recorda a cantora sobre a sensação de assistir ao festival com os amigos.
O tempo passou, ela entrou profissionalmente para o ramo musical, e em 2015 fez a primeira apresentação com as colegas da Nazirê num palco da Mostra. "Uma das nossas críticas era que vinha muita coisa de fora e pouca coisa daqui pra mostrar pra quem era de fora. Mas dessa vez estamos com o lançamento do CD "A vitória vai chegar", a concretização de uma coisa que o Sesc abriu portas (em 2015), o Sesc deu oportunidade", pontua Jordânia.
Outro grupo musical que lançou disco nessa 20ª edição foi o Algarobas. "José" é o primeiro álbum da banda criada há cinco anos, que mescla os estilos de rock eletrônico, progressivo, post rock e grunge.
De curioso, tem histórias como a de José Ribamar Cardoso Junior, que assistiu a um show do atual colega de banda Daniel Batata com o grupo Dr. Raiz, na Mostra, quando tinha apenas14 anos, e hoje divide com ele o palco. Participar do evento com estrutura de som e iluminação impulsiona a profissionalização dos grupos, segundo Junior, "o público vê a banda tocando nesse naipe, isso valoriza o artista local", diz ele.
Assim como as três cantoras da banda Nazirê e o integrante da Algarobas, a atriz Lucivânia Barbosa começou cedo a frequentar o evento. Não devia ter 16 anos quando passou a procurar os espetáculos que mais lhe interessava enquanto ainda estava em formação. Hoje, aos 28, orgulha-se de ter participado de pelo menos três edições como artista, duas delas com trabalhos próprios, e uma em parceria com a Cia de Dança do bailarino Alysson Amâncio, outro que admite grande contribuição do evento para a região.
"A cada ano vinham várias pessoas, espetáculos e várias possibilidades artísticas. A Mostra criou apreciadores de trabalhos conceituais, não só de entretenimento, e gerou uma plateia com olhar apurado para a receber o que era feito na cidade", diz Alysson.
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Crescimento coletivo
Nesta 20ª edição, Lucivânia participou com contação de histórias a partir do livro "Mevivekyume e a magia da profecia", da autora juazeirense Suziy Bandeira. "Artistas do Cariri fazem parte desse evento como qualquer outro artista", reforça.
Para Lucivânia, numa mostra diversa como essa, "quando você vê o seu trabalho fazendo parte, você sente que está num caminho interessante enquanto artista". E o crescimento, aponta, não é só individual. "Mesmo que seja pontual, atividades como essas modificam a visão de mundo das crianças e das pessoas que assistem e não têm contato direto com esse tipo de produção", atenta.
* A jornalista Roberta Souza viajou ao Cariri a convite do Sesc Ceará