Público da 20ª edição da Mostra Sesc Cariri de Culturas confirma importância do evento

Encerrado na noite desta terça-feira (20), festival primou por ações gratuitas em 26 municípios da Região Sul do Ceará

Escrito por Roberta Souza , roberta.souza@diariodonordeste.com.br

Célia tem uma música preferida de Luiz Gonzaga e ela se chama Asa Branca. Ouvir esse clássico no meio da praça da Rffsa do Crato, em pleno entardecer de domingo, foi praticamente um presente para a cearense. E quem lhe deu foi o grupo pernambucano Magiluth, enquanto encenava a peça em homenagem ao Rei do Baião, selecionada via edital da 20ª Mostra Sesc Cariri de Culturas. A apresentação foi uma das cerca de 300 ações gratuitas que tomaram conta de 26 municípios da Região Sul do Ceará nos últimos cinco dias.

Luiz

 

Tal como Célia, Maria de Lourdes se entregou a pouco mais de uma hora desse teatro de rua, revelando para um dos atores que seu cantinho de terra no mundo era a cidade de Juazeiro do Norte. Revisitando as próprias memórias, as mulheres adultas encontraram em si as crianças de outrora, e permitiram-se viver, ainda que em pouco tempo, experiências simbólicas.

Não precisou muito. Sair de casa por alguns instantes e encontrar a cultura pulsando ao ar livre pareceu suficiente. Mas às vezes nem é necessário ir às ruas. Do próprio terreiro, no Sítio Boa Vista, Mestre Aldenir conduziu uma das festas da terceira noite de Mostra. Lá, por volta das 19 horas, não tinha panela no fogo, família em frente à televisão nem ninguém com o olho na tela do celular.

Toda atenção era dedicada aos grupos de tradição convidados: o Reisado de Paus de Potengi e o Maneiro Pau de Mestre Cirilo, além do anfitrião, claro. Aos gritos e gargalhadas, pessoas de todas as idades revisitavam a infância com as brincadeiras trazidas para o centro do terreiro. E mesmo quem via a apresentação por detrás das cercas, permitia-se encontrar com as cores, os sons e os movimentos de cada manifestação da cultura popular. "Essa Mostra faz quem é véi ficar novo!", reconheceu Mestre Aldenir ao observar o bom resultado da terreirada. "Chega o coração fica bem pequenininho", emocionou-se.

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Patrimônio

Pessoas como ele, cuja vida é quase inteiramente dedicada à cultura, ajudaram a construir o Cariri que pode ser reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade. A ideia é ambiciosa e só podia vir de uma mente brilhante como a de Alemberg Quindins, criador da Fundação Casa Grande.

"Agora faz-se necessária a coroação do Cariri. Vamos colocar a coroa na cabeça da Chapada do Araripe", afirmou na abertura do Seminário Arte e Pensamento.

Esse projeto de reconhecimento já está sendo discutido há dois anos. O secretário da Cultura do Estado, Fabiano Piúba, é um dos que está se debruçando na perspectiva de parcerias e da construção de um dossiê: "A gente entende que é um debate muito importante. Estamos falando de uma região que tem patrimônio cultural e natural formidáveis. Pensar em patrimônio cultural para o Cariri tem que estar associado ao patrimônio natural".

seminário

Da plateia, estudantes do 1º ano do Ensino Médio da Escola Maria Violeta Arraes de Alencar Gervaiseau, participavam atentos da discussão que, vindo à prática, pode redefinir muitas coisas no futuro deles. Carlos Gabriel e Andreza Raquel, ambos de 15 anos, e estudantes de Áudio e Vídeo, fizeram esforço para entender o português de Portugal dos convidados Conceição Lopes (Universidade de Coimbra) e Tiago Mota Saraiva. Mas, ao fim, consideraram até temas para a feira de ciências do colégio a partir das discussões travadas ali.

Quem vem de fora reconhece de imediato a força da Mostra e a capacidade criativa da região de se reinventar. Fábio Trummer, vocalista da banda pernambucana Eddie, que esteve pela segunda vez no evento em seis anos, destacou a importância do Cariri para o grupo que, em 2019, completa 30 anos de atuação.

"Quando você tem um festival numa região tão representativa culturalmente, principalmente a poesia dessa região, é muito forte, é muito incrível, é uma referência pra gente. Escritores, poetas, a música, até os movimentos políticos, sociais, é sempre uma referência grande para o nosso trabalho. É desse tipo de entusiasmo e desse tipo de sociedade que a música da gente se alimenta".

Se toca o Brasil, o Cariri é capaz de tocar o mundo. É tudo uma questão de direcionar os olhares para cá, e, nesse sentido, a Mostra Sesc vem cumprindo o seu papel.

* A jornalista Roberta Souza viajou ao cariri a convite do Sesc Ceará
Fotos: Jr Panela

 

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