Filhos da região do Cariri crescem juntos à mostra multicultural

Artistas locais que começaram na Mostra Sesc Cariri de Culturas como meros espectadores, hoje olham para o evento a partir do palco

Escrito por Roberta Souza , roberta.souza@diariodonordeste.com.br

NaziréFotos: Jr Panela

Aos 15 anos de idade, Jordânia Martins talvez não imaginasse que, quando chegasse aos 27, subiria ao palco da 20ª Mostra Sesc Cariri de Culturas, em sua cidade natal, o Crato, para lançar o primeiro disco da carreira com as colegas Géssica Alencar e Ranny Ramos, da banda de reggae Nazirê. É que naquela época a cratense era apenas uma espectadora fiel. "Aquilo pra mim era incrível, porque a gente se sentia junto dos nossos, num verdadeiro encontro de tribos", recorda a cantora sobre a sensação de assistir ao festival com os amigos.

O tempo passou, ela entrou profissionalmente para o ramo musical, e em 2015 fez a primeira apresentação com as colegas da Nazirê num palco da Mostra. "Uma das nossas críticas era que vinha muita coisa de fora e pouca coisa daqui pra mostrar pra quem era de fora. Mas dessa vez estamos com o lançamento do CD "A vitória vai chegar", a concretização de uma coisa que o Sesc abriu portas (em 2015), o Sesc deu oportunidade", pontua Jordânia.

Outro grupo musical que lançou disco nessa 20ª edição foi o Algarobas. "José" é o primeiro álbum da banda criada há cinco anos, que mescla os estilos de rock eletrônico, progressivo, post rock e grunge.

De curioso, tem histórias como a de José Ribamar Cardoso Junior, que assistiu a um show do atual colega de banda Daniel Batata com o grupo Dr. Raiz, na Mostra, quando tinha apenas14 anos, e hoje divide com ele o palco. Participar do evento com estrutura de som e iluminação impulsiona a profissionalização dos grupos, segundo Junior, "o público vê a banda tocando nesse naipe, isso valoriza o artista local", diz ele.

Assim como as três cantoras da banda Nazirê e o integrante da Algarobas, a atriz Lucivânia Barbosa começou cedo a frequentar o evento. Não devia ter 16 anos quando passou a procurar os espetáculos que mais lhe interessava enquanto ainda estava em formação. Hoje, aos 28, orgulha-se de ter participado de pelo menos três edições como artista, duas delas com trabalhos próprios, e uma em parceria com a Cia de Dança do bailarino Alysson Amâncio, outro que admite grande contribuição do evento para a região.

"A cada ano vinham várias pessoas, espetáculos e várias possibilidades artísticas. A Mostra criou apreciadores de trabalhos conceituais, não só de entretenimento, e gerou uma plateia com olhar apurado para a receber o que era feito na cidade", diz Alysson.

Leia mais: Olhares sobre o Cariri

Crescimento coletivo

Nesta 20ª edição, Lucivânia participou com contação de histórias a partir do livro "Mevivekyume e a magia da profecia", da autora juazeirense Suziy Bandeira. "Artistas do Cariri fazem parte desse evento como qualquer outro artista", reforça.

dança

Para Lucivânia, numa mostra diversa como essa, "quando você vê o seu trabalho fazendo parte, você sente que está num caminho interessante enquanto artista". E o crescimento, aponta, não é só individual. "Mesmo que seja pontual, atividades como essas modificam a visão de mundo das crianças e das pessoas que assistem e não têm contato direto com esse tipo de produção", atenta.

 

* A jornalista Roberta Souza viajou ao Cariri a  convite do Sesc Ceará 

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