3 maneiras de tocar na LGBTfobia

Falar sobre preconceito nunca é fácil, mas no teatro tudo fica mais forte

Legenda: Espetáculo terá apresentações em Fortaleza, no Dragão do Mar, e no Crato, no Centro Cultural do Cariri
Foto: Dalton Valério / Divulgação

LGBTfobia é uma constante, como uma fruta podre que você insiste em preservar na geladeira, não se sabe porquê. Muitas vezes, ela está ali há tanto tempo, que seus olhos nem a nota, mas ela segue lá, cada vez pior, contaminando tudo silenciosamente. É… o preconceito também tem essa cara. A violência muitas vezes é sutil. 

Sutil como um apelido bobo, uma piada sem graça na escola, um riso de deboche. Na escola, a LGBTfobia começa assim, com crianças ensinadas a darem pequenas cutucadas até isso se tornar algo, realmente, grande, físico, agressivo, até o preconceito virar uma característica sua. Esse ambiente de formação cidadã sempre está repleto de frutas podres, só que muitas vezes acham que a podridão está naquela fruta diferente do resto do cacho. 

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Imagina que você começa a vida escolar com 3 anos e vai até os 17, de maneira geral. São pelo menos 14 anos de sua vida sofrendo bullying homofóbico. Depois, quando sai da escola, se torna um adulto, encontra outras facetas da LGBTfobia pelo mundo, nas ruas, no trabalho, na família, na política, no Estado — isso, quando tudo não começa dentro de casa. 

Nos sobra a arte, ainda bem. É no palco que a gente consegue ter um pouco mais de domínio sobre quem somos, o que queremos, sobre os nossos direitos, nossas vozes, nossas dores, nossas alegrias. É por isso que nessa coluna, indico um espetáculo que tem arrastado prêmios falando exatamente sobre essas frutas podres que, enquanto sociedade, insistimos em manter. 

A peça 3 Maneiras de Tocar no Assunto é um manifesto artístico que aborda questões ligadas à diversidade sexual, mas principalmente sobre LGBTfobia nos dias de hoje. Escrito e atuado por Leonardo Netto, com direção de Fabiano Dadado, o espetáculo é dividido em 3 solos curtos: “O homem de uniforme escolar”, “O homem com a pedra na mão” e “O homem no Congresso Nacional”. 

'3 maneiras de tocar no assunto' é escrito e atuado por Leonardo Netto e tem direção de Fabiano Dadado
Legenda: "3 Maneiras de Tocar no Assunto" é escrito e atuado por Leonardo Netto e tem direção de Fabiano Dadado
Foto: Dalton Valério / Divulgação

A fim de abranger três instâncias distintas — a escola, a lei e o Estado —, a peça traz textos com interlocução direta com o público, fazendo a plateia se questionar sobre o há de tão incômodo na homossexualidade ou por qual motivo ela sempre foi punida. Ótimo programa pra levar aquela tia preconceituosa, chamar o amigo que, mesmo depois de velho, segue com as mesmas piadas da escola, a mãe, o pai, o marido… 

As apresentações são gratuitas e 100% acessíveis, no Teatro Dragão do Mar, neste fim de semana, em meio às comemorações de aniversário do centro cultural, nos dias 27 e 28, às 19h. No dia 10 de maio, o grupo segue para o Crato, para apresentar o solo no Centro Cultural do Cariri, às 18h30. 

Vão ao teatro, toquem no assunto e limpem a geladeira. 

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor

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