Exposição em Juazeiro do Norte reúne sete artistas cearenses para questionar padrões impostos à arte queer
Mostra "Imaginários Queer" fica disponível ao público no CCBNB Cariri até 10 de janeiro e deve seguir para São Paulo no 1º semestre de 2025
A partir de um olhar crítico à relação entre a produção artística queer e os sistemas mercadológicos das artes visuais, os curadores e artistas Eduardo Bruno e Waldírio Castro concretizaram a exposição “Imaginários Queer”, promovida a partir da Plataforma Imaginários.
A segunda edição da iniciativa reúne obras de artistas cearenses LGBTQIAPN+ em diferentes suportes e que borram as fronteiras entre o figurativo e o abstrato. Em cartaz em Juazeiro do Norte até 10 de janeiro de 2025, tendo sido recentemente prorrogada, a exposição tem previsão de chegar em São Paulo também no ano que vem.
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“A exposição surgiu em 2022 com sua primeira edição no Museu de Belas Artes de Xativa, na Espanha”, inicia Waldírio. Na ocasião, outros sete artistas do Estado foram selecionados para compor a estreia do projeto, que circulou no mesmo formato em Quixadá, no Ceará, em 2023.
A iniciativa da mostra, explica Eduardo, tem caráter bianual. “A gente trabalha sempre na perspectiva de fazer uma edição dentro do Ceará, principalmente no interior, e uma edição fora”, contextualiza o curador.
A proposta deste biênio — que abrange Juazeiro do Norte e São Paulo —, define Waldírio, teve “um disparador curatorial que reflete a produção queer/transviada a partir dos possíveis atravessamentos entre a figuração e o abstrato”.
Como explica Eduardo, os curadores já vem construindo reflexões sobre o “lugar da arte queer” no sistema da arte como um todo. O figurativo, aponta ele, foi historicamente “muito apreciado por artistas queers na justificativa de que não existiam imagens de pessoas queer na história da arte”.
“Certamente isso foi e é ainda uma coisa muito importante. Mas, ao mesmo tempo, o sistema da arte foi criando um entendimento do que seria ‘arte queer’, tentando criar códigos, quais seriam os processos de figuração, do que ela trata, como ela trata. Isso também pode se tornar uma armadilha e um problema. O direito ao figurativo é um direito importante, assim como o direito ao abstrato”
O interesse, ressalta Eduardo, é mais pelas bordas entre as duas formas de arte. “A gente não quis trabalhar a ideia do figurativo e do abstrato como oposição, mas na perspectiva de pensar o queer como espaço de experimentação e de criação não só no que se pensa de gênero e sexualidade, mas também de poéticas de vida e representação de mundo”, reflete.
Essa escolha por “andar nas bordas mais do que ocupar um espaço fixo” é evidenciada nas obras dos artistas selecionados, que trazem o jogo entre figurativo e abstrato em fotografia, instalação, pintura e escultura, por exemplo.
Na atual edição, foram selecionadas obras de Anderson Morais, Bárbara Banida, Antônio Breno, Marília Oliveira, Charles Lessa, Júlia Kariri e Pedra Silva. “Apostamos em um olhar da produção em artes visuais no Ceará com outras centralidades poéticas”, resume Waldírio.
A exposição “Imaginários Queer” é uma das ações que compõe a chamada Plataforma Imaginários, criada em 2018 e que realiza diferentes iniciativas ligadas às artes visuais, performance e outras linguagens.
Ainda no escopo da exposição em Juazeiro do Norte, a plataforma irá lançar o livro “Entre a desimaginação e a reimaginação: perspectivas queer nas artes contemporâneas cearenses”. “É a dissertação de mestrado do Waldirio, que fala sobre arte e censura às artes queer e será lançada no começo do ano”, adianta Eduardo.
2ª edição da exposição “Imaginários Queer”
- Quando: em cartaz até 10 de janeiro de 2025
- Onde: CCBNB Cariri (rua São Pedro, 337 - Centro, Juazeiro do Norte)
- Entrada gratuita.
- Mais informações: @imaginarios_arte