Cineteatro São Luiz recebe mostra gratuita com filmes sobre impacto da violência urbana em Fortaleza
Curta-metragem produzido por jovens do Bom Jardim e documentário feito pelo CICV trazem reflexões sobre os efeitos da violência na vida dos moradores da Capital
Dois filmes que ilustram os efeitos da violência na capital cearense serão exibidos em uma mostra especial e gratuita no Cineteatro São Luiz, nesta terça-feira (21), às 18h. O evento, intitulado “É mais do que se vê”, é uma parceria entre o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e o Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) e tem como intuito colaborar com a elaboração de respostas em relação às diversas formas de violência vivenciadas na Capital.
Na ocasião, serão lançados o curta-metragem “Uz Crias na Periferia”, produzido por um grupo de 15 jovens atendidos pelo CCBJ, e o documentário “É mais do que se vê: os impactos invisíveis da violência armada”, produzido pelo CICV. Haverá, ainda, uma roda de conversa sobre as intersecções entre Cultura, Educação e Direitos Humanos.
Participam do momento Alexandre Formisano (chefe da Delegação Regional do CICV), Socorro França (secretária de Direitos Humanos do Ceará), Luisa Cela (secretária de Cultura do Ceará), Jefferson de Queiroz Maia (secretário Municipal de Educação, Luiz Fábio Silva Paiva (coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará) e Girliany Costa (mãe de Douglas, jovem que está desaparecido desde 2019).
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Periferia como público prioritário da política cultural
Realizado pelo Núcleo de Articulação Técnica Especializada (NArTE) do Centro Cultural Bom Jardim, o curta "Uz Crias na Periferia" é resultado de um projeto mais amplo, que beneficiou 15 adolescentes de 13 a 17 anos do bairro com ações de educação, saúde, atendimento psicossocial e formação cultural. A produção foi feita entre março e maio deste ano e teve como diretora a gerente de comunicação do CCBJ, Isabel Mayara.
Segundo o gestor executivo do CCBJ, Marcos Levi Nunes, a produção acompanha a diretriz da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE) que determina que pessoas em situação de vulnerabilidade social (em drogadição, em área sem saneamento básico, em circuito de violência, pessoas trans, negras e outras) são público prioritário da política cultural do Estado.
A produção audiovisual, portanto, não é a primeira; o CCBJ, por ser o único equipamento público estadual localizado em uma periferia, tem como política permanente a formação de jovens do bairro, com atividades em diversas áreas da cultura. O filme é, porém, o primeiro feito através da parceria inédita com o CICV – que nasce a partir do entendimento de que a cultura também é meio de combate à violência.
Costumeiramente, quando a sociedade pensa em violência, pensa em polícia, mas a própria polícia tem apontado que só ela não dá conta. Investir em cultura traz muitas possibilidades de reduzir o número de assaltos, o número de homicídios. No mundo inteiro, formações de cultura e arte atuam como um grande trampolim social para superar o problema da violência."
O curta feito pela equipe do CCBJ, que conta a história de uma menina negra que vive no Bom Jardim e sofre diariamente com o racismo, ressalta a arte como um importante fator de transformação social. Segundo Marcos Levi, o tema foi escolhido pelos próprios alunos, que decidiram falar das brincadeiras e do dia a dia com os amigos, mas também da violência e dos desafios que enfrentam.
"O que me parece mais importante nessa produção artística é os meninos se sentirem valorizados e respeitados no seu olhar sobre o mundo", afirma o gestor do CCBJ. "Esses meninos conseguirem produzir um curta e vê-lo sendo exibido no São Luiz é um salto que permite acesso à cidadania. Isso é capaz de mudar a vida de uma pessoa", conclui.
As diversas faces da violência armada
Filmado no ano passado, o documentário "É mais do que se vê: os impactos invisíveis da violência armada" revela as consequências da violência urbana que, muitas vezes, as estatísticas não mostram.
Com depoimentos de seis pessoas que foram diretamente impactadas pela violência armada em Fortaleza, a obra aborda aspectos como saúde mental, impacto econômico e social, além de retratar histórias de famílias que perderam seus entes queridos.
O chefe do escritório do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Fortaleza, Mario Gutilla, destaca que o documentário vem para mostrar, além da dor, a resiliência, e refletir sobre as respostas oferecidas pelo Estado.
“É preciso que haja a construção de uma rede de paz para se desenvolver um futuro melhor, para ser uma rede de apoio aos jovens moradores que são testemunhas de situações difíceis, que afetam a vida deles. Não é uma resposta fácil, que só a segurança pública pode dar. Tem que ser uma resposta muito articulada”, explica.
Conheça a sinopse dos filmes
Uz Crias na Periferia
Maria Clara é uma jovem negra, estudante do Ensino Médio e moradora do Bom Jardim, periferia de Fortaleza. Convive diariamente com o racismo. No enfrentamento diário dessa violência, Maria Clara, seu irmão Pedro e seus amigos provocam uma mudança na comunidade por meio da arte.
Duração: 13 minutos
Classificação indicativa: Livre
É mais do que se vê: os impactos invisíveis da violência armada
O que acontece quando uma pessoa desaparece, é forçada a se deslocar de sua comunidade, tem sua saúde mental abalada ou encontra dificuldades para acessar serviços públicos essenciais como unidades de saúde e escolas? O filme revela as consequências da violência armada a partir de seis histórias de vida e reúne especialistas e autoridades que abordam as ações em curso no Ceará para lidar com essa difícil realidade.
Duração: 54 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Serviço
Mostra “É mais do que se vê” – Lançamento do curta-metragem “Uz Crias na Periferia” e do documentário “É mais do que se vê: os impactos invisíveis da violência armada”
Quando: Terça-feira, 21 de maio, às 18h
Endereço: Cineteatro São Luiz (R. Major Facundo, 500 - Centro)
Entrada gratuita (mediante apresentação de documento com foto)