Após resgate de canções inéditas com Belchior, Fagner projeta homenagem ao ex-parceiro
“Posto em Sossego” e “Alazão” (que também traz assinatura de Fausto Nilo) foram criadas nos anos 1970 e estavam nos arquivos da Ditadura Militar
"Hoje foi um dia especial". É assim que Raimundo Fagner define o reencontro com uma bonita história do passado. Canções inéditas de Belchior (1946-2017) foram encontradas em arquivos da Ditadura Militar. Das sete composições resgatadas, duas contam com parceria do cantor.
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“Posto em Sossego” e “Alazão” (que também traz assinatura de Fausto Nilo) datam do início dos anos 1970. A agenda de compromissos de Fagner foi ainda mais agitada nessa-segunda-feira (23). Afinal, além de detalhes da criação das músicas, imprensa e fãs querem saber qual será o destino destas preciosidades.
A memória é aliada de Fagner diante da grata surpresa. “Lembro exatamente quando fizemos, no quitinete onde morávamos no Rio de Janeiro. Os três na cama, os papeis...”, descreve os detalhes. Outro fator comemorado, aponta, é o fato de as melodias das canções estarem integralmente vivas em sua cabeça.
O compositor revela que já idealizava a criação de um disco com músicas do ex-parceiro. Reencontrar este acervo pode ser um adicional a esta futura homenagem, reflete. “Existe o projeto de fazer um trabalho de Belchior. Isso vem somar, pelo fato de ter essas músicas inéditas”, descreve.
Celebrar a união
Fagner aponta que, ultimamente, tem visto divulgada uma certa 'rixa' com o Belchior. A descoberta de “Posto em Sossego” e “Alazão” promete dissipar qualquer impressão nesse sentido.
Será uma maneira de pararmos com isso e apenas apresentar a coisa do trabalho que sempre fizemos. Acenamos muito a importância da nossa parceria e do Ceará para a música de uma maneira em geral. Da relação artística que tive com ele que é muito forte. Estou muito feliz, mesmo, em poder receber esta notícia.
O filho de Orós prefere comemorar o resgate das canções e dividir esta alegria na entrevista. “Isso mostra a importância do Belchior, um artista extraordinário. E a nossa parceria ficou muito marcada em nosso nome. Espero que eu possa fazer alguma coisa para reavivar essa memória, da importância que nossa parceria tem para o Ceará e a música cearense. Tentarei fazer o melhor possível. Agora é marcar estúdio e cair dentro”, atesta.
Sem parar
A redescoberta chega num instante prodigioso para o cearense. Após lançar o elogiado "Serenata" em dezembro do ano passado, Fagner segue com uma série de projetos encaminhados. Ele trabalha um disco com Elba Ramalho de homenagem a Luiz Gonzaga (1912-1989). “Já devíamos a um bom tempo”, frisa.
Outras orgulhosas parcerias estão chegando. De um ano para cá, Fagner tem se debruçado na gravação de faixas inéditas assinadas por Caio Sílvio, de quem já cantou o sucesso “Noturno”. Fausto Nilo, parceiro mais longevo segundo o próprio cantor, também marca presença em futuros lançamentos.
Focado no estúdio e de olho na retomada gradual dos eventos, Fagner prevê um projeto de apresentações com o maestro João Carlos Martins que deve passar por Rio de Janeiro e São Paulo. A possibilidade de o espetáculo também passar por Fortaleza está nos planos.
Censura
As canções de Belchior aparecem no acervo digitalizado do Arquivo Nacional. As letras foram enviadas entre 1971 e 1979 à Divisão de Censura de Diversões Públicas, órgão criado pela repressão para monitorar as produções artísticas.
Perguntado acerca daquele momento, Fagner descreve que chegou a ter uma música censurada quando Elis Regina gravou "Cavalo Ferro" (parceria com Ricardo Bezerra), mas não chegou a ser perseguido como outros nomes do período.
"Um verso lá, por causa de 'Brasília'. Eles censuraram a palavra, mas mesmo assim a Elis cantava como queria nos shows. Ela era tinhosa, então, na hora do show ela cantava. Não fui perseguido. Tiveram artistas muito mais perseguidos, o Geraldo Vandré, Taiguara, Chico, Gonzaguinha, esses eram os pratos prediletos. Essas eu nem lembrava que tinham ficado por lá", finaliza Raimundo Fagner.