Fagner flerta com os clássicos da seresta em novo álbum

O cantor cearense amplia seu repertório para além do romantismo popular em "Serenata", interpretando Pixinguinha, Cartola, dentre outros, em sua estreia na gravadora Biscoito Fino

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@svm.com.br
Legenda: Fagner homenageia a memória do irmão Fares com 12 clássicos da tradição seresteira
Foto: Jorge Bispo

Em 2020, Raimundo Fagner chegou aos 71 anos sem deixar de tocar sua carreira musical com ares de "primeira vez". Além de gravar um dueto (virtual e) inédito com Nelson Gonçalves para a abertura de seu novo disco, o cantor cearense faz sua estreia na gravadora Biscoito Fino com o lançamento de "Serenata". Afinado à reputação do próprio selo (o mesmo de outros nomes fortes da MPB, como Chico Buarque e Maria Bethânia), o disco sai sofisticado e transporta o ouvinte para o clima "seresteiro" com 12 clássicos das serestas. 

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"Serenata" está disponível nas plataformas digitais desde a última sexta (18). O repertório é afetivo e faz referência à memória de Fares Lopes. Irmão mais velho de Fagner, Fares era seresteiro e foi parceiro de Evaldo Gouveia (1928-2020) no tempo em que o cantor cearense ainda sonhava em seguir carreira musical.    

O disco é aberto com "Serenata", de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa. Para a versão, a produção, assinada por José Milton, possibilitou um dueto virtual entre Fagner e Nelson Gonçalves (1919-1998), aproveitando uma voz gravada por Nelson em 1991. Na sequência, "Lábios que beijei" dá o tom do repertório. Durante a versão, Fagner entra no clima de "sofrimento elegante" que a seresta sugere e o disco passa a entregar bem, ao ouvinte, aquilo que se propõe.

"As Rosas não falam", clássico de Cartola, une o tom dramático da voz de Fagner à beleza da composição, envolvente mesmo nos trechos em que o cearense não canta e os instrumentos solam sem deixar essa beleza se perder. O clássico "Rosa" é um destaque natural do disco e a regravação faz seu papel social de manter a obra de Pixinguinha no imaginário dos ouvintes de agora. A versão de "Valsinha", de Chico Buarque e Vinícius de Moraes, cumpre o mesmo propósito. 

Perto do fim da escuta, "Chão de Estrelas", de Silvio Caldas e Orestes Barbosa, hino da seresta, é presença obrigatória em qualquer tributo ao estilo. E "Mucuripe", composição de Fagner com Belchior, ganha uma versão muito delicada e intensa, como se o artista cearense quisesse entregar sua própria obra à alma do disco e da tradição seresteira. 

(Disco)

Serenata
Raimundo Fagner

Biscoito Fino
2020, 12 faixas
R$ 54 (preço médio)

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