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Sob ameaça de rompimento no Estado, aliança PT-PDT governa 14 cidades cearenses

Especialistas chamam atenção para importância de manter "cabos eleitorais" unidos, ao passo que não veem necessariamente um racha político imediato no interior

Escrito por Felipe Azevedo , felipe.azevedo@svm.com.br
RC, Izolda, Camilo e Cid em evento de campanha
Legenda: Aliança entre PT e PDT passa por desgaste uma vez que petistas têm preferência pela reeleição de Izolda Cela, enquanto a cúpula do PDT quer indicar Roberto Cláudio à sucessão.
Foto: Divulgação

Enquanto a maior aliança política do Estado permanece sob ameaça de rompimento no cenário de definição do nome que concorrerá ao Governo do Ceará, prefeitos e vice-prefeitos do PT e PDT governam 14 cidades cearenses.

O quadro da sucessão estadual ainda indefinido mantém os acordos em aberto, mas sob a ótica de especialistas e também dos gestores, uma possível separação entre os dois partidos não deve mudar imediatamente a composição da política das gestões no interior. 

No atual contexto de disputa pela escolha de quem concorrerá, enquanto o prefeito de Fortaleza, José Sarto, e vereadores fazem movimentações em defesa de Roberto Cláudio, deputados estaduais e prefeitos de outras cidades cearenses têm manifestam a preferência pela pré-candidatura de Izolda Cela. 

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Aliados a nível estadual e formando maioria na base do Governo, as siglas compõem a primeira e segunda maior bancada na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE). Enquanto o PDT tem 14 deputados, o PT conta com 7 parlamentares.

De acordo com análise, essa composição e a relação dentro do Parlamento Estadual deverá ser o cenário mais afetado, caso haja rompimento. 

O entrave entre PT e PDT ocorre ainda às vésperas das Eleições 2022. De um lado, os principais agentes petistas pressionam para que a governadora Izolda Cela (PDT) seja a candidata à reeleição, e de outro, a cúpula pedetista prefere que o indicado seja o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio

O impasse gera, além do desgaste, uma perspectiva de que, caso não haja um acordo, os dois partidos poderão concorrer já no primeiro turno. O deputado federal e vice-presidente nacional do PT, José Guimarães, chegou a declarar que caso a escolhida não seja Izolda o partido lançará candidato próprio. 

A possibilidade de rompimento da aliança estadual, no entanto, não deve interferir necessariamente de forma imediata e direta na relação entre prefeitos e vice-prefeitos que governam o interior do Ceará.

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Análise

Para o professor universitário e cientista político Cleyton Monte, essa correlação de forças seria muito mais desgastada no âmbito do Parlamento Estadual, uma vez que o "sentido de partido" nos municípios é "praticamente inexistente". 

"As pessoas (no interior) falam muito mais em grupos políticos (...) falam que apoiam ou não o grupo do prefeito, dando nomes às pessoas e famílias. O partido é muito mais um acessório nesse jogo", explica o especialista. 

Cleyton Monte atenta ainda para o fato de que, mais importante do que os acordos estaduais, na visão de gestores municipais, é manter a maioria na Câmara de Vereadores. Isso, porque os prefeitos precisam aprovar no Parlamento os projetos de autoria do Executivo.

"Um prefeito que, por exemplo, é do PDT e tem aliança com o PT, ele precisa de maioria na Câmara Municipal. Será que vale a pena esse rompimento e perder a maioria?", questiona o especialista. 

Apesar disso, diz ainda o professor, é preciso estar atento às possíveis reconfigurações na administração pública nas esferas estadual e municipal. 

"É uma questão muito delicada. Rompimento, quando se está falando de máquina administrativa, se está falando de muitos cargos", salienta o professor.

Enfraquecimento da base

A cientista política Monalisa Torres, também da Universidade Estadual do Ceará, lança uma discussão que vai para além das consequência de gestão nos municípios. 

Para a professora, um possível rompimento da aliança antes das eleições não iria, necessariamente, desestruturar o esquema na administração pública municipal.

Mas, por outro lado, enfraqueceria o grupo governista que, independente de filiação, atuaria nos bastidores com interesses particulares. 

"Se por um acaso essa aliança se romper, eu acho que seria um cenário relativamente difícil, porque o eleitorado do grupo governista se racharia e abriria vantagem para oposição", destaca. 

Na visão da especialista, os prefeitos são "os principais cabos eleitorais no interior" e é tarefa dos líderes políticos a nível estadual manter essa base "coesa". 

O que dizem os gestores

Para o prefeito Guilherme Saraiva (PDT), de Barbalha, uma das principais cidades da Região do Cariri, "a ideia" é que ele permaneça com a aliança do vice-prefeito Vevé Siqueira, do PT. 

"A gente segue  o grupo do ex-governador Camilo Santana (PT) e do (deputado estadual) Fernando Santana (PT), o que o grupo for destinado é o que a gente vai seguir, é a nossa base", argumenta o prefeito. 

Em Santana do Acaraú, o prefeito Meu Deus (PT) minimiza a discussão, mas não descarta a possibilidade de um rearranjo na administração caso a aliança se rompa no Estado. O vice-prefeito da cidade é Paulo Braz, do PDT. 

"A política é como um jogo, você vai pro campo e para a batalha. Hoje eu to trabalhando para o município, e quem quiser trabalhar, é nesses 45 dias", disse o prefeito.

Prefeito de Barbalha e ex-governador Camilo Santana
Legenda: De acordo com o prefeito de Barbalha, a intenção é manter a aliança com o PT no município independente das decisões estaduais. Guilherme saraiva é do PDT e diz que é liderado pelo ex-governador Camilo Santana, do PT.
Foto: Reprodução/Facebook

O prefeito de Saboeiro Marcondes Herbster (PT) não acredita no rompimento, mas caso ocorra, diz que a mudana não irá interferir na gestão municipal. Ele foi eleito em 2020 juntamente com a vice-prefeita Wylna Maria Braga (PDT) 

O caso de Aracati, no entanto, se destaca por já ter havido rompimento no município. Uma recente discussão e troca de acusações de agressão verbal entre o filho do prefeito Bismarck Maia (PDT) e a vice-prefeita Dra. Denise Menezes (PT) desfez a aliança na cidade. 

Procurada, a vice-prefeita afirmou que, "independente do que ocorra a nível estadual, aqui já tá rompido". Já o prefeito Bismarck Maia afirmou que o fim da parceria na cidade se deu por quebra de acordos. 

"Os municípios devem lutar por essa união, quando possível. No caso nosso, não foi possível", afirmou. 

Prefeitos e vice-prefeitos do PT e PDT no Ceará

Ibicuitinga 
Prefeito Franzé Carneiro (PT)
Vice-prefeito Francisco Nobre Falcão (PDT) 

Santana do Acaraú 
Prefeito Meu Deus (PT)
Vice-prefeito Paulo Sérgio Braz (PDT) 

Alcântara 
Prefeito Joaquim Freire (PDT)
Vice-prefeito Joaquim Benício (PT) 

General Sampaio 
Prefeito Chico Cordeiro (PT)
Vice-prefeito José Rubec Rodrigues (PDT)  

Saboeiro 
Prefeito Marcondes Herbster (PT)
Vice-prefeita Wylna Maria Braga (PDT) 

Barbalha 
Prefeito Guilherme Saraiva (PDT)
Vice-prefeito Vevé Siqueira (PT)  

Caridade 
Prefeita Maria Simone Fernandes (PDT)
Vice-prefeito Renato Timbó (PT) 

Caririaçu 
Prefeito Edmilson Leite (PDT)
Vice-prefeito Rosivan Leite (PT) 

Hidrolândia  
Prefeito Ires Moura Oliveira (PDT)
Vice-prefeito Iris Mororó (PT) 

Mucambo 
Prefeito Francisco Das Chagas Parente Aguiar (PDT)
Vice-prefeito Dr. Tarcísio Aguiar (PT) 

Sobral  
Prefeito Ivo Gomes (PDT)
Vice-prefeita Christianne Coelho (PT)  

Pacoti 
Prefeito Dr. Marcos (PT)
Vice-prefeita Maria Jerusa (PDT) 

Quixeré 
Prefeito Toinho do Banco (PT)
Vice-prefeita Francisca Silveira (PDT) 

Aracati 
Prefeito Bismarck Maia (PDT)
Vice-prefeita Dra. Denise Rocha (PT)  

 

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