PDT enfrenta pressão para saída de filiados opositores e busca por 'partido mais homogêneo' em 2026
A legenda enfrenta rachas internos desde 2022, quando houve impasse sobre quem iria liderar a chapa pedetista na disputa pelo Governo do Ceará
O Partido Democrático Trabalhista (PDT) no Ceará enfrenta um novo impasse após a adesão ao Governo Elmano. A questão a ser resolvida agora, de acordo com membros do partido, seria a permanência dos parlamentares da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) que marcam oposição ao Palácio da Abolição na sigla, uma vez que o quadro é visto como um dificultador para a unidade na chapa proporcional no pleito do próximo ano.
A falta de uniformidade, segundo algumas pessoas ouvidas, é também considerada por pretensos candidatos à Assembleia Legislativa, que hoje são vereadores de Fortaleza, como um fator de pouca atratividade para a chegada de candidatos competitivos e alinhados ao grupo governista. Assim, eles pleiteiam a antecipação da decisão pela saída dos correligionários interessados na movimentação antes da janela eleitoral de 2026.
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Pessoas envolvidas na discussão, e que foram ouvidas pela reportagem, definiram que o plano proposto seria “limpar” o partido e deixá-lo “mais homogêneo”, mantendo somente aqueles que têm planos de disputar cargos eletivos filiados à sigla brizolista. A legenda enfrenta rachas internos desde 2022, quando houve impasse sobre quem iria liderar a chapa pedetista na disputa pelo Governo do Ceará.
Na última segunda-feira (23), o presidente do PDT Ceará, o deputado federal André Figueiredo, promoveu duas rodadas de conversas com alguns dos partidários com assentos na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) e na Alece. A primeira ocorreu pela manhã, para que, em seguida, a última pudesse acontecer.
Reunião com vereadores
No encontro com vereadores, de acordo com fontes ouvidas pelo PontoPoder, estiveram discussões sobre a participação da sigla no Governo Evandro, a saída dos colegas com mandato na Alece e a possibilidade de liberação do vereador PP Cell sem a perda do mandato.
Esta última demanda seria um “ponto pacífico”, já que ele se coloca como opositor ao prefeito de Fortaleza e diverge da postura do partido — contudo, o modelo de saída ainda seria definido.
O momento foi compartilhado por André em suas redes sociais, com a publicação de uma foto. Nela, aparecem os vereadores Adail Junior, Gardel Rolim, Jânio Henrique, Kátia Rodrigues (licenciada), Luciano Girão, Marcel Colares e Paulo Martins.
O novo presidente do PDT Fortaleza, o ex-vereador Iraguassú Filho, também compareceu. PP Cell, por sua vez, não esteve junto aos demais membros do Parlamento municipal.
“Começamos a semana com uma proveitosa conversa junto à bancada pedetista da Câmara Municipal de Fortaleza, debatendo novas ideias para o desenvolvimento de Fortaleza, e alinhando nosso posicionamento em relação à gestão do prefeito Evandro Leitão”, escreveu o dirigente do PDT Ceará na legenda da publicação.
Pelo que apurou o Ponto Poder, os vereadores Gardel Rolim e Paulo Martins seriam dois dos interessados na despedida dos deputados estaduais antes da janela, por terem interesse em se lançar para o Legislativo estadual. Mas outros dois nomes também querem participar da nominata para a Alece.
A antecipação daria mais tempo para que a agremiação se preparasse para o ano que vem e não repetisse o cenário de 2022, em que os trabalhistas foram para o pleito rachados. Os citados não se pronunciaram até a última atualização deste texto.
À época da Eleição de 2022, os políticos vieram de uma divisão — entre a então governadora Izolda Cela e o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio — cuja intenção foi escolher quem encabeçaria a chapa. A ala dela brigou por uma candidatura apoiada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), mas a dele defendeu uma chapa independente.
O ex-gestor fortalezense venceu a disputa por espaço, mas perdeu para o governador Elmano de Freitas (PT) nas urnas. Atualmente, Roberto e Izolda já não estão mais nas fileiras do PDT.
Situação dos deputados
Ao contrário do encontro com os políticos da CMFor, não houve registro fotográfico do momento de Figueiredo com os deputados estaduais. Na oportunidade, o impasse pela permanência foi revelado e a saída antecipada dos que desejam foi sondada pelo dirigente.
Em resposta, os políticos demonstraram pouca vontade em realizar qualquer movimento antes do período permitido e sem que fossem punidos na perda dos mandatos que ocupam.
Entre os quatro deputados estaduais, ao menos uma desfiliação foi tratada como certa, a de Lucinildo Frota, que deve ir para o Partido Liberal (PL) na janela partidária. Cláudio Pinho, Antônio Henrique e Queiroz Filho, apesar de terem convites para assinar as fichas de filiação em outras legendas, não demonstraram certeza na decisão.
Uma das alternativas seria a desfiliação antecipada sem que houvesse a filiação a outra legenda, mas tal expediente foi recusado, porque poderia causar perda do mandato, conforme a legislação eleitoral vigente.
A expulsão dos membros que queiram se despedir do PDT também foi colocada, e, do mesmo modo, foi rejeitada. A concessão de cartas de anuência seria uma opção, porém o Estatuto do PDT veta esse recurso sem que haja chancela da Executiva nacional.
Um interlocutor ouvido levantou a chance de que a desobediência de membros do grupo a uma eventual recomendação do diretório de alinhamento ao Governo Elmano incorresse em expulsões por infidelidade partidária. A mesma pessoa, entretanto, disse achar pouco provável que a Executiva estadual realize tal manobra.
Apesar da insatisfação interna, foi noticiado, quando do anúncio do apoio ao governador Elmano, que, durante as negociações, o petista teria relatado “nenhum constrangimento” caso o PDT compusesse institucionalmente a gestão, “sem ter os deputados estaduais, mas tendo os federais”.
A bancada atual do PDT na Alece é composta por remanescentes da última baixa da agremiação, concretizada com a filiação de oito deputados estaduais e quatro suplentes ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), em fevereiro. O êxodo foi viabilizado pela Justiça Eleitoral, que beneficiou, ao todo, dez deputados estaduais e quatro suplentes.
O PontoPoder procurou o presidente estadual do PDT Ceará, André Figueiredo, para que pudesse comentar sobre o assunto. Não houve uma resposta do político até a publicação desta matéria. O conteúdo será atualizado caso haja alguma devolutiva.
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