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A história do militar rebelde que lutou contra o governo federal e virou nome de bairro em Fortaleza

O “Baú da Política — Especial Bairros de Fortaleza” explora a história política e social do Ceará a partir do legado de políticos que dão nomes a bairros da Capital

Escrito por
Igor Cavalcante igor.cavalcante@svm.com.br
Arte em xilogravura com imagens do bairro Joaquim Távora e do próprio militar.
Foto: Louise Dutra (Arte).

Um militar, insatisfeito com o governo federal, arregimenta aliados de farda, desafia seus superiores e promove um levante contra o Estado. Essa é a trajetória de Joaquim Távora, oficial do Exército que, após sua morte, daria nome a um dos bairros mais centrais de Fortaleza.

Vizinho da Aldeota, do São João do Tauape, do Dionísio Torres, do Centro e do Bairro de Fátima, o Joaquim Távora — o bairro — foi um ponto estratégico da cidade na virada do século XIX para o XX. Por ali passava uma das primeiras linhas de bonde da Capital, que ligava o Centro a então distante Messejana, quando ainda era um município independente.

Já Joaquim Távora — o militar — esteve no coração das rebeliões tenentistas que contestaram o domínio político das oligarquias durante a República Velha. Sua atuação o colocou entre os nomes mais lembrados desse período histórico brasileiro.

Esta reportagem, que integra o “Baú da Política — Especial Bairros de Fortaleza”, relembra a história e o legado de Joaquim Távora. Nesta série de matérias, o Diário do Nordeste explora a história política e social do Ceará a partir do legado de políticos que dão nomes a bairros da Capital.

QUEM FOI JOAQUIM TÁVORA?

Natural da cidade de Jaguaribe, no interior do Ceará, Joaquim do Nascimento Fernandes Távora nasceu em 19 de junho de 1891. Desde cedo, teve contato com a política, já que sua família compunha um tradicional grupo de oposição a lideranças estaduais, entre elas os Acioly, que construíram uma oligarquia no Ceará.

Ainda na adolescência, estudou em Fortaleza e depois seguiu para Porto Alegre, onde ingressou no Exército. Foi efetivado como segundo-tenente em 1911 e, três anos depois, transferido para Corumbá, no Mato Grosso.

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No início da carreira militar, Joaquim passou a expressar insatisfações com o rumo político do País — críticas compartilhadas por jovens oficiais e setores civis. Esses descontentamentos alimentaram o tenentismo, movimento que defendia reformas estruturais e não hesitava em apoiar levantes contra o governo federal.

Um dos episódios mais emblemáticos ocorreu em 5 de julho de 1922, quando militares tentaram impedir a posse do presidente Arthur Bernardes. Rebeliões ganharam adesão na Escola Militar do Realengo, na Vila Militar e no Forte de Copacabana, de onde partiram os “18 do Forte”, posteriormente fuzilados.

No Mato Grosso, o então capitão Joaquim Távora também se opôs às ordens do governo, que trocou o comando das forças locais para neutralizar o movimento. A insubordinação resultou em sua prisão. Ele foi levado à Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, onde estavam outros tenentistas detidos.

IRMÃOS REBELDES

Entre os militares presos, Joaquim reencontrou o irmão Juarez Távora, que mais tarde se tornaria um dos nomes mais influentes da política brasileira do século XX. No cárcere, os dois e dezenas de oficiais planejaram novos levantes.

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Cerca de um ano depois, já livres, os irmãos aderiram à conspiração que culminaria na revolta de 5 de julho de 1924, em São Paulo. Joaquim foi um dos articuladores do movimento, que ocupou quartéis e chegou a capturar oficiais contrários à rebelião.

Durante confronto em 15 de julho, Joaquim Távora foi baleado. Morreu quatro dias depois, aos 33 anos. A derrota enfraqueceu o movimento, mas não encerrou o ciclo de tensões políticas que levariam, seis anos depois, à Revolução de 1930 e à ascensão de Getúlio Vargas — apoiado por boa parte dos tenentistas.

E O BAIRRO JOAQUIM TÁVORA?

Após sua morte, Joaquim Távora se tornou símbolo do combate às estruturas da República Velha e recebeu homenagens em várias partes do País. Nesse contexto, o Ceará rebatizou o antigo bairro Piedade, área estratégica da cidade, com seu nome.

A região já era marcante muito antes da mudança: quase 50 anos antes, recebera a primeira linha de bonde da Companhia Ferro Carril do Ceará, ligando a estação da estrada de Messejana ao Centro de Fortaleza. A antiga estação ficava onde hoje está o Mercado do Joaquim Távora.

Documento digitalizado de alteração de nome de rua no bairro.
Legenda: Entre os arquivos digitalizados da Câmara de Fortaleza, o mais antigo que cita o bairro Joaquim Távora é um de 1948.
Foto: Reprodução/CMFor.

O bairro também se desenvolveu ao redor de uma via que, por décadas, serviu de eixo entre a Capital e Messejana. Oficialmente chamada de Avenida Joaquim Távora — e conhecida informalmente como Estrada de Messejana —, hoje corresponde à Avenida Visconde do Rio Branco.

Naquele período, a própria Messejana ainda era um município (perdeu essa condição em 1921). Além dela, Fortaleza contava com mais cinco distritos: Alto da Balança, Barro Vermelho, Mondubim, Parangaba e Pajuçara.

Assim, o nome Joaquim Távora permaneceu não apenas na memória das revoltas tenentistas, mas também no traçado urbano de Fortaleza.

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