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Baú da política: primeiro prefeito eleito por voto secreto em Fortaleza dá nome a bairro há 60 anos

Há 60 anos, o prefeito de Fortaleza, Murilo Borges, sancionou a lei que mudou o nome do bairro até então chamado de Floresta

Escrito por
Igor Cavalcante igor.cavalcante@svm.com.br
Ilustração em estilo xilogravura de Álvaro Weyne, primeiro prefeito eleito por voto secreto em Fortaleza. À esquerda, seu retrato em terno e gravata; ao fundo, trilhos de trem, postes de energia e árvores. No alto à direita, uma placa viária indica direções para Álvaro Weyne, Aeroporto Internacional e Arena Castelão. No canto superior esquerdo, o logotipo da série 'Baú da Política – Bairros'.
Foto: Louise Dutra (Arte)

Antes de ser bairro, era apenas mata fechada repleta de poços de água potável, tanto que foi batizado, inicialmente, de Floresta. Hoje, o lugar carrega o nome de um prefeito que entrou para a história política de Fortaleza como o primeiro eleito pelo voto secreto. Também conhecido como o “prefeito das flores”, Álvaro Weyne “empresta” seu nome há exatos 60 anos para o bairro localizado entre o Cristo Redentor, o Ellery, o Carlito Pamplona e um pedaço do território que se mantém chamado de Floresta.

A homenagem ao ex-prefeito foi oficializada em 1965, dois anos após sua morte. Esta reportagem, que integra o “Baú da Política — Especial Bairros de Fortaleza”, relembra a história e o legado de Álvaro Weyne. Nesta série de matérias, o Diário do Nordeste explora a história política e social do Ceará a partir do legado de políticos que dão nomes a bairros da Capital.

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Quem foi Álvaro Weyne?

Nascido em Fortaleza em 11 de novembro de 1881, Álvaro Nunes Weyne era filho do tenente-coronel Alfredo da Costa Weyne — abolicionista e combatente da Guerra do Paraguai — e de Antônia Nunes de Melo Weyne. O ex-prefeito estudou no Ginásio Cearense e no Instituto de Humanidades.

Ele também foi secretário da Fazenda do Ceará entre os anos de 1944 e 1945, durante o governo de Menezes Pimentel. O político exerceu forte influência em setores da sociedade civil, sendo grão-mestre da Grande Loja do Ceará durante quatro anos, entre 1928 e 1932, e fundador do Centro Espírita Cearense.

Retrato emoldurado de Álvaro Nunes Weyne, em fotografia em preto e branco, usando terno, gravata e bigode. A moldura é oval e ornamentada em tom dourado
Legenda: Álvaro Nunes Weyne foi prefeito de Fortaleza em duas ocasiões
Foto: Reprodução/Arquivo

Essa atuação, somada ao legado do ex-prefeito, foi a justificativa apontada pelo então vereador René Paiva Dreyfuss para defender a homenagem a Weyne. O parlamentar oficializou a proposta por meio do projeto de lei nº 127, aprovado em 30 de junho de 1965 e transformado na lei nº 3.013.

Antes de homenagear Álvaro Weyne, o bairro era chamado de Floresta. A origem desse nome remonta aos primeiros colonizadores da Capitania do Ceará, já que, ao chegarem, depararam-se com uma floresta às margens do rio Ceará, local por onde entravam as caravelas dos navegadores. 

A mudança de nome em referência ao ex-prefeito foi sancionada em 17 de setembro de 1965, há exatos 60 anos, sob aval do então prefeito Murilo Borges.

Do voto secreto ao ‘prefeito das flores’

Ao todo, Álvaro Weyne exerceu dois mandatos no comando da Prefeitura de Fortaleza. O primeiro, iniciado em 1928, entrou para a história como o primeiro em que houve voto secreto na Capital. Contudo, apesar do avanço democrático, a gestão foi interrompida pela Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o poder. 

Cinco anos depois, o político fortalezense voltou ao cargo, mas por um curto período, exercendo a gestão somente até a eleição de 1936, considerada outro marco da cidade por ser a primeira eleição municipal de caráter popular.

Casa de José de Alencar, construção simples de paredes brancas e telhado de barro, localizada em meio a área verde com árvores e gramado em Fortaleza
Legenda: Em 1929, a Prefeitura de Fortaleza adquiriu a casa onde nasceu o escritor José de Alencar. Atualmente, o espaço pertence à Universidade Federal do Ceará
Foto: Divulgação/Casa José de Alencar

Após os dois mandatos, Álvaro Weyne ficou conhecido como o “prefeito das flores”, título dado pela prioridade que ele deu a projetos de urbanização, arborização e criação de praças e jardins em uma época em que essas propostas ainda eram raras. 

Já fora da Prefeitura, ele teve papel de destaque durante a Segunda Guerra Mundial, quando a capital cearense era vista como ponto estratégico no Atlântico. Em 1942, ele foi nomeado chefe da Defesa Antiaérea de Fortaleza, em uma época em que o medo de bombardeios fazia parte do cotidiano dos fortalezenses.

A trajetória política e pessoal fez de Weyne uma figura de referência, tanto que, dois anos após sua morte — em 4 de julho de 1963 —, acabou homenageado no mapa da Cidade

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