Legislativo Judiciário Executivo

Deputado cearense é citado em investigação que provocou operação da PF na Câmara

Junior Mano diz que não é investigado e que foi um "procedimento regular".

Escrito por
Igor Cavalcante igor.cavalcante@svm.com.br
Agente da PF investiga em computador. Ele está de colete.
Legenda: Polícia Federal comanda as investigações sobre desvio de emendas parlamentares.
Foto: PF/Divulgação

O deputado federal Junior Mano (PSB) apareceu em uma nova etapa das investigações da Polícia Federal (PF) sobre desvio de emendas parlamentares. Na decisão que embasou a Operação Transparência, deflagrada nesta sexta-feira (12), o ministro Flávio Dino, relator do caso, cita uma anotação em que é mencionado um suposto pedido do cearense para redirecionar emendas de um município para outro.

Junior Mano não foi alvo da operação desta sexta, mas aparece no contexto das apurações.

A menção ao deputado surge no braço da investigação que apura o papel de Mariângela Fialek, ex-assessora do parlamentar e do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no suposto esquema. Ela foi alvo dos investigadores nesta sexta-feira. Agentes cumpriram dois mandados de busca e apreensão em salas utilizadas por ela e também em sua residência.

Em nota, o deputado federal informou que "não é investigado no processo em questão conduzido pelo ministro Flávio Dino". Destacou ainda que "as anotações nos manuscritos mencionados tratavam de remanejamento de recursos entre municípios que nem chegou a ser efetivado, pois foi cancelado".

"O procedimento é regular, previsto nas atribuições parlamentares, servindo para ajustar repasses federais quando necessário", concluiu Junior Mano.

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Fialek é apontada como responsável por organizar a destinação de emendas. Atualmente, ela trabalha na liderança do PP na Câmara.

De Nova Russas para Reriutaba

O cearense é citado para embasar o suposto papel central da servidora.

“Identificou-se evidente manipulação da destinação de recursos promovida pela investigada a partir das diretrizes do parlamentar Júnior Mano”, diz a PF, em trecho reproduzido por Dino.

O ministro menciona a apreensão de uma folha de anotações manuscrita com indícios de “redirecionamento de recursos de emendas”.

Junior Mano ao lado do prefeito de Reriutaba, Pedro Humberto, durante visita do deputado ao município.
Legenda: Junior Mano ao lado do prefeito de Reriutaba, Pedro Humberto, seu correligionário, durante visita ao município.
Foto: Reprodução/Instagram Pedro Humberto.

“No caso, houve a transferência de recursos que seriam destinados ao município de Nova Russas para o município de Reriutaba, ambos no Ceará, a pedido do deputado”, aponta a PF. O município de Nova Russas é comandado pela esposa do deputado federal, a prefeita Giordanna Mano (PSB). Em Reriutaba, Mano também tem um aliado, o prefeito Pedro Humberto (PSB).

VEJA A ANOTAÇÃO NA AGENDA ENCONTRADA PELA PF

Trecho de uma folha de anotação da servidora investigada pela PF em que ela cita Junior Mano.
Legenda: Anotação em prova apreendida pela PF cita o nome do deputado federal Junior Mano.
Foto: Reprodução/STF

“Novamente fala-se de recursos da Codevasf para pavimentação de vias. Em pesquisas realizadas, identifica-se que o Município de Reriutaba promoveu diversas licitações vinculadas a serviços de pavimentação em pedra tosca – tal qual anotado na folha manipulada por Tuca”, afirmam as investigações.

Sobreposição em letras digitais da anotação escrita na folha de papel.
Legenda: Veja o que diz cada trecho da anotação.
Foto: Reprodução/PF.

“Inclusive, identificou-se o Convênio nº 922187/2021, firmado junto ao Ministério do Desenvolvimento Regional por aquela Municipalidade, mas recentemente anulado, que tinha como finalidade justamente o desenvolvimento de serviços de pavimentação nesse tipo de material”, acrescenta a PF.

Os investigadores também destacam que a anotação com o nome do deputado cearense e a suposta mudança de destino das emendas foi feita em uma agenda comum.

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“Destaque-se, aliás, o incomum desapego à formalidade na formulação orçamentária; uma anotação à mão, realizada de maneira rudimentar, foi responsável pela realocação de recursos de um Município para outro. Lamentavelmente, não há como não comparar a maneira de controlar e organizar o orçamento secreto coordenado por Tuca a uma ‘conta de padaria’. A anotação transparece que milhões em recursos públicos eram direcionados a partir de comandos verbais, sem qualquer preocupação com projetos ou interesses republicanos de fato”, afirma a PF.

Investigação sobre emendas

Em outra frente de apuração, o deputado federal Junior Mano já foi alvo da PF em um caso que envolve desvio de emendas parlamentares no Ceará. Segundo relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e divulgado em janeiro deste ano pelo PontoPoder, o mandatário teria “papel central” no esquema, atuando como “operador ativo” da engrenagem criminosa.

O esquema envolveria ainda gestores municipais cooptados mediante um “pedágio” — contrapartida financeira de até 15% dos valores enviados, que seriam desviados por meio de empresas de fachada.

A investigação aponta que os recursos teriam sido usados para comprar apoio político e financiar ilegalmente campanhas em dezenas de municípios cearenses, em uma organização que movimentou centenas de milhões de reais.

À época que as investigações foram divulgadas, o parlamentar negou as irregularidades e afirmou que “cabe à Justiça julgar”, reiterando sua inocência e seu compromisso com a legalidade.

Nesta sexta-feira (12), o PontoPoder procurou novamente a assessoria de imprensa da prefeitura de Reriutaba, mas não houve resposta.

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