Fragilidade política de Hugo Motta transforma a Câmara dos Deputados em barril de pólvora
Presidente parece não liderar, e sim obedecer ordens; decisões erráticas expõem o Legislativo e acirra crise entre Poderes.
O embate entre os Poderes em Brasília ganhou contornos ainda mais graves na Câmara dos Deputados, sob a gestão de Hugo Motta (Republicanos-PB). Aos 36 anos, Motta ocupa uma cadeira que concentra poderes decisivos. Está na mão dele, o controle da pauta legislativa nacional. Mas sua condução errática, marcada por concessões e falta de liderança, tem transformado a Casa em um barril de pólvora, sem tampas nem comando.
A instabilidade, sentida por especialistas desde o início do mandato, ganhou ainda mais evidência na condução de pautas como"PEC da Blindagem" e do PL da Dosimetria, este último visto como uma anistia velada a envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.
Ao pautar temas sensíveis, Motta deixou evidente uma submissão aos interesses de caciques do Centrão, o que é, em essência, o retrato de um presidente que não governa: apenas obedece.
Ocupação da Mesa da Câmara virou fraqueza simbólica
O episódio emblemático da fragilidade do presidente foi a confusão generalizada no plenário, quando o deputado Glauber Braga (Psol), que enfrentava processo de cassação, assumiu a cadeira de presidente e teve de ser arrancado de lá pela Polícia Legislativa, sob comando de Motta. O episódio inaceitável teve elementos simbólicos: truculência contra um membro da casa e autoritarismo, ao proibir a presença da imprensa e a transmissão pelos veículos de comunicação da Casa. Pegou muito mal!
Tudo isso aconteceu por conta de um precedente gravíssimo aberto em agosto desse ano quando deputados bolsonaristas ocuparam a presidência da Casa e não sofreram nada de punição por parte da Mesa Diretora, comandada por Hugo Motta. Foi a demonstração simbólica de fraqueza de liderança do presidente.
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Condução abre espaço para intervenções do STF
A condução dos processos disciplinares de Braga e Zambelli foi outro elemento a colocar em xeque a autoridade de Motta. A leniência institucionalizada enfraquece o Legislativo, submete a Casa a interesses corporativos, estimula a lógica da impunidade e abre espaço para nova intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Moraes reverteu a decisão no caso de Carla Zambelli e determinou a cassação.
Tem sido quase unânime a avaliação de parlamentares que veem em Motta um “presidente fraco para tempos difíceis”.
A Câmara dos Deputados, que deveria ser um eixo de estabilidade política, virou terreno de disputa sem rumo ou coordenação. A cadeira que Motta ocupa tem poder para ordenar a pauta nacional. Mas, nas mãos erradas, torna-se um risco para uma democracia já suficientemente tensionada.