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O que a visita de Lula indica sobre as estratégias eleitorais para o Ceará

Os discursos de Elmano, Camilo e Lula foram recheados de demonstrações de força do PT, acenos para aliados e indicativos das estratégias de campanha da sigla no Ceará.

Escrito por Igor Cavalcante, Thatiany Nascimento, Felipe Azevedo , igorcavalcante@svm.com.br
Convenção oficializou candidatura de Elmano de Freitas e de Camilo Santana
Legenda: Convenção oficializou candidatura de Elmano de Freitas e de Camilo Santana
Foto: Thiago Gadelha

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou no Ceará, neste sábado (30), para a convenção do PT que lançou o deputado estadual Elmano de Freitas (PT) para disputar o Governo do Ceará e o ex-governador Camilo Santana (PT) para concorrer ao Senado Federal. O evento marcou o reagrupamento, sob a liderança do PT, da maior parte dos partidos que atualmente compõem o arco de aliança governista, incluindo PV, PCdoB e MDB.

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Além disso, os discursos de Elmano, Camilo e Lula foram recheados de demonstrações de força do PT, acenos para aliados e indicativos das estratégias de campanha da sigla no Ceará. 

“Ceará três vezes mais forte”

Todos os discursos tiveram como ponto central apresentar a candidatura de Elmano ao Governo do Ceará. Em sua fala, Camilo, por exemplo, já projetou uma parceria entre os governos Federal e Estadual, considerando uma eventual vitória de Lula, como presidente da República, de Elmano Freitas, como governador, e dele próprio, como senador.  

“Eu não tive um presidente ao meu lado ao longo desses anos. Imagina Elmano governador, Lula presidente e Camilo senador para fazer esse Ceará avançar. É o Ceará três vezes mais forte”
Camilo Santana (PT)
Ex-governador e candidato ao Senado

Camilo indicou que, junto ao ex-presidente Lula, atuará como cabo eleitoral para Elmano. O ex-chefe do Executivo nacional lidera as pesquisas de intenções de votos a quase dois meses das eleições. Já Camilo deixou o Governo do Ceará, em abril deste ano, com alto índice de popularidade. O petista ainda exaltou a votação que recebeu em 2018, quando foi eleito ainda no primeiro turno com quase 80% dos votos.

"O Elmano é um homem de diálogo, que tem o estilo parecido comigo, de respeito. O Elmano é a pessoa certa que eu confio para continuar o trabalho no Estado do Ceará”, afirmou.

Apoio do PSB

Com apoio fechado para a candidatura pedetista de Roberto Cláudio na disputa pelo Governo do Ceará, o PSB, a nível nacional, faz parte da aliança com o Partido dos Trabalhadores e, portanto, compõe a coligação em prol do ex-presidente Lula. O vice do petista, inclusive, Geraldo Alckmin, é filiado ao PSB.

Em meio a essas posturas contrastantes, o diretório estadual da sigla passou por uma disputa interna que expôs a divisão do partido no Ceará. Enquanto o presidente da sigla no Estado, o deputado federal Denis Bezerra, decidiu apoiar o candidato do PDT, outros membros tornaram-se aliados de Elmano.

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Um deles é o ex-deputado federal Odorico Monteiro, que esteve na convenção do PT neste sábado. Questionado sobre ter ido de encontro ao que decidiu o PSB no Ceará, ele disse que sua posição é alinhada com a Executiva Nacional. “Nós estamos aqui no Ceará apoiando Elmano e Lula, é uma orientação nacional. A gente fez uma manifestação no sentido de o partido rediscutir, infelizmente não aconteceu”, disse.

Vereador de Fortaleza pelo PSB, Léo Couto também teve posição divergente do diretório estadual. Ele participou do evento e disse que irá permanecer no apoio à candidatura do PT. “Infelizmente o nosso grupo tomou caminhos distintos e eu tive que escolher o posicionamento. Olhando a coerência, olhando para toda a gratidão que eu tenho pelo governador, não poderia fazer diferente”, completou.

Unidade petista

Com um histórico de divisões internas, principalmente no Ceará, o PT chega para o pleito deste ano no Estado com uma unidade partidária poucas vezes vista. Lideranças locais da sigla, como Camilo Santana e os deputados federais José Guimarães, Luizianne Lins e José Airton Cirilo, subiram juntos ao palco e têm defendido a unanimidade em torno da candidatura de Elmano.

Convenção ocorreu no Centro de Eventos do Ceará
Legenda: Convenção ocorreu no Centro de Eventos do Ceará
Foto: Thiago Gadelha

Há pouco tempo, esses nomes estavam em lados opostos dentro da sigla, já que Camilo e Guimarães defendiam a manutenção da aliança com o PDT, enquanto Luizianne e José Airton defendiam, desde o ano passado, a composição de uma chapa puramente petista – ou ao menos liderada por um correligionário.

Mesmo nas candidaturas de Camilo Santana ao Governo do Ceará, em 2014 e 2018, havia um distanciamento entre ele e alas mais tradicionais do PT, já que o ex-governador foi indicado ao cargo pelo senador Cid Gomes (PDT) – com quem mantém proximidade até hoje.

Ex-governador Camilo Santana agradeceu a Cid Gomes e a Izolda Cela
Legenda: Ex-governador Camilo Santana agradeceu a Cid Gomes e a Izolda Cela
Foto: Thiago Gadelha

No entanto, com o rompimento definitivo da aliança entre PT e PDT, o ex-governador assumiu uma postura de liderança na montagem da chapa, o que reaproximou diferentes alas do PT. A própria escolha de Elmano como candidato foi articulada por Camilo e contempla a demanda de alas mais tradicionais do partido. O agora candidato ao Governo do Ceará, inclusive, tem uma trajetória dentro da sigla alinhada à de Luizianne.

Apelo do discurso

No discurso em Fortaleza, Lula reiterou pontos que já vem destacando na agenda nacional de pré-campanha. A ênfase no resgate do legado da gestão petista na presidência como o protagonismo em grandes obras, a exemplo da Transposição do Rio São Francisco. A intervenção, que corta estados do Nordeste, incluindo o Ceará, é uma das maiores obras de infraestrutura do país, e a execução tem sido reivindicada por gestões diversas, já que a conclusão demorou mais de 12 anos, atravessando 4 governos, incluindo o de Michel Temer e Bolsonaro. 

Ex-presidente Lula indicou prioridades para um eventual governo
Legenda: Ex-presidente Lula indicou prioridades para um eventual governo
Foto: Thiago Gadelha

Programas da área habitacional como Minha Casa, Minha Vida; geração de empregos; melhoria da renda; e o acesso à educação superior também foram enfatizados no discurso de Lula como evidências do bom desempenho da gestão petista que serão retomados, caso ganhe a eleição. 

Outra narrativa reforçada por Lula, mesmo sem citar diretamente o nome do ex-juiz, hoje, pré-candidato ao Senado pelo Paraná, Sérgio Moro (União Brasil), é a Operação Lava-Jato, na qual ele foi preso. O ex-presidente e candidato à presidência reforça que foi injustiçado no processo e destaca que agentes envolvidos em sua condenação, no cenário atual, se organizam em grupos de oposição política. 

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Outro ponto defendido no Ceará e que deve ecoar na campanha é a promessa de revogação de medidas adotadas no governo Bolsonaro. Um exemplo citado por Lula em Fortaleza, é que, se eleito, irá quebrar o sigilo de documentos os quais Bolsonaro tem estabelecido segredo. “A primeira coisa que vou fazer é uma revogação de todas as leis de sigilo que ele fez. Nós queremos saber o que ele está escondendo”.

Acenos a Izolda e Cid

Apesar da ruptura entre PT e PDT no Ceará, um pedetista e uma ex-pedetista foram exaltados nos discursos das lideranças do petistas. Camilo Santana pediu aplausos para o senador Cid Gomes (PDT), postura que foi exaltada por Lula. Já a governadora do Ceará, Izolda Cela, foi citada pelos dois petistas e também por Elmano de Freitas.

Cid Gomes sumiu das articulações governistas desde maio. Aliados atribuem a essa ausência o desarranjo no arco de aliança do PDT com outros partidos no Estado, já que o senador sempre liderou as articulações do grupo Ferreira Gomes. 

Ainda que o afastamento de Cid esteja cercado de mistérios, a relação entre ele e o ex-governador Camilo Santana parece estar firme. O petista citou o nome do “amigo-irmão” ao falar de gratidão. 

"(Quero) dizer a ele que ninguém nos separa, (dizer) da minha amizade e da minha gratidão a esse cearense que tanto fez pelo Estado do Ceará", afirmou. “Ninguém vai me separar dele, jamais”.
Camilo Santana (PT)
Ex-governador e candidato ao Senado

Lula, no fim do discurso, ressaltou que Camilo Santana “fez muito bem em agradecer a solidariedade de Cid”. “Ele (Cid) te ajudou nos oito anos de governo e a gente tem que ser leal a quem é leal com a gente, a gente tem que ser companheiro a quem companheiro com a gente”. 

Já Izolda foi ovacionada em diversos momentos pela militância petista. A candidatura dela à reeleição foi defendida ao longo dos últimos meses pelo ex-governador Camilo Santana. O PDT, no entanto, lançou Roberto Cláudio como candidato ao Governo, o que desencadeou a ruptura entre PT e PDT.

Camilo ressaltou o trabalho ao lado de "uma mulher extraordinária''. Uma pessoa, completou ele, “que é responsável pela educação no Ceará. A primeira mulher governadora do Estado do Ceará”. Havia a expectativa de que a mandatária fizesse uma aparição na convenção do PT, o que não ocorreu.

Multidão acompanhou convenção do PT
Legenda: Multidão acompanhou convenção do PT
Foto: Thiago Gadelha

Em seu discurso, Elmano pediu “uma salva de palmas à professora Izolda e a todos os professores”, reforçando o compromisso de “dar continuidade” ao destaque do Ceará na Educação – e atribuindo parte do legado ao senador Cid Gomes (PDT). “Reconheço a obra iniciada pelo senador Cid Gomes. (...) Vamos continuar investindo na segurança pública, mas o foco é abraçar a juventude e gerar empregos”, pontuou.

Ao falar de Izolda, Lula declarou que a governadora do Ceará “sofreu impeachment sem ser impeachment”, em referência ao fato de ela não ter sido escolhida pelo PDT para postular uma possível reeleição ao governo estadual e acrescentou: “no Brasil, não tem ninguém com a competência educadora que a companheira Izolda tem”.

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