Nem Bolsonaro nem Lula: quem disputa o posto de 3ª via e quais as chances de sucesso em 2022
A primeira semana de novembro foi movimentada nas articulações de nomes que se apresentam como alternativas às candidaturas de Lula e Bolsonaro
Os últimos dias têm sido de intensa movimentação nas articulações para a disputa pelo Palácio do Planalto em 2022 - principalmente de nomes colocados no campo da terceira via. A suspensão da pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT), o anúncio oficial de Sérgio Moro como pré-candidato, além de novas filiações e trocas de partidos agitaram o cenário para a corrida presidencial, faltando pouco menos de um ano para a eleição.
Com o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tidos, por aliados, como candidatos certos na disputa, outros nomes tentam se viabilizar como alternativa em meio à fragmentação de pré-candidatos apontados como terceira via.
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A tarefa, no entanto, não é fácil. Professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará, Monalisa Torres aponta que, historicamente, a tese da terceira via nunca conseguiu se consolidar no Brasil. "Quem ficou mais perto disso foi Marina Silva (em 2014). De lá para cá, e mesmo antes disso, sempre o que vimos foram pólos. Temos sempre uma terceira via tentando se firmar, mas sem conseguir", explica.
Para a cientista política Carla Michele Quaresma, falta um nome natural que pudesse unir a pulverização de candidaturas que se opõem tanto a Bolsonaro como a Lula.
"Todos eles percorreram um caminho que os identifica nessa crítica a ambos. Mas os propósitos são distintos, os projetos são muito distintos. O centro comporta um espectro político muito amplo e interesses divergentes".
Fragmentação da terceira via
A falta de um nome com potencial de agregar os nomes de terceira via demonstra a "dificuldade de deslanchar dos partidos de oposição e sem que ninguém queira abrir mão das candidaturas", concorda Torres.
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Essa dificuldade de consolidação da terceira via se converte em números: são, até agora, oito pré-candidatos que se colocam como alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro - que lideram, por ampla margem, as pesquisas de intenção de voto até o momento.
“Caso se confirmem todos esses nomes, pode ter uma pulverização desses votos. Os candidatos vão ficar como regionais - Ciro com força no Ceará e Eduardo Leite (do PSDB) ou o ex-juiz Sérgio Moro no Sul, por exemplo. Não tem envergadura para fazer frente às duas principais candidaturas”, aponta Carla Michele.
A preço de hoje, as especialistas não arriscam um nome que possa resolver os obstáculos para a consolidação da terceira via, mas apontam estratégias que podem ser usadas pelos políticos que buscam ser essa alternativa.
“É preciso juntar esquerda e direita em um campo democrático. Quem conseguir fazer esse movimento pode ter uma chance interessante ao mostrar que tem um projeto que agrada o campo progressista, mas que não desconsidera agendas do campo conservador”, afirma Monalisa Torres. “Os candidatos estão cientes de que precisam fazer esse movimento”.
Efeitos da suspensão de Ciro
Nessa semana, partidos e possíveis candidatos tiveram dias de articulações e decisão, ainda que nem sempre definitivas, para estes nomes.
Atores políticos importantes no cenário nacional, Ciro Gomes e Sérgio Moro tomaram rumos opostos nesse início de novembro: enquanto Ciro anunciou a suspensão da pré-candidatura após a bancada do PDT na Câmara dos Deputados apoiar a PEC dos Precatórios, Sérgio Moro confirmou a pré-candidatura.
"(A suspensão da pré-candidatura) Foi mais efeito retórico, efeito simbólico. O Ciro, depois que a poeira baixar, deve voltar a falar como pré-candidato à presidência da República".
Voltar atrás na decisão de suspensão, no entanto, pode gerar ônus para o pedetista ao mostrar uma "fragilidade da candidatura dentro do partido", criando dificuldade para "demonstrar força e montar aliança com outros partidos", explica Torres. "Se ele não conseguir converter os votos (dos deputados), vai soar para a candidatura dele", completa.
Moro x Bolsonaro
Moro, por outro lado, é apontado por ela como "um dos principais nomes com capacidade de fazer o Bolsonaro desidratar". O motivo é a convergência entre os potenciais eleitores de ambos, fazendo o ex-juiz ter o perfil que facilita a migração de votos do atual presidente.
"Mas não vejo como um potencial de levar uma candidatura ao segundo turno, porque ele acabou desagradando parte do eleitorado ao sair do governo como traidor", afirma Carla Michele. Além disso, a suspeição quanto ao julgamentos do ex-presidente Lula e "a falta de habilidade política" também pesam contra Moro, acrescenta.
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Essas não foram as únicas definições desde o final de outubro. Apenas no início de novembro, MDB e Novo anunciaram a oficialização de pré-candidaturas ao Planalto: Simone Tebet e Felipe D'Avila, respectivamente.
Enquanto isso, José Luiz Datena, que vinha reiterando a intenção de concorrer à presidência, anunciou, no dia 2 de novembro, a troca do PSL para o PSD, onde deve reforçar o palanque para a pré-candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco - que se filiou à legenda no último dia 27.
Quem disputa o posto de "terceira via"
Ciro Gomes (PDT)
Ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT) anunciou que irá suspender a pré-candidatura ao Palácio do Planalto, após a bancada do PDT na Câmara dos Deputados votar a favor da PEC dos Precatórios - medida apoiada pelo governo Bolsonaro e chamada, por Ciro, de ‘PEC do Calote’. Correligionários do pedetista - que está em campanha desde o fim da eleição 2018 - ficaram surpresos com a decisão e tentam revertê-la.
Apesar do anúncio feito por Ciro Gomes, ele ainda é o candidato que apresenta os melhores resultados nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República. Em quase todas, ele aparece na terceira posição - atrás do ex-presidente Lula e do presidente Jair Bolsonaro, respectivamente.
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Contudo, o ex-ministro não tem conseguido crescer e tem encontrado dificuldade em formar alianças com partidos fortes para apoiar a candidatura ao Palácio do Planalto.
Com críticas ferrenhas a Lula, ele conquistou antipatia de parte do eleitorado que, mesmo não sendo petista, tem simpatia pelo ex-presidente, além de não ter conseguido se aproximar dos eleitores mais alinhados à direita e centro-direita.
Sérgio Moro
Desde que renunciou ao cargo de juiz federal e aceitou integrar o governo Bolsonaro, era esperado que Sérgio Moro concorresse a um cargo eletivo. Com a filiação ao Podemos prevista ainda para novembro, ele deve agora concretizar a pré-candidatura ao Palácio do Planalto - confirmada por ele no início deste mês.
A confirmação do nome de Moro na corrida presidencial pode enfraquecer outros pré-candidatos que já estavam consolidados na disputa, como Ciro Gomes e o escolhido pelo PSDB para a disputa - João Dória e Eduardo Leite são os nomes mais fortes entre os tucanos.
O ex-ministro tem se dedicado, inclusive, a conversas com lideranças partidárias. Em Brasília, teve agendas com presidentes de partidos como o PSDB, o Novo e o Cidadania - todos contam com pré-candidato à Presidência para 2022.
Eduardo Leite ou João Dória (PSDB)
O PSDB está realizando prévias para escolher o candidato do partido à presidência da República em 2022. Três nomes concorrem: o governador de São Paulo, João Doria; o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; e o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. Os dois primeiros, no entanto, são os nomes mais fortes na disputa interna.
Ambos foram, inclusive, incluídos em cenários das pesquisas de intenção de voto, mas ainda não conseguiram resultados expressivos, ficando bem distantes dos dois primeiros colocados. Lideranças tucanas também temem que o acirramento do embate entre Doria e Leite nas prévias, possa enfraquecer o partido para 2022.
Rodrigo Pacheco (PSD)
Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco se filiou ao PSD no final de outubro e entrou no páreo para ser candidato à Presidência em 2022. O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, chegou a reforçar que Pacheco é "o nome do partido para 2022".
Pacheco, no entanto, ainda não confirmou a pré-candidatura. Tendo como berço político o estado de Minas Gerais, o senador ainda terá como desafio se tornar um nome conhecido em todo o País.
Luiz Henrique Mandetta (DEM)
Ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta ganhou destaque em 2020, quando entrou em embate direto com o presidente da República sobre a forma de enfrentamento à pandemia de Covid-19.
Forte crítico da atual gestão, Mandetta é um dos nomes cotados para a disputa presidencial que estará nos quadros do União Brasil - legenda formada pela fusão entre DEM e PSL -, que será o partido com maior bancada no Congresso e maior Fundo Eleitoral em 2022.
José Luiz Datena (PSL)
O ex-apresentador José Luiz Datena se filiou ao PSL em julho deste ano com o objetivo de concorrer ao Palácio do Planalto em 2022. No entanto, a recente decisão do partido de se fundir ao DEM - formando o União Brasil - não agradou.
Com isso, ele anunciou, na última terça-feira (2), que irá trocar o PSL pelo PSD, onde também deve ser candidato. Mas com a legenda comandada por Kassab apostando no nome de Rodrigo Pacheco para o Planalto, Datena deve mudar de direção e concorrer a outro cargo - uma das possibilidades é o Senado.
Simone Tebet (MDB)
O MDB anunciou, logo após o feriado desta semana, que deve oficializar a pré-candidatura da senadora Simone Tebet à presidência da República ainda neste mês. Até o momento, ela é a única mulher na corrida presidencial de 2022.
Com grande destaque na CPI da Covid-19 no Senado, apesar de não ser uma das titulares do colegiado, a senadora havia pedido para que o anúncio da pré-candidatura aguardasse o final dos trabalhos da comissão.
Felipe D’Avila (Novo)
Na última quarta-feira (3), o Novo lançou o nome do cientista político Felipe D’Avila para a disputa pela presidência. Empresário e cientista político, esta será a primeira eleição de D'Avilla, caso a pré-candidatura se confirme.
Alessandro Vieira (Cidadania)
O senador Alessandro Vieira teve o nome confirmado como pré-candidato à presidência pelo Cidadania em setembro. Suplente na CPI da Covid-19, ele havia anunciado a vontade de entrar na disputa presidencial ainda em agosto.