Se a
suspensão da pré-candidatura de
Ciro Gomes (PDT) pegou de surpresa até mesmo correligionários cearenses, liderados fiéis do potencial presidenciável, está em aberto ainda o impacto do anúncio do ex-governador em eventual
mudança de votos da bancada pedetista na votação da
PEC dos Precatórios em segundo turno na Câmara dos Deputados.
Há, no PDT, uma aparente empolgação com uma postulação de Ciro ao Palácio do Planalto, mas o posicionamento dele acerca da PEC dos Precatórios, que não é novidade, não foi suficiente para influenciar a bancada que, em outros momentos, também contribuiu para o resultado buscado pelo Governo Bolsonaro em votações.
O ex-governador faz coro aos que consideram a proposta a “PEC do calote”, mas a “liderança” dele na sigla, destacada por correligionários, não pesou na tomada de decisão.
Ao todo, 15 dos 24 parlamentares pedetistas votaram a favor da aprovação da PEC em primeiro turno. Inclusive
quatro dos cinco cearenses, que têm Ciro e o irmão, o senador
Cid Gomes, como lideranças políticas máximas, ao lado do governador
Camilo Santana (PT). Em âmbito estadual, a palavra da cúpula é seguida à risca nas casas legislativas.
Na Câmara, o argumento de alguns deputados, inclusive do Ceará, é de que não houve orientação partidária e que os votos favoráveis à matéria resultaram de um acordo para “reduzir danos”.
Projeto levado ao limite
Ao declarar publicamente que deixa a pré-candidatura “em suspenso” até a bancada do PDT reavaliar sua posição diante do tema, o ex-governador – um dos poucos nomes tidos como certos na corrida presidencial desde o início do Governo Bolsonaro – levou a um limite o projeto eleitoral.
Não há que se falar em ameaça ou chantagem, como costumeiramente acontece na política, mas, ao se valer da estratégia do “tudo ou nada”, não são previsíveis as respostas que ele terá. Ciro reafirma um discurso de coerência, mas dentro do próprio partido parlamentares viram a atitude como maior do que deveria.
Página virada?
A tendência, a preço de hoje, não é uma grande mudança na posição da bancada pedetista na votação da PEC dos Precatórios em segundo turno, o que seria para o ex-ministro uma demonstração de perda de força internamente. Sem, até agora, decolar nas pesquisas e apresentar capacidade de formar uma coalizão de aliados mais ampla do que a que foi possível em 2018, a votação da proposta certamente não seria o único motivo para sair de cena.
Muito, porém, já foi colocado em jogo para levar às urnas o projeto de desenvolvimento nacional que defende. Não será surpresa se o tal “racha” do PDT logo se tornar página virada, como se nada disso tivesse acontecido.
Num sistema em que o personalismo, muitas vezes, fala mais alto do que uma agenda programática (que em inúmeros casos nem sequer existe), não é a primeira vez que um partido se vê obrigado a lidar com as suas contradições.