O senador Cid Gomes, um dos líderes do PDT no Ceará, disse, em entrevista a essa coluna na manhã desta quinta-feira (4), desconhecer a atitude do irmão, Ciro Gomes, de suspender a pré-candidatura à Presidência da República, após a votação da bancada do partido na PEC dos Precatórios. Cid disse ter encarado que a orientação da bancada do partido na Casa, favorável à medida, foi uma “redução de danos”.
Na madrugada desta quinta, 15 dos 24 parlamentares do PDT votaram favorável à PEC, garantindo os votos necessários para a medida proposta pelo governo Bolsonaro. Na bancada cearense, inclusive, quatro parlamentares pedetistas, todos bastante ligados a Cid e Ciro, votaram a favor da medida: André Figueiredo, Leônidas Cristino, Eduardo Bismarck e Robério Monteiro.
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O apoio destes parlamentares em específico revela que, antes da votação, o PDT não soltou qualquer orientação consolidada sobre votar contra a medida. Pela atuação deles, nada indica que tenham se insurgido contra o comando.
Além do mais, a liderança do partido na Casa, embora sob protestos dos partidos de esquerda, fez uma defesa aberta do voto favorável na proposta. Na manhã desta quinta, todos foram pegos de surpresa com o posicionamento de Ciro Gomes.
Idilvan Alencar, por sua vez, passou o dia inteiro nas articulações sobre um possível acordo que levaria os recursos relativos ao Fundef, parte que interessa ao Ceará nos precatórios, que tem quase R$ 3 bilhões a receber, para um parcelamento em três anos, mas, na madrugada, acabou votando contra a proposta, mesmo reconhecendo que as negociações reduziram danos aos professores, base eleitoral dele.
“Primeiro, o que tenho a dizer é que você fazer um adiamento (parcelamento) de precatórios é o absurdo dos absurdos, no aspecto jurídico. Isso é a oficialização do calote. Neste caso, pelo que acompanhei das negociações, alguns parlamentares optaram por atenuar os danos”, disse o senador Cid Gomes, referindo-se à possibilidade de pagamento proposta inicialmente pelo governo federal em dez anos. Depois do acordo, o prazo foi reduzido para três parcelas.
Além disso, foi incluída na PEC uma regra que permite o parcelamento de dívidas dos municípios com a Previdência, para tentar atrair mais votos. E a estratégia, comandada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), acabou dando certo e aprovando a PEC em primeira votação.
Ainda segundo Cid, a orientação favorável ao voto na PEC, feita pela liderança do partido na Casa, parece ter sido de defender esta redução de danos. Sobre os próximos passos na negociação sobre o assunto, o senador preferiu não comentar. “Estou falando aqui para você o pouco que acompanhei e de tudo que sei dessa discussão. Ainda vou me inteirar melhor para fazer qualquer outro juízo”, reforçou.
A quarta-feira (3) foi de intensas negociações a respeito do assunto, que é central para os planos do presidente Jair Bolsonaro. Ao propor novas regras para precatórios, o governo acaba abrindo espaço para outros gastos como o Auxílio Brasil e praticando o que parlamentares chamam de “fura-teto” de gastos.
No início da noite, na sala da liderança do PDT no Senado, o senador Cid Gomes e o governador Camilo Santana receberam parlamentares da bancada cearense na Câmara para tratar do assunto. A reunião durou mais de uma hora, mas os parlamentares saíram de lá sem uma posição conclusiva.
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Ao deixar a reunião, Cid evitou tratar do assunto, mas o governador conversou com este colunista. “Para mim, não tem essa de parcelar precatórios. Isso é calote e eu sou contra”, disse. O PT, partido de Camilo, votou em massa contra a proposta.
Esta coluna apurou com parlamentares que participaram da reunião que a posição dos dois líderes sobre o assunto naquele momento não foi conclusiva. E este foi um dos motivos de todos terem sido pegos de surpresa com o pronunciamento de Ciro Gomes nas redes sociais. Em reserva, um deles disse: “se era para votar contra, por que a liderança do partido orientou a favor? Não conversaram?”.