No Senado, Chiquinho Feitosa cobra sabatina de André Mendonça ao STF, mas sinaliza independência

O empresário assume temporariamente a vaga de Tasso Jereissati e diz já trabalhar para garantir recursos a municípios como Fortaleza e Tauá

Legenda: Chiquinho Feitosa assume mandato de senador em substituição a Tasso Jereissati
Foto: Kid Júnior

O empresário e presidente estadual do DEM no Ceará, Chiquinho Feitosa assume, nesta quarta-feira (3), uma das três cadeiras do Ceará no Senado Federal. Ele substitui, temporariamente, Tasso Jereissati (PSDB), que tirou licença para tratar de interesse particular até fevereiro.   

Feitosa, que foi deputado federal entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000, chega à Casa se articulando em relação a uma pauta que tem estado nos holofotes: a indicação de André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal. Para ele, Davi Alcolumbre, que preside a Comissão de Constituição e Justiça, deve pautar o quanto antes o debate. 

Chiquinho é membro titular da comissão e argumenta que a falta do ministro no STF está prejudicando os julgamentos que estão parados na Corte. O cearense conhece bem a realidade da Corte Suprema, pois é cunhado do ministro Gilmar Mendes. 

O novo senador diz que não pretende criar obstáculo para a escolha do nome indicado por Jair Bolsonaro, mas cobra que o assunto venha à pauta o quanto antes. Ainda sobre atuação na Casa, ele diz que manterá a linha adotada pelo senador Tasso (crítico ao governo), sem deixar de ouvir o partido. 

Veja também

Em entrevista ao Diário do Nordeste, ele fala sobre os planos para tentar liderar o União Brasil – sigla a ser criada com a fusão do DEM com o PSL – no Ceará e revela que voltará a disputar cargos eletivos no próximo ano. Deve concorrer a deputado federal.

Feitosa é uma figura influente nos bastidores políticos cearense. Aliado do grupo governista local, é natural de Tauá e tem forte influência em setores empresariais do Estado.  Ele mantém trajetória de sucesso no setor agropecuário e de transportes. 

Agora, assume o mandato justamente no período em que precisa mostrar sua força para conseguir liderar o União Brasil no Ceará.  

Confira a entrevista completa: 

Quais os planos que o senhor tem para essa estadia no Senado Federal?

Estamos nos preparando para passar esse curto período de mandato no Senado. Evidentemente, substituir o senador Tasso Jereissati, meu senador titular, um senador que não é qualquer um, ele tem muita repercussão no Senado, e a gente se prepara para substituir à altura. Vamos acompanhar os projetos que tramitam no gabinete dele e atender à expectativa, é o que a gente espera. 

O senador Tasso teve uma atuação muito forte na CPI da Pandemia, foi relator do Marco do Saneamento, teve na relatoria da Reforma da Previdência... o senhor pretende ter uma atuação nesse sentido também? 

Sim, não tenha dúvida. Nós já conseguimos continuar nas duas comissões mais importantes do senado, que é a Comissão de Constituição e Justiça, a CCJ, e a CAE, a Comissão de Assuntos Econômicos, da qual o senador Tasso é titular e continuarei lá como titular e assim poder continuar dando a contribuição que a gente espera.  

Como você muito bem sabe, ali tramitam os assuntos de maior relevância do Senado de interesse nacional.

Senador Chiquinho Feitosa
Foto: Kid Júnior

O DEM, que é o partido que o senhor está filiado, tem uma posição de certa independência em relação ao Governo Federal, essa atuação do senhor deve ser como um senador da base aliada, da oposição ou independente?  

Claro que tenho que seguir uma orientação partidária, isso não tenha dúvida que temos que observar, mas tenho também que observar a linha que vem seguindo o senador Tasso Jereissati (que tem sido um crítico do governo Bolsonaro). Então, a minha maneira (de agir) no Senado, com toda certeza, observará essas duas coisas, tanto, de um lado, a orientação partidária como também a forma de atuação do senador Tasso.

Então o senhor vai analisar caso a caso as matérias (para se posicionar em votações)? 

Não tenha dúvida. Sempre conversando e discutindo. Eu acho que cada assunto é um assunto a ser discutido exatamente dentro dessa linha. 

O senhor vai fazer parte da CCJ e deve enfrentar essa indicação do presidente Bolsonaro de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF). Indicação essa que está pendente. O senhor já pensou em como vai se posicionar sobre isso? 

Já. Eu tenho me preocupado exatamente em fazer gestões e pressionar no sentido de que o assunto seja levado o mais rápido possível à CCJ, porque o Supremo está desfalcado de um ministro. Assuntos importantes, de grande relevância para o País, matérias que estão sendo julgadas e que estão suspensos os julgamentos exatamente por falta do ministro.

O assunto não está sendo levado à CCJ pelo presidente da Comissão (senador Davi Alcolumbre, inclusive correligionário de Feitosa). Isso aí precisa ser resolvido porque o País não pode parar em função de interesses que fazem o presidente da CCJ não levar o assunto a ser votado na Comissão. 
 

O senhor pretende se posicionar a favor dessa indicação do André Mendonça?  

Eu pretendo participar da sabatina. O André Mendonça já foi indicado pelo presidente da República e eu não penso, em hipótese nenhuma, em obstaculizar isso. Eu acredito que o Brasil precisa que o assunto seja resolvido e não estar agora com essa pendência em que não se leva à votação. Com isso, perde toda a sociedade.  

O governo federal está com um projeto que é a mudança do Bolsa Família para o Auxílio Brasil e há uma polêmica. É um tema que, com certeza, vai chegar ao Senado. O senhor é a favor dessa medida? 

Eu acho importante que não seja interrompido o benefício. A mudança de nome ou da forma que querem levar, o importante é que o benefício continue, porque esse benefício, se não (for pago), o povo morre de fome... Então, o importante é que o programa continue e não traga prejuízo à sociedade.  

O senhor foi deputado federal entre o final da década de 1990 e o começo da década de 2000, depois não participou mais de disputas eleitorais. Essa oportunidade de o senhor voltar agora significa também que está voltando para as disputas eleitorais? 

Não tenha dúvida. Fui deputado federal no final da década de 1990, como você disse, até 2002. Tive uma atuação lá na Câmara nesse período em um só mandato, mas tive a oportunidade de aprovar um projeto de lei importante, que foi a criação da TV Justiça, um projeto que é de minha autoria. 

De lá para cá, não mais disputei eleição. Depois, me tornei suplente do senador Tasso, a convite dele, e agora estou tendo essa oportunidade.

Eu me preparo para ser pré-candidato ao cargo de deputado federal. Pretendo, sim, em 2022, disputar uma vaga na Câmara Federal.  

Outro assunto que o senhor, inevitavelmente, vai tratar em Brasília é a questão do novo partido, o União Brasil, que surge da fusão do DEM, que é o seu partido, com o PSL. O diretório local vai ficar com o senhor? Como estão essas negociações? 

Temos conversado e eu sou o presidente do Democratas aqui do Ceará. O PSL tem também seu presidente e, evidentemente, cada um quer ficar no comando do partido fundido, que será o maior partido do Brasil, terá o maior tempo de televisão, com um minuto e quarenta segundos, além do maior fundo eleitoral.  

Então, isso é natural. Eu tenho tido apoio do presidente do meu partido, o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, e tenho tido apoio de outros amigos do partido, como o governador (Ronaldo) Caiado (de Goiás), além de outros que eu estou articulando nesse sentido. Espero ficar comandando o União Brasil aqui no Ceará. Agora, se isso vai acontecer, eu não sei, vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos.

Atualmente, o DEM, aqui no Ceará, é aliado do grupo governista – do PDT e do PT, do grupo comandado pelo senador Cid Gomes e pelo ex-ministro Ciro Gomes –, qual o plano do União Brasil caso dê certo essa costura. (O plano) é manter essa aliança aqui no Ceará? 

O União Brasil, junto com o PSDB, com o senador Tasso, está aberto ao diálogo e muito provavelmente vai manter a aliança que a gente já vem nela, inclusive agora na eleição municipal que elegeu o prefeito (de Fortaleza) José Sarto (PDT). Temos boas relações com o governador Camilo (Santana) e com o senador Cid, então o União Brasil, o PSDB, eu e o senador Tasso pensamos nesse sentido, nesse rumo... É isso que queremos.

Em relação a cargos, o União Brasil chega com a ideia de participar da chapa majoritária ou de formar uma grande bancada na Câmara Federal, qual o objetivo? 

Nosso objetivo é a bancada no Congresso, é nesse sentido que vamos focar e centralizar nossas forças.

O senhor é lá de Tauá, da Região dos Inhamuns, essa questão da regionalidade também vai fazer parte do seu mandato? 

É uma honra muito grande para mim, além de representar o povo cearense, representar meus conterrâneos de Tauá. Você sabe que somos muito bairristas, amamos muito nossa terra e isso, para mim, tem uma simbologia e um significado muito grande. Tauá estará representado no Senado Federal e isso para a gente é muito bom.  

O senhor acha que há espaço para essa agenda de atrair recursos para a região?  

Eu estive agora com o relator do Orçamento, o senador Márcio Bittar, com quem me identifico bastante, e nós estamos muito focados nisso, inclusive para ajudar o prefeito Sarto nessa questão de Orçamento aqui em Fortaleza. Vamos levar adiante todos os projetos que estão lá, dar uma dinâmica no escritório da representação de Fortaleza em Brasília. Já conversei com o prefeito Sarto e vamos concentrar nossos esforços nisso, principalmente em Fortaleza, para ajudar o prefeito na administração da nossa cidade.  

Além de senador que está tomando posse, o senhor é um empresário que atua no setor produtivo com desenvoltura, essa representação do setor produtivo também está no seu radar de atuação lá? 

Não tenha dúvida., Estamos sempre preocupados com os interesses do setor produtivo e estaremos focados nisso também para cumprir à altura a expectativa que as pessoas têm com nosso mandato.