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Como PT, PL e PDT devem articular planos Fortaleza-Caucaia para ampliar chances de atrair eleitorado

Partidos possuem pré-candidaturas próprias nas duas cidades, que são vizinhas e representam os dois maiores colégios eleitorais do Ceará

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Urna Eletrônica
Legenda: PT, PL e PDT possuem pré-candidaturas próprias em Fortaleza e Caucaia
Foto: TSE

Cidades vizinhas e os dois maiores colégios eleitorais do Ceará — além de únicos municípios do Estado a terem a possibilidade de segundo turno —, Fortaleza e Caucaia devem ter também estratégias eleitorais alinhadas, inclusive com alguns partidos lançando candidaturas próprias nas duas cidades. 

É o caso do PT, que terá o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PT), concorrendo na capital e o ex-secretário de Articulação Política do Governo do Ceará, Waldemir Catanho (PT), em Caucaia. No caso de PL e PDT, as pré-candidaturas próprias incluem ainda outros municípios da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), como Maracanaú. 

Pelo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), são pré-candidatos o deputado federal André Fernandes (PL), a deputada estadual Dra. Silvana (PL) e Coronel Aginaldo (PL) — em Fortaleza, Maracanaú e Caucaia, respectivamente. 

No PDT, o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), irá concorrer à reeleição, enquanto em Caucaia o partido tem o ex-prefeito Zé Gerardo (PDT) como pré-candidato à Prefeitura. O deputado estadual Lucinildo Frota (PDT) irá disputar a Prefeitura de Maracanaú. 

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A cientista política e professora de Direito da Universidade de Fortaleza (Unifor), Mariana Dionísio reforça que as campanhas eleitorais nas diferentes cidades do "cinturão metropolitano acabam tendo influência na Capital", especialmente quando se trata de Caucaia e Fortaleza. 

"As campanhas possuem uma relação muito próxima e podem se influenciar, na medida em que são dois colégios eleitorais disputadíssimos e estratégicos, cujos resultados tendem a refletir o posicionamento eleitoral de outros municípios próximos", pontua.

Influência negativa maior do que a positiva

Para Dionísio, no entanto, a influência negativa entre as campanhas das duas cidades tende a ser maior do que uma eventual influência positiva. 

"O problema é que o cenário eleitoral de Caucaia ainda é muito incerto, fragmentado, tornando mais difícil a previsão sobre quais seriam os partidos com melhor projeção. Nem sempre uma candidatura forte em Fortaleza garantirá bons resultados para a mesma legenda em Caucaia, e vice-versa. Mas se, do contrário, um candidato apresenta forte rejeição, influenciará negativamente outros nomes nos municípios mais próximos, e essa é a grande preocupação de muitos dirigentes partidários", avalia.

Tanto Fortaleza como Caucaia possuem um cenário fragmentado de candidaturas. Até o momento, oito pré-candidatos devem participar da corrida pelo Paço Municipal na capital cearense. Na cidade vizinha, seis nomes estão com pré-candidaturas confirmadas — existem chances, no entanto, de mudanças nesses números. 

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Com o grande fluxo de pessoas diariamente entre as duas cidades — com muitos eleitores dividindo a rotina entre Fortaleza e Caucaia, como quem mora em um município e trabalha ou estuda no outro — partidos alinham estratégias para que as pré-candidaturas próprias consigam se fortalecer em conjunto. 

Presidente do PDT Ceará, o ex-senador Flávio Torres relata que foi realizada reunião com todos os pré-candidatos a prefeito do PDT na Região Metropolitana justamente "por conta do grande intercâmbio de eleitores entre esses municípios". 

Além de Fortaleza, Caucaia e Maracanaú, o partido tem pré-candidatura própria, na RMF, em Cascavel, Horizonte e Chorozinho. 

"Todo mundo sabe da grande mistura. Tem gente que mora lá e vota aqui (Fortaleza), vota e mora lá, mas tem parentes aqui. Tem um grande fluxo, um grande movimento", exemplifica. "Não perder de vista que tem que fazer campanha lá, mas também visando o companheiro que está (concorrendo) ali do lado, pelo mesmo partido", diz Torres. 

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Além dos pré-candidatos a prefeito, a reunião também contou com a presença de pré-candidato a vereador nas cidades metropolitanas, o que deve fortalecer esse "trabalho de formiguinha" de interligar as campanhas nessas cidades. 

Conjunturas políticas distintas

Presidente nacional do PDT, o deputado federal cearense André Figueiredo pontua que, apesar de compreender que é importante o diálogo entre as campanhas, considera que a relevância de uma campanha mais conjunta é principalmente nos bairros — sejam de Fortaleza sejam de Caucaia — que fazem limite com a cidade vizinha. 

Segundo ele, as "realidades bem distintas" das duas cidades acabam afastando um pouco as campanhas e diminuindo eventuais influências. "É diferente, por exemplo, do caso de Crato, Juazeiro e Barbalha. É diferente de uma cidade no Maciço de Baturité, até porque é o centro de uma região. Fortaleza e Caucaia têm vidas próprias, vidas distintas", afirma. 

A opinião é compartilhada pelo líder do Governo Lula (PT) na Câmara dos Deputados, José Guimarães. Ele é um dos principais articuladores das campanhas do PT no Ceará. "Cada cidade tem sua estratégia", reforça o deputado. "Mas claro que uma cidade influencia a outra, são cidades irmãs. Se a campanha fortaleza cresce, como começa a crescer, influencia fortemente Caucaia", pondera.

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Estratégia do PT

Apesar do reforço de que o PT deve ter estratégias diferentes nas duas cidades, Caucaia terá a campanha petista comandada por uma figura bem conhecida da população da capital. 

A ex-prefeita de Fortaleza e deputada federal Luizianne Lins (PT) será a coordenadora de campanha de Catanho — aliado antigo da parlamentar, que integrou inclusive a gestão de Luizianne em Fortaleza. Ela tem sido presença frequente nos atos de pré-campanha de Catanho em Caucaia, como plenárias e assembleias para a elaboração do programa de governo participativo. 

Na última quarta-feira (10), ela também apareceu ao lado do prefeito de Caucaia, Vitor Valim (PSB), para anunciar investimentos na cidade, incluindo uma nova maternidade. 

"Com muita alegria, compartilho com vocês mais uma grande conquista para Caucaia: a nova e sonhada maternidade, além do investimento em outras áreas que totalizam R$ 90 milhões. Uma gestão de entregas se faz com parcerias e alinhamento político", disse Valim em postagem nas redes sociais.

Valim desistiu de tentar a reeleição e irá apoiar a pré-candidatura de Waldemir Catanho para a sua sucessão. 

Mariana Dionísio aponta que a "principal ajuda" trazida pela ex-prefeita para a campanha do aliado é a experiência dos oito anos à frente da Prefeitura de Fortaleza. "Essa experiência como gestora pública tende a fortalecer a campanha, sobretudo porque o nome de Catanho ainda não é tão consolidado em comparação aos concorrentes", afirma.

Luizianne tentou ser a pré-candidata do PT na capital cearense, mas acabou se retirando da disputa após Evandro Leitão conseguir maior apoio interno. Para Mariana Dionísio, a forte presença dela na campanha de Caucaia seja "mais em favor de uma convicção própria do que pela unificação da legenda", após a disputa interna. 

"A campanha de Evandro Leitão já está definida, com estratégias bem desenhadas, independentemente da presença (ou ausência) do apoio de Luizianne Lins. Para o grande público apoiador da ex-prefeita, ainda há um certo desgaste na imagem do partido, embora ainda haja tempo para recuperar os votos sem comprometer gravemente a campanha do atual candidato. Mas falar em reunificação real do partido, talvez seja cedo".
Mariana Dionísio
Cientista política e professora da Unifor

Sem citar diretamente Luizianne, José Guimarães reforça que as campanhas de Evandro Leitão e Waldemir Catanho "se somam" "É uma coisa mista, uma coisa se soma a outra. São quadros novos na política cearense, nunca governaram a cidade, mas são gente que tem experiência na vida política. São campanhas que se somam, se articulam e tem grande densidade política e eleitoral", ressalta.

Estratégia bolsonarista

Do lado bolsonarista, as pré-candidaturas em Fortaleza e Caucaia são de estreantes em disputas pelo comando do Executivo. Tanto André Fernandes como Coronel Aginaldo disputaram cargos legislativos, com Fernandes tendo sucesso tanto para a Assembleia Legislativa do Ceará como para a Câmara dos Deputados — em ambas, ele foi o candidato mais votado para o cargo nas eleições de 2018 e 2022, respectivamente.

Presidente do PL Ceará, o deputado estadual Carmelo Neto (PL) reforça que a meta do partido é um alinhamento das campanhas "de forma a maximizar o impacto de suas mensagens". Para isso devem ser feitos eventos e ações conjuntas entre os dois pré-candidatos por exemplo. 

"As campanhas serão coordenadas de forma a maximizar o impacto de suas mensagens, com eventos conjuntos e ações que destacarão tanto a renovação quanto a experiência, criando uma sinergia que potencializa a força do nosso partido na região", afirma.

A estratégia, ainda segundo Carmelo, será mostrar a combinação de características dos dois pré-candidatos e com isso fortalecer a base de apoiadores, "abrangendo um espectro mais amplo de eleitores". "A candidatura de André Fernandes, que traz uma visão jovem e dinâmica, aliada à experiência e ao prestígio do Coronel Aginaldo, formam um time poderoso".  

Uma perspectiva que inclui outras cidades da Região Metropolitana onde o PL tenha pré-candidatura, como Maracanaú. 

"Estamos empenhados em promover um plano de desenvolvimento regional que contemple todas essas localidades, reconhecendo suas peculiaridades e necessidades específicas. Não dá pra pensar em Fortaleza isoladamente; precisamos de uma abordagem que beneficie toda a Grande Fortaleza".
Carmelo Neto
Deputado estadual e presidente do PL Ceará

O dirigente partidário reforçou ainda a participação "ativa" que o ex-presidente Jair Bolsonaro deve ter nas campanhas eleitorais da Região Metropolitana de Fortaleza, com destaque para a Capital e Caucaia. 

Algo que, analisa Mariana Dionísio, busca fortalecer a estratégia do partido que ultrapassa apenas a disputa municipal.

"Ao lançar muitas candidaturas, o PL assume uma postura estratégica interessante sob o ponto de vista do fortalecimento de uma marca. Mesmo que não sejam nomes com grande projeção, a existência de muitos candidatos, mesmo sem grande experiência ou trajetória conhecida, gera a percepção de que a presença política do partido é extensa, o que pode gerar bons frutos para o pleito de 2026", pontua Mariana Dionísio.

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