Como está a corrida para as indicações de pré-candidatos a vice nas eleições em Fortaleza
As negociações devem seguir com intensidade até as convenções partidárias, que começam em 20 de julho
A pouco menos de um mês das convenções partidárias, a pré-campanha entra na reta final com pendências na indicação de pré-candidatos à Vice-Prefeitura de Fortaleza. Até o momento, há apenas uma postulante à vice-prefeita anunciada, enquanto há sete nomes definidos para a disputa a prefeito de Fortaleza – nenhuma mulher deve ser efetivada como cabeça de chapa na disputa, o que não acontece desde 2012.
A escolha para a posição auxiliar deve evidenciar o perfil do eleitorado que cada grupo pretende fisgar, os apoios políticos que busca agregar e, claro, os recursos eleitorais e os tempos de rádio e TV para a campanha.
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Devido a esses fatores, estrategicamente calculados pelas legendas, esse tipo de escolha – e o seu anúncio – fica para última hora. Os partidos têm evitado adiantar detalhes sobre as negociações em curso, mas o Diário do Nordeste mostra o que já foi possível colher até o momento.
O cenário atual da disputa em Fortaleza conta com André Fernandes (PL), Capitão Wagner (União), Eduardo Girão (Novo), Evandro Leitão (PT), José Sarto (PDT) e Técio Nunes (Psol) como cabeças de chapa. A ambientalista Cindy Carvalho (Rede) já foi indicada como vice-prefeita na chapa psolista.
Tratativas governistas
Com um volume considerável de partidos na coligação majoritária, o prefeito José Sarto (PDT) busca a reeleição, mas as apostas de bastidores é de que não vai repetir a chapa de 2020. O vice-prefeito Élcio Batista preside o PSDB no Ceará, partido que deve ocupar a posição novamente na chave, mas com um nome diferente.
Élcio reitera que o assunto não foi conversado ainda. “Não tem essa discussão dentro do partido, somente durante o período de julho e nas convenções. [...] Agora é o momento em que tem muita fofoca, muita futrica, muita expectativa, mas é esperar para ver as convenções”, diz.
Questionado sobre se estaria à disposição de concorrer novamente à Vice-Prefeitura, o dirigente disse o seguinte: “Será tomada uma decisão que for a melhor para o PSDB, a gente entende que o partido está acima das nossas vontades pessoais”.
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Também reforçou que o prazo para oficialização de candidaturas na Justiça Eleitoral está longe – as convenções ocorrem de 20 de julho a 5 de agosto, e o registro deve ser feito até 15 de agosto – e que a aliança entre PSDB e PDT, sobretudo mediada por Tasso Jereissati e Ciro Gomes, deve prevalecer.
“Há um compromisso do Sarto com o senador Tasso, do PDT com o PSDB, mas acho que tem conversa com muitos partidos. O PSDB tem aliança com o PDT desde 2020, então a gente acredita que o PSDB tem sido parceiro, apoiado o prefeito, tem se mobilizado coletivamente, as lideranças do partido tem feito o possível para apoiar as iniciativas da Prefeitura”, avalia.
Quem cuida diretamente do assunto é o prefeito José Sarto. Ele garantiu ter ainda "bastante tempo" para tratar do assunto e que toda a base aliada a ele na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) deve participar da discussão sobre quem ocupará a vaga de vice.
"A discussão da vice não é ainda a pauta da ordem do dia, porque a minha pauta administrativa é muito grande. Eu estou com com o problema de agenda, todo dia tendo que entregar obras. Mas a gente vai discutir a questão da vice com a base aliada no tempo devido, acho que julho", projeta Sarto. A declaração foi feita em entrevista durante agenda do presidente Lula (PT) em Fortaleza, na última quinta-feira (20), da qual o prefeito participou.
Na última semana, declarações de parlamentares governistas na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) deram outro tom para o assunto. Ao utilizarem o tempo de fala, os vereadores Adail Júnior (PDT), Luciano Girão (PDT), Professor Enilson (Cidadania) e Didi Mangueira (PDT) fizeram declarações que deixaram a entender que a vereadora Cláudia Gomes (PSDB) poderia ser escolhida como a vice na chapa encabeçada pelo PDT.
Indagado sobre como avalia o nome da vereadora, Sarto desconversou. "A mim não compete. Isso é uma parceria que tem que ser vista por vários interlocutores e protagonistas de processo eleitoral que não só o PDT. O PDT tem uma base aliada ampla na Câmara de Vereadores e a gente deve discutir com toda ela", afirma.
Indagada sobre o assunto na quarta-feira (19), Cláudia pontuou que a definição de quem ocupará o posto de vice parte de uma decisão coletiva, mas que, até o momento, não houve nenhuma tratativa que pudesse colocá-la nesta condição. "O PSDB, que até então é a sigla que sabemos que vai ter o privilégio de indicar uma pessoa, não decidiu ainda quem do partido poderia assumir essa função", revelou a tucana.
"Até então, nada foi conversado com o coletivo do partido ou com a direção", continuou, pontuando que os correligionários estão fazendo reuniões periódicas com o presidente Élcio Batista.
A vereadora falou ainda que o movimento de sugerir seu nome partiu dos colegas de plenário pela "vontade deles, como representantes da população". "Para mim foi até uma surpresa, não esperava isso semana passada", frisou a entrevistada, alegando que "não tem ideia" se há alguma possibilidade de ser convocada para esse posto.
"Existe a possibilidade de ser qualquer pessoa do PSDB que o grupo indique e que o senador Tasso (Jereissati) realmente concorde, porque ele é a pessoa principal do partido, é quem vai dar a palavra final", justificou, mencionando também a participação do grupo político na escolha. Gomes salientou que a definição não acontecerá "precocemente", pela crença de que um anúncio antecipado poderia causar um desgaste.
Líder do PDT na CMFor, Didi Mangueira reforçou a declaração pública em prol da colega de Parlamento. "A gente tem defendido que a chapa do PDT seja formada pelo Sarto e na vice uma mulher. Como há um acordo de manter a vice do PSDB, é natural que nós vereadores, por conhecer a vereadora Cláudia Gomes de vários mandatos, defendemos o nome dela como indicada para a vice do Sarto".
A reportagem procurou os vereadores Adail Júnior, Luciano Girão e Professor Enilson, que fizeram declarações públicas sobre a possibilidade de Cláudia ser alçada para o posto de vice-prefeita na majoritária com o prefeito Sarto. A matéria será atualizada caso haja uma resposta.
O arco de aliança ainda conta com o Cidadania (federado com o PSDB), o Avante, o PRTB, o DC, o PMN, o PRD, o PMB e o Agir. Da última eleição municipal para cá, o grupo perdeu partidos com estrutura administrativa mais robusta, como, o PT, o PSD, o PSB e o PP.
Negociações na oposição
Os dissidentes do grupo governista fortalezense compõem bloco que deve apoiar a pré-candidatura do deputado estadual Evandro Leitão (PT) à Prefeitura. Este também tem se mantido cauteloso ao comentar as trativas para a escolha do(a) seu (ou sua) companheiro(a) de chapa.
Sempre resumindo que vai conversar com aliados sobre esse espaço, tanto o parlamentar quanto outras lideranças petistas têm evitado abrir o jogo sobre as perspectivas para vice.
Na última segunda-feira (17), quando esteve no Seminário de Gestores Públicos, Leitão foi abordado e provocado a falar sobre o assunto, mas manteve a posição. "Ainda não. É uma situação que nós iremos fazer. Isso é uma construção, não é nada de imposição, a gente faz conversando e escutando cada partido e todos aqueles que desejam. No momento apropriado faremos o anúncio da vice", disse.
A postura adotada pelo pré-candidato é semelhante a de dirigentes de siglas do seu entorno. “Estamos discutindo e deveremos, sim, marchar com o PT. Acreditamos que teremos uma reunião com os partidos aliados sobre quem seria o melhor nome”, projeta o presidente do PSD Fortaleza, o deputado federal Luiz Gastão.
O parlamentar acredita que o “tamanho e representatividade” do partido o habilita para participar das discussões, mas prefere não adiantar os nomes estudados para a investida. “Temos nomes, sim, mas seria preciso discutir projetos primeiro. O mais importante é discutir um projeto para Fortaleza e o tamanho e espaço que cada partido vai ter”, avalia.
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O presidente do PSB na Capital, Osmar de Sá Ponte, também se limita a informar que a aliança vai decidir quem ocupará a pré-candidatura a vice. Ele admite que “uma mulher seria a melhor indicação” nesse caso, mas evitar comentar sobre nomes específicos: “oficialmente, não existe solicitação de indicação”.
A ex-secretária estadual de Cultura, Luisa Cela, é uma das figuras ventiladas para a função. Ela deixou o cargo no governo no último dia 5, já sinalizando essa possibilidade.
“Estou deixando a Secretaria para ficar à disposição do meu partido, o PSB, mas sem ainda nenhum tipo de definição. As coisas têm hora certa para acontecer, e vou me dedicar ao projeto político do qual faço parte, independentemente da tarefa que me seja dada”, declarou, no início do mês.
Também presente no primeiro dia do Seminário de Gestores Públicos, na segunda, a ex-titular da Cultura foi indagada pela reportagem sobre sua participação como vice, Cela desconversou, mas afirmou que está disponível para a atribuição que for demandada pelo conjunto de membros e pela cúpula da sua legenda.
"Me licenciei a pedido do meu partido, a partir de uma articulação, para estar a serviço de um projeto político do PSB aqui no estado do Ceará, na cidade de Fortaleza. Estou aguardando, as coisas têm um tempo para acontecer. Mas, independente da tarefa, esse vai ser meu compromisso", destacou.
Apesar disso, segundo revelou, seu nome foi escalado para fazer parte do grupo que irá elaborar as propostas do atual chefe do Legislativo estadual para a disputa eleitoral. "Vou estar na equipe do programa de governo do pré-candidato Evandro Leitão para que Fortaleza tenha um prefeito que dê a ela o tamanho que merece", pontuou a ex-secretária. Mais uma vez sobre a possibilidade de ser a vice-prefeita na chapa encabeçada pelo petista, ela, respondeu: "Vamos aguardar, só o tempo para dizer".
No comando do diretório municipal do PP, o secretário das Cidades, Zezinho Albuquerque, diz que o partido se sente “contemplado” com a pré-candidatura de Evandro Leitão e que está conversando com o grupo para verificar qual o melhor nome para compor a chapa.
“O importante é ganhar eleição e transmitir mensagem ao povo de Fortaleza, de melhorar a qualidade de vida do povo”, afirma.
Entre os maiores partidos da aliança petista, está, ainda, o Republicanos, que foi procurado pela reportagem para entender como estão as tratativas. Quando houver resposta, a matéria será atualizada.
Negociações no campo da direita
Também na oposição estão as chapas protagonizadas por União Brasil, com o ex-deputado federal Capitão Wagner; pelo PL, com o deputado federal André Fernandes, e pelo Novo, com o senador Eduardo Girão. Há expectativas ainda de uma fusão, em busca de canalizar as opções no campo da direita. O assunto estaria sendo discutido diretamente pelas direções nacionais das legendas.
“Tanto a nacional do PL como a nacional do União do Brasil estão conversando, estão conversando também com outros partidos. Acredito que somente em julho, nas proximidades da convenção, é que a gente vai definir o arco de aliança, e, a partir desse arco de aliança, a gente vai definir o nome com um perfil que venha a compor a nossa chapa na posição de vice”, informou Wagner, durante apresentação de sua pré-candidatura em Fortaleza, no início do mês.
Ainda não se tem uma posição oficial sobre em que moldes se daria essa aliança nem sobre quem ficaria em destaque na chapa, uma vez que todos têm bom desempenho eleitoral na Capital. Perguntado, então, sobre a possibilidade de retirar a sua pré-candidatura em prol do protagonismo de outro colega da direita, Capitão Wagner menciona “humildade”, apesar de nome “consolidado”.
“Tenho mantido muita humildade em relação a nossa pré-candidatura. Apesar de, em todas as pesquisas registradas, o meu nome aparecer com mais de 30 pontos, a gente entende que ainda faltam quatro meses para a eleição se efetivar”, declara. “Lógico que, com o partido sólido, com o programa de governo que a gente vem construindo há muito tempo, com o grupo de apoiadores que a gente tem hoje, a pré-candidatura está muito consolidada, mas com o pé no chão, com muito respeito”, completa.
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Procurado, o senador Eduardo Girão também sinalizou a intenção de seguir como pré-candidato a prefeito, mas sempre aberto a parcerias com os partidos citados acima.
“Temos uma pré-candidatura sólida, que vem apresentando bom crescimento e reconhecimento da sociedade por apresentarmos projetos responsáveis e que podem mudar o atual cenário. Portanto, sigo como pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza. Contudo, isso não impede o diálogo com PL e União Brasil, no sentido de indicar a pessoa que estará ao nosso lado como pré-candidata a vice-prefeito”, disse, por meio de nota.
“As pesquisas veiculadas indicam que o eleitor quer uma verdadeira mudança. Elas mostram que sou o pré-candidato com a menor rejeição entre os demais e a maior potencialidade de crescimento. O cenário é de otimismo. Vamos seguir trabalhando forte e com convicção”, completou.
Já André Fernandes descarta tratativas nacionais de aliança para o pleito municipal. Ele disse que não há conversas entre as cúpulas dos partido e que a direção nacional lhe deu autoridade para tratar desse tipo de negociação em Fortaleza, uma vez que, além de pré-candidato a prefeito, é presidente do diretório municipal.
“A única possibilidade do PL aceitar aliança é tratando sobre 2026. O PL está disposto a apoiar um candidato a senador do União, se o União aceitar indicar nossa vice agora em 2024. Tirando isso, zero possibilidade de aliança”, afirmou.
Mais à esquerda do espectro
A UP é outro partido que ainda não decidiu que estará na vaga que concorrerá à Vice-Prefeitura. Até agora, foi definido apenas quem estará no topo da chapa: o historiador Haroldo Neto.
A única pré-candidata a vice-prefeita até o momento é a ambientalista Cindy Carvalho (Rede), alocada em chapa com o produtor cultural Técio Nunes (Psol). Esse também foi o primeiro caso de fusão de pré-candidaturas nas eleições de 2024, em Fortaleza.
A Rede e o Psol são federados, desde 2022, e devem disputar eleições juntos desde então. No início do ano, contudo, ambos os partidos lançaram nomes próprios para a campanha ao Executivo, assunto que gerou impasse até o início de maio. Em reunião da federação, ficou decidido que os dois se uniriam em uma só chapa, chegando à composição atual.
Chapas à Prefeitura de Fortaleza previstas até o momento
- André Fernandes (PL) - pré-candidato a prefeito / sem definição para vice;
- Capitão Wagner (União) - pré-candidato a prefeito / sem definição para vice;
- Eduardo Girão (Novo) - pré-candidato a prefeito / sem definição para vice;
- Evandro Leitão (PT) - pré-candidato a prefeito / sem definição para vice;
- Haroldo Neto (UP) - pré-candidato a prefeito / sem definição para vice;
- José Sarto (PDT) - pré-candidato à reeleição / sem definição para vice;
- Técio Nunes (Psol) - pré-candidato a prefeito / Cindy Carvalho (Rede) - pré-candidata à vice-prefeita.