Usina de Biodiesel, Lubnor e energia verde: as pautas de Magda Chambriard e da Petrobras no Ceará

Magda terá o nome avaliado pelo Conselho de Administração da companhia nesta sexta

Escrito por Mariana Lemos , mariana.lemos@svm.com.br
foto de Magda Chambriard
Legenda: Se aprovada pelo conselho, Magda Chambriard será a segunda mulher a presidir a Petrobras
Foto: Agência Brasil

A mudança de gestão da Petrobras, após a demissão de Jean Paul Prates, pode simbolizar uma oportunidade de crescimento nos investimentos do Ceará. Magda Chambriard, indicada pelo presidente Lula, terá o nome avaliado pelo Conselho de Administração da companhia nesta sexta-feira (24). 

Mestre em Engenharia Química, Magda Chambriard iniciou a carreira na Petrobras em 1980 e ocupou diversos cargos na empresa. Em 2002, ela foi cedida à Agência Nacional de Petróleo (ANP), entidade que foi diretora-geral entre 2012 e 2016. 

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Magda também já atuou como coordenadora de pesquisa de óleo e gás da Fundação Getulio Vargas Energia. Em seus posicionamentos, a próxima presidente da Petrobras defendeu o crescimento da indústria, com ampliação do parque de refinaria do Brasil e da capacidade da produção de diesel.

Em colunas para o portal Brasil Energia, Magda Chambriard destacou a necessidade de o Brasil agregar valor ao petróleo brasileiro, investindo no parque de refino. A dirigente também defendeu o licenciamento da Bacia da Foz e o aumento dos investimentos nos estados onde há estaleiros da estatal. 

Desenvolvimento industrial

Caso tenha o nome aprovado, Magda terá que conciliar os interesses pessoais com os do grupo acionistas da companhia. A avaliação do diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma Ramos dos Santos, é que essa é uma oportunidade de a Petrobras retomar a função pública e ser um instrumento do desenvolvimento industrial brasileiro.

Ele aponta que é necessário que a estatal retome uma política de investimentos para ampliar a capacidade de refino, reduzindo a dependência de importações, e desenvolver outras potencialidades brasileiras, como os biocombustíveis e o hidrogênio verde.

“Ainda não sabemos quais serão efetivamente as medidas adotadas por uma gestão que ainda não assumiu. No entanto, identificamos que o Ceará tem forte potencial para retomada da produção de biocombustíveis na planta da PBio em Quixadá, assim como para aprimorar as atividades da refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor)”, aponta o diretor técnico do Ineep.

A Usina de Biodiesel de Quixadá (UBQ), ativo da PBio, pertencente à Petrobras, está desativada desde 2016. A planta já chegou a figurar entre os empreendimentos que seriam vendidos pela estatal e segue sem um destino definido. O presidente Lula teria demonstrado interesse em reabrir a usina, mas nenhuma sinalização oficial foi realizada pela Petrobras.

O engenheiro de Petróleo Ricardo Pinheiro, membro da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), não vê um cenário provável de investimentos da companhia no Ceará a curto e médio prazo. “A UBQ depende de muitos fatores, inclusive da conclusão da Transnordestina, para se viabilizar”, explica. 

Não vejo oportunidades para o Ceará a não ser em investimentos da Petrobras em energias renováveis. Mas este não será um tema de primeira importância no mandato de Magda. Sobrará pouco para o Ceará.
Ricardo Pinheiro
membro da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET)

REFINARIA LUBNOR

Uma das principais pautas que chama atenção para a Petrobras nos próximos meses é o futuro da refinaria de Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), localizada no Porto do Mucuripe, em Fortaleza. A venda do equipamento havia sido aprovada em 2022, mas o contrato foi rescindido no fim do ano passado.

Em abril, a refinaria anunciou que a Petrobras iniciou estudos para eliminar as emissões de carbono do equipamento. O objetivo é substituir o gás natural, utilizado na geração de energia, por biometano. Ainda não há prazo para o andamento desse processo. 

Ricardo Pinheiro afirma que os estudos para a eliminar as emissões de carbono da Lubnor não prosperaram no curto espaço de tempo. Ele destaca que o Ceará foi prejudicado no governo anterior e tem oportunidades de se beneficiar com a retomada de uma visão pró-indústria da Petrobras, o que não prevê para um primeiro mandato de Magda.

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“A Magda foi chamada para reforçar os investimentos da Petrobras no mercado interno. A visão do Governo para a gestão da Petrobras é retorná-la como locomotiva da indústria nacional como no segundo governo Lula. A ampliação do refino próprio passa por esses planos, com a recompra de refinarias desinvestidas ou a construção de novas unidades”, aponta. 

A Petrobras não se posicionou sobre a descarbonização da Lubnor, a possível reativação da Usina de Biodiesel de Quixadá ou outros planos para o estado do Ceará. Segundo a estatal, informações sobre investimentos poderão ser divulgadas quando uma nova gestão assumir. 

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Apontado como promissor hub da produção de hidrogênio verde, o Ceará poderia ser alvo de investimentos da Petrobras nesse setor. Mahatma dos Santos atesta que a estatal pode voltar a pensar no Estado de forma integrada a projetos regionais, principalmente associados à cadeia do hidrogênio verde.

Ele destaca que os temas de sustentabilidade e transição energética estão penetrados na pauta da estatal. “Em seu Plano Estratégico 2024-28+ estão previstos cerca de US$ 11,5 bilhões de investimentos na descarbonização de suas atividades. Essas agendas são incontornáveis para quem assumir a gestão da companhia”, afirma o diretor técnico do Ineep.

A magnitude e a velocidade dessas agendas devem ser arbitradas pela gestão da companhia, assim como pelo corpo acionista. 

Na avaliação de Ricardo Teixeira, é possível que as ações de transição energética não avancem de forma significativa da nova gestão, já que há uma mensagem pró-petróleo e não há uma cobrança do governo e dos investidores.

“Como o Brasil já possui uma matriz energética bem mais verde que muitos outros países, isso será a principal justificativa para que a Petrobras se dê o direito de produzir emissões de GEE (gases do efeito estufa) por mais algumas décadas sem nenhum constrangimento”, opina. 

Informações preliminares apontam que Magda Chambriard deve fazer mudanças em cerca de vinte diretorias. A pasta da transição energética não deve ter substituições no comando.

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