Entenda como a Argentina e a Ásia derrubaram em 26% a exportação de calçados no Ceará

Estado também tem diminuição do preço médio dos pares exportados

Escrito por Mariana Lemos , mariana.lemos@svm.com.br
foto de produção de indústria calçadista
Legenda: Ceará acumula queda nas exportações de calçados de 26,3%
Foto: Fabiane de Paula

A exportação de calçados do Ceará de janeiro a abril de 2024 caiu 26,3% em valor, na comparação com igual período do ano passado. O número de pares exportados teve queda de 22,4%. Os dados são da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

O comportamento chama atenção, já que o Estado tem a segunda maior exportação de calçados do Brasil, mas não é isolado. Todos os principais estados exportadores tiveram queda no valor total e nos pares enviados ao exterior. 

No acumulado do quadrimestre, as exportações do Brasil somaram 35,6 milhões de pares e US$ 344 milhões de valor total, quedas de 26,7% e 21,8% em relação ao ano passado, respectivamente. 

Na comparação mensal, entre abril de 2024 e de 2023, a exportação cearense também decaiu em valor (-23,4%), pares (-11,1%). As exportações do País tiveram queda no mês de 22,8% e 18,8% em pares e valor total exportado, respectivamente. 

O Ceará foi um dos únicos dois estados que também teve perda no valor médio dos pares de calçados exportados no acumulado do quadrimestre. O preço médio caiu 5,1% em comparação com igual período de 2023. Na Paraíba, a queda no preço dos pares exportados foi ainda maior, de 20,7%.

Como a Ásia e a Argentina influenciaram?

Ana Karina Frota, gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), aponta que os resultados negativos do setor têm fundamento na desaceleração da economia e no reposicionamento global. 

“No caso específico do setor de calçados, é provável que o retorno da produção asiática e a reinserção no mercado mundial sejam as principais razões da diminuição das vendas internacionais”, afirma.

A especialista destaca que um dos principais destinos dos calçados brasileiros é a Argentina, que vem sofrendo impactos de uma crise. No acumulado do quadrimestre, o país vizinho reduziu a importação de calçados do Brasil em 39%. Os Estados Unidos segue como o principal mercado, mas também registrou queda de 9,7% na comparação com o ano passado. 

Por outro lado, cresceu o preço médio dos produtos embarcados para os Estados Unidos (6%) e Argentina (23,5%). O terceiro maior mercado dos calçados brasileiros é a Espanha, que também registrou queda em valor total exportado (-25,8%) e pares exportados (-26,2%).

DIFICULDADES DA INDÚSTRIA CALÇADISTA CEARENSE

A produção calçadista cearense enfrentou grande baixas em 2023, principalmente devido à saída da Paquetá Calçados, que tinha produção em Uruburetama, Tururu, Pentecoste, Apuiarés, Itapajé e Irauçuba. 

O grupo Paquetá passou por processo de recuperação judicial de 2019 até novembro de 2023 e enfrentava severa crise financeira. Originada do Rio Grande do Sul, a empresa tinha operação no Ceará há trinta anos. Mais de 1.900 trabalhadores foram demitidos - cerca de 1.340 recontratados pela Arezzo.

O Ceará perdeu 3,4 mil empregos no setor em 2023, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. Em todo o país, foram 20,75 mil postos de trabalho perdidos no setor ao longo de 2023, o pior resultado desde o auge da pandemia de Covid-19, em 2020. 

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A indústria calçadista cearense encerrou o ano com 63,2 mil pessoas empregadas, 5% menos do que em 2022. Baixas seguem sendo registradas no setor cearense 2024: em março, o total de empregos era de 62.485, 1,16% a menos que o do fim do ano passado. 

Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (SDE) do Ceará atribuiu as baixas nas exportações à instabilidade do comércio na América do Sul. “Até abril deste ano, o setor calçadista do Ceará apresentou uma redução da FOB de US$ 13.6 milhões quando comparado ao primeiro quadrimestre do ano passado. Deste montante, 62% corresponde à redução do consumo da Argentina, que vem passando por um momento de instabilidade econômica doméstica, a qual está afetando diretamente o consumo da sua população”, destaca Aline Xavier, economista da pasta.

A SDE reconheceu que a situação demanda atenção e monitoramento, mas apontou que “ainda é cedo para tratar o cenário como crise”, já que o segundo semestre geralmente é mais aquecido que o primeiro para o setor. Questionada pela reportagem, a pasta não informou quais ações estão sendo tomadas para estimular a recuperação do setor.

EXPECTATIVAS NO MERCADO DOMÉSTICO

Apesar das baixas nas vendas para o exterior, a Abicalçados projeta um avanço da produção nacional, impulsionada pelo mercado doméstico, que pode crescer entre 2,4% e 3,8%. 

O acúmulo de resultados negativos nas exportações já estava nas estimativas, segundo o presidente da entidade, Haroldo Ferreira. A associação projeta uma recuperação no segundo semestre de 2024 e que, no acumulado do ano, o volume de exportações caia entre 6% e 9%

“A economia internacional ainda está bastante instável, principalmente em países da América Latina, que são alguns dos nossos principais destinos. Ao longo da segunda parte do ano, devemos registrar uma melhora, pois iniciam as vendas das coleções de Verão, as mais rentáveis para a indústria nacional”, afirma o dirigente.

 

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