Terminais itinerantes da Transnordestina devem começar a operar em 2025; entenda
Ferrovia passará a transportar cargas a partir do ano que vem, garante presidente da TLSA
No caminho dos 673 quilômetros (km) já concluídos da Ferrovia Transnordestina, a empresa responsável pela construção da linha férrea já vislumbra a instalação de terminais itinerantes para cargas.
O assunto foi tratado em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste por Tufi Daher Filho, presidente da Transnordestina Logística S.A. (TLSA), companhia responsável pela construção da linha férrea. Ele ainda preside a Ferrovia Transnordestina Logística S.A. (FTL), e ambas as empresas são subordinadas à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
A ideia, reforçada por Tufi Daher ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no início de agosto, é começar a operar a Transnordestina já em 2025 entre São Miguel do Fidalgo (PI) e o interior do Ceará, nos trechos onde a ferrovia já está concluída.
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Esse transporte de carga seria amparado com pontos de apoio, definidos pelo presidente da TLSA como "terminal intermodal para descarga de produtos", com características que remetam a um local itinerante.
Isso significa que não necessariamente os terminais serão fixos em uma mesma cidade, a exemplo do que acontecem com os portos secos, complexos instalados geralmente em locais distantes do mar (como portos marítimos tradicionais) que funcionam como apoio logístico e com fiscalização alfandegária em alguns casos.
Não adianta eu colocar um terminal lá em Quixeramobim se a ferrovia ainda não chegou lá no ano que vem. A princípio, estamos olhando Iguatu para fazer esses primeiros transportes. Não é um terminal fixo, um porto seco. É um terminal intermodal para descarga de produtos, principalmente grãos. Pode ser um terminal itinerante. Se a gente tiver condição de montar pequenos em Iguatu e Quixadá, um maior em Quixeramobim, assim vamos fazer, mas ainda não há definição".
Iguatu é um dos locais pensados pela TLSA para a instalação do terminal itinerante. A cidade é a maior da região Centro-Sul do Ceará e está com a Transnordestina concluída no trecho que passa pelo município.
Na visita ao Ceará, Lula cobrou ainda que a Transnordestina, que tem cronograma atual de entrega total do trajeto entre São Miguel do Fidalgo (PI) e o Porto do Pecém (CE) previsto para o primeiro semestre de 2027, seja antecipada e inaugurada "dentro do calendário eleitoral de 2026".
Missão Velha no radar do terminal itinerante
Em abril deste ano, o Governo do Ceará desapropriou um terreno em Missão Velha, na região do Cariri, para a instalação de um Terminal Multimodal de Cargas. As informações foram publicadas no Diário Oficial do Estado (DOE).
Segundo Tufi Daher, a TLSA está em tratativas em conjunto com representantes do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) para a instalação de um terminal em Missão Velha, mas ainda não há definição sobre qual será o tipo da estrutura a ser instalada na cidade.
"Iniciamos algumas conversas, mas ainda não se definiu um modelo nem o tipo de carga. Para cada tipo de carga, tem que ter um tipo de terminal. Grãos é uma maneira, granéis líquidos é outra configuração, mas não está fora dos planos de ter um terminal em Missão Velha", expõe o presidente da empresa.
Toda a discussão em torno dos terminais de apoio à Transnordestina, sejam eles itinerantes ou não, estão vislumbrando o início das operações comerciais da ferrovia já no próximo ano. A ideia é transportar cargas entre São Miguel do Fidalgo, o interior de Pernambuco e o Centro-Sul do Ceará. A linha férrea já está concluída até Acopiara (CE).
Ceará terá três terminais de carga
Já de olho no início das operações, o Ceará deve receber mais de um terminal para movimentação de produtos, estuda a TLSA. Cada um deles, no entanto, será específico para determinadas cargas, ainda que o maior destaque seja para grãos.
Segundo a empresa, a previsão é atender "os grandes produtores de grãos a partir do Piauí e a bacia leiteira e pequenos médios agricultores do Ceará". A TLSA afirma ainda que o terminal de grãos da Transnordestina será instalado entre Iguatu e Quixadá, que compreendem 201 km de ferrovia.
A localização dos outros dois terminais "ainda será definida pela empresa". De acordo com a companhia, os locais serão destinados para fertilizantes, atendendo aos produtores agropecuários cearenses, e para combustíveis.
Atualmente, 55,8% da ferrovia está concluída. Na chamada fase 1, entre São Miguel do Fidalgo e o Porto do Pecém, o percentual de execução dos trilhos chega a 70%. No Ceará, onde se concentram as obras agora, a linha férrea avança entre Acopiara e Quixeramobim, na execução simultânea dos lotes 4 e 5.
Contratação de lotes deve chegar a Aracoiaba ainda em 2024
Durante visita do presidente Lula ao Cipp no início de agosto, a TLSA celebrou, com a construtora Marquise, já responsável pelos lotes atualmente em construção, o contrato para a execução do lote 6, entre Quixeramobim e Quixadá.
Com a promessa de agilidade na liberação dos R$ 3,6 bilhões restantes oriundos de financiamentos públicos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com o Banco do Nordeste (BNB), a expectativa da TLSA é de que os lotes 7 (Quixadá — Itapiúna), 8 (Itapiúna — Baturité) e 9 (Baturité — Aracoiaba) sejam contratados ainda neste ano.
Segundo a empresa, com o avanço nas obras, a operação em 2025 começará em fase de "comissionamento", isto é, de forma provisória. Os primeiros transportes de cargas terão prioridade para materiais como soja e farelo, milho e calcário.
O transporte será a partir do Terminal Intermodal de Cargas do Piauí até o Centro-Sul do Ceará, como explica Tufi Daher. No momento, Iguatu é o município mais estudado para receber o terminal cearense itinerante, que pode avançar para outras cidades conforme o andamento das obras.