Taxação do ICMS nas refinarias pode não baratear combustíveis

De acordo com o assessor econômico do Sindipostos, mudança não seria suficiente para reduzir os preços de revenda da gasolina nas bombas, por exemplo. Alteração seria trocar "seis por meia dúzia", diz ele

Escrito por Redação , negocios@svm.Com.Br
Legenda: Cobrança do ICMS nas refinarias poderia tornar fiscalização sobre a arrecadação menos burocrática
Foto: Foto: Thiago Gadelha

O presidente Jair Bolsonaro disse, ontem, que propôs ao ministro de Minas e Energia estudos a respeito da cobrança do ICMS sobre o valor do combustível na refinaria, em vez de incidir sobre o valor nas bombas. A ideia é reduzir o valor do combustível para o consumidor final. Porém, para o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos), a mudança, em discussão, não deve ter os efeitos necessários, e o preço dos combustíveis devem se manter no patamar atual.

"Apresentei uma proposta que vai ser estudada na questão do ICMS. Hoje em dia, o ICMS é cobrado em cima do preço final da bomba. Fica em torno de R$ 5 o preço do combustível, então, em média, 30% (de ICMS), dá R$ 1,50. Se cobrar na refinaria, o preço da refinaria está em R$ 2, teria que ser cobrado 75% para equilibrar. Queremos mostrar que a responsabilidade final do preço não é só do Governo Federal", disse o presidente.

Bolsonaro também afastou do Governo Federal a responsabilidade sobre o alto preço do combustível. Ele disse que governadores "obviamente têm uma parcela de responsabilidade no preço final" e ainda que deseja "quebrar monopólios" para reduzir preços ao consumidor. As mudanças, contudo, devem passar pelo Congresso Nacional e pelas agências reguladoras antes de serem aprovadas.

Apesar do anúncio do presidente, o assessor econômico do Sindipostos, Antônio José, afirmou que a mudança poderá não surtir o efeito esperado, mantendo o patamar do preço de revenda dos combustíveis inalterado. "Se calcularmos, ficará seis por meia dúzia. A princípio, não muda nada. O ideal seria ICMS zero, mas o Estado tem que ter essas taxas. Devemos aguardar o estudo", disse.

Ele ainda ponderou que pode ser prematuro analisar a questão, já que não foi dita a alíquota que será usada pelo Governo Federal na taxação do ICMS dos combustíveis nas refinarias. "A declaração do presidente é uma suposta ideia que não chega a nada. Jogou o problema, mas não deu uma solução. Não podemos especular sobre algo que não foi realizado", afirmou José.

Reforma tributária

Segundo o representante do Sindipostos, o Governo Federal precisaria de uma reforma tributária geral para modificar a tributação. "Ele não tem poder de mexer nos estados sem uma reforma. Ele poder estar querendo provocar o debate para fazer a reforma tributária. Quer sensibilizar as pessoas para que elas entendam o assunto", pontua.

Fiscalização

Já Hamilton Sobreira, membro da comissão de Direito Tributário da OAB-CE, explica que a proposta do Governo Federal visa desburocratizar a fiscalização relacionada à taxação dos combustíveis.

Ele destaca, no entanto, que a medida não indica que haverá uma diminuição da carga tributária, ressaltando que ainda será preciso analisar como será o repasse do ICMS para os estados. "O procedimento de substituição tributária não serve para reduzir a carga tributária, e sim para tornar a fiscalização menos burocrática, concentrando tudo no início da cadeia produtiva. Se a usina está no Rio de Janeiro, ele vai fazer a tributação toda lá. Mas será que vai impactar na diminuição da arrecadação do ICMS em cada Estado?", questiona o advogado.

Já o consultor de petróleo e gás, Bruno Iughetti, afirma que a taxação do ICMS dos combustíveis na refinaria seria bom para a distribuição e para a revenda, acabando por beneficiar o consumidor final. "É uma medida sensata e lógica, pois teríamos a incidência do ICMS na origem, não no destino final", disse.

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