Supermercados reduzem a variedade de marcas de leite em meio à alta de preços; entenda

Produto não chega a faltar, mas aparece nas prateleiras em menor quantidade e variedade

Escrito por Heloisa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
Legenda: Supermercados têm diminuído a variedade de marcas em busca de manter preços
Foto: Arquivo pessoal

Comprar leite tem ficado cada vez mais caro e mesmo as opções de escolha do produto tem diminuído nos supermercados. Varejistas cearenses oferecem o produto em quantidades menores e há uma menor variedade de marcas disponíveis. 

De acordo com a Associação Cearense de Supermercados (Acesu), não há risco de desabastecimento de leite no estado. Os estabelecimentos, contudo, buscam estratégias para evitar o repasse dos preços cobrados pela indústria para o consumidor, o que pode levar a faltas pontuais de marcas específicas. 

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O Diário do Nordeste rodou alguns supermercados da capital e encontrou o preço do litro do leite variando entre R$ 4,99 e R$ 10,39. Em alguns estabelecimentos, a marca mais barata disponível custava R$ 7,49

Impasse entre indústria e varejo 

O economista Alex Araújo analisa que está ocorrendo um impasse entre a indústria e o varejo com relação ao repasse de preços. O litro do leite está sendo vendido mais caro pelos produtores devido ao período de entressafras, mas os estabelecimentos comerciais buscam não repassar toda a alta aos consumidores. 

Há uma resistência do varejo, principalmente dos supermercados, em acatar esses aumentos e, em decorrência disso, eles modificaram o perfil das compras e as quantidades compradas".
Alex Araújo
economista

Ele acrescenta que também houve uma mudança no perfil de consumo dos próprios consumidores, que têm substituído produtos e marcas em busca de preços mais baixos em um cenário de alta inflação. 

Com uma menor demanda por parte dos consumidores, não há necessidade de os lojistas manterem grandes estoques de produto comprado caro.  

“A menor variedade de marcas tem sido uma resposta dos supermercados a esse poder de negociação da indústria. Os estabelecimentos de varejo têm dado preferência àquelas marcas que não estão fazendo repasse integral da inflação. A gente acredita que essa seja uma situação conjuntural e que a variedade volte ao normal tão logo a gente tenha uma estabilização nesse debate”, projeta. 

Segundo ele, a escassez na variedade de produtos e marcas nos supermercados deve perdurar durante todo o segundo semestre, já que os fatores que pressionam a alta do leite continuam. 

Estratégias para não repassar custos 

Conforme o presidente da Acesu, Nidovando Pinheiro, os lojistas têm buscado estratégias para contornar os altos preços do leite. Ele afirma que alguns estabelecimentos podem deixar o produto faltar para evitar ofertá-lo por um preço acima da média do mercado. 

Nidovando explica que os lojistas estão vendendo o leite com base entre um preço médio dos produtos em estoque, que haviam sido comprados antes das altas, e o preço atual do mercado. 

Os supermercados vêm fazendo um preço médio. Hoje, o litro de leite mais barato de acordo com a indústria seria R$ 8. Como tem estoque, não sei até quando vai conseguir fazer isso, se a indústria continuar fazendo proposta de elevação de preços. Mas o varejo tenta de todas as formas não fazer esses repasses porque a gente já sabe como está a condição financeira dos consumidores".
Nidovando Pinheiro
presidente da Acesu

Ele garante que não haverá falta de leite nos supermercados, mas considera que algumas marcas podem sumir das prateleiras momentaneamente.  

“Vai ser uma tendência ver poucas marcas no supermercado. O lojista não vai comprar outra [marca] com preço bem mais caro se tem uma que está com custo menor. A gente fica se resguardando para uma futura baixa para o mercado”, coloca. 

A expectativa do setor é que ocorra uma estabilização nos preços do leite nas próximas semanas, mesmo que ele não caia aos patamares dos últimos 2 meses. 

Volta nos supermercados 

No Pão de Açúcar do shopping Center Um havia apenas 4 marcas disponíveis na última terça-feira (19). Os preços disponíveis variavam entre R$ 4,99 e R$ 7,99. 

No fim de semana, a reportagem recebeu fotos do estabelecimento com prateleiras vazias. Em nota, o Pão de Açúcar afirmou que “está trabalhando constantemente para continuar oferecendo o sortimento e padrão de qualidade que os clientes já conhecem”. 

Legenda: Prateleira de leite vazia do Pão de Açúcar
Foto: Arquivo pessoal

“Em relação ao abastecimento de leite da loja Center Um, em Fortaleza, a rede informa que a situação deve ser regularizada até quinta-feira (21/7)”, destacou. 

No GBarbosa da rua Padre Valdevino, na Aldeota, todo o leite disponível estava concentrado em duas prateleiras. Apenas três marcas estavam disponíveis e não havia disponibilidade de leite integral, apenas desnatado e sem lactose. 

O preço na loja variava entre R$ 7,15 chegava a até R$ 10,39 no caso da marca Molico, sem lactose. De acordo com funcionário, o leite integral estava em falta há duas semanas. 

O Super Lagoa do Centro também ofertava apenas 3 marcas e os leites desnatado e integral seguiam o preço único de R$ 7,49. As prateleiras estavam organizadas de forma a aparentar um maior volume de produtos, com apenas as primeiras fileiras preenchidas. 

Legenda: Oferta de leite no Super Lagoa
Foto: Arquivo pessoal

No Cometa da Avenida Antônio Sales a reportagem observou uma boa variedade de marcas, com preços entre R$ 7,39 e R$ 8,99. No Frangolândia da Avenida Rui Barbosa a situação era parecida, com preços entre R$ 6,99 e R$ 9,98. 

O Diário do Nordeste entrou em contato com as assessorias do GBarbosa, Super Lagoa, Cometa e Frangolândia e não obteve respostas até o fechamento desta matéria. 

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