'Se aumentar mais, eu paro': motoristas de aplicativo temem novas altas da gasolina

Entre condutores de carros, ganhos reduziram 20% após reajustes nos combustíveis

Escrito por Redação ,
Legenda: Custo com gasolina é referente a cerca de 40% dos ganhos dos condutores de motos por aplicativo.
Foto: Kid Júnior

Herbeton Moreira começou a fazer entregas em Fortaleza há cerca de dois anos para complementar a renda de técnico de prevenção e combate a incêndio. Em novembro do ano passado, ampliou o leque de alternativas e passou a transportar passageiros também, atraído pelos ganhos melhores.

Essa rentabilidade, no entanto, ficou comprometida com os recentes aumentos no preço dos combustíveis. Ele revela que a diferença chega a R$ 1,50 dependendo do estabelecimento.

Apesar de ainda continuar em atividade, Herbeton indica que novos aumentos não são sustentáveis.

A estratégia que eu estou utilizando é escolher a corrida, pegar sempre a que for mais próxima de mim. A tarifa da Uber teve reajuste, mas esse aumento da gasolina retrai muito nosso lucro"
Herbeton Moreira
Entregador e motorista de app

No dia a dia, Herbeton reveza os aplicativos dependendo da demanda. Ele detalha que a segunda-feira costuma ser o melhor dia para o transporte de passageiros fora do fim de semana. Já na terça e quarta, as entregas ficam mais fortes.

Ele estima que cerca de 40% do lucro da atividade é consumido pelo custo do combustível. Ainda assim, os trabalhadores da categoria tentam se segurar à que para muitos é a única fonte de renda.

"Se aumentar mais, eu paro. Estaria pagando para trabalhar, não compensa. Além disso, Fortaleza está muito perigosa, tem diversos bairros que você entra sem saber se vai sair", pontua.

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O relato é endossado por Tiago Forte, vice-presidente da Associação dos Trabalhadores por Aplicativo de Fortaleza (Ataf), entidade que representa os condutores de motocicletas.

Ele estima que cerca de 10 mil motoqueiros estejam sofrendo para se manter na atividade na Capital, distribuídos em aplicativos de entrega de comida e mercadoria e de transporte de passageiros.

"Antes do último aumento já estava complicado, porque os aplicativos não estão melhorando a dinâmica dos valores. Com esse aumento, então, muitos estão quase pagando para trabalhar", afirma.

Tiago lembra que antes do aumento abastecia a própria moto com cerca de R$ 30 e rodava de um a um dia e meio com o valor. Agora, o mesmo período está demandando R$ 50 em combustível.

"A gente não vê gente desistindo ainda, porque muitos ficaram desempregados na pandemia e conseguiram levar o pão pra casa com os aplicativos. Ou seja, a única forma de sobrevivência é em cima da moto", ressalta o representante da categoria.

Para compensar a redução nos ganhos, além de escolher quais corridas atender, a classe tem sido obrigada a passar mais tempo na rua.

Carros

Entre os condutores de carros, a redução dos ganhos chega a 20% após os reajustes recentes nos combustíveis.

Com isso, cerca de 25% dos motoristas já largaram a atividade nos últimos dois meses, segundo o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Ceará (Amap), Rafael Keylon.

A debandada acontece principalmente entre aqueles que rodam com carros alugados e já tinham margens de retorno menores por esse fator.

"O motorista já tinha que trabalhar no mínimo oito horas por dia. Devido ao aumento dos combustíveis, esse número sobe pra dez horas", revela Keylon.

Ele também argumenta que os reajustes anunciados pelas empresas não estão sendo sentidos pelos parceiros.

Reajuste dos repasses

Na última sexta (11), a Uber Brasil anunciou um investimento de R$ 100 milhões em "iniciativas voltadas ao aumento nos ganhos e redução dos custos dos nossos parceiros, além de um reajuste temporário no preço das viagens", de 6,5% nos preços ao consumidor final a partir desta semana.

"Esperamos que essas ações emergenciais colaborem para reduzir os impactos no dia a dia, mas continuaremos ouvindo nossos parceiros, especialmente neste momento”, afirmou Silvia Penna, diretora-geral da Uber no Brasil.

A 99 também anunciou medidas para reduzir o impacto do aumento de custos para os motoristas parceiros. O ganho por quilômetro rodado teve acréscimo de 5% em todas as cidades nas quais a plataforma possui operação.

A companhia ainda criou um centro de inovações dedicado a desenvolver soluções. Entre elas, está o Kit Gás, benefício que estimula a adaptação dos veículos para um combustível mais econômico.

"Ainda, a empresa avalia constantemente o cenário de acordo com os desdobramentos externos e reforça que, paralelamente, está  testando uma solução de subsídio para acompanhar automaticamente as flutuações dos combustíveis, tanto para cima quanto para baixo", informa a empresa em nota.

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