Saiba quais ações mais se valorizaram na Bolsa durante a pandemia

Empresas do ramo de mineração, petróleo, bancos, aviação, locação de veículos e até turismo integram a lista dos papéis da B3 que mais se valorizaram

Escrito por Samuel Quintela , samuel.quintela@svm.com.br
Mineração
Legenda: Investimentos na Bolsa de Valores durante o período eleitoral demanda cautela, dizem analistas
Foto: Shutterstock

A pandemia trouxe impactos fortes na economia mundial, e segue ditando os rumos da valorização das empresas na bolsa brasileira, avaliam especialistas. Um levantamento feito pelo Sistema Verdes Mares apontou que dentre as 10 ações com maior crescimento nos últimos 12 meses, sete representam o setor de commodities.

O cenário, segundo economistas consultados pela reportagem, representa os resultados da retomada global e um atraso do Brasil no processo de vacinação contra a covid-19. 

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Empresas do ramo de mineração, petróleo, bancos, aviação, locação de veículos e até turismo integram a lista dos papéis da B3, a bolsa de valores brasileira, que mais se valorizaram entre os dias 30 de abril de 2020 e 30 de abril de 2021.

O ranking inclui a Vale, a Braskem, a PetroRio, a Localiza, a Azul e a CVC, por exemplo.

Segundo o presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, o desempenho das ações dessas empresas tem uma relação direta com a recuperação econômica de mercados estrangeiros, que retomaram as importações de itens primários para suprir mercados internos. 

Veja o ranking das ações que mais se valorizaram: 

  1. Companhia Siderúrgica Nacional (CSNA3) - R$ 49,19
  2. Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (USIM5) - R$ 22,45
  3. PetroRio (PRIO3) - R$ 91,58
  4. Metalurgica Gerdau S.A. Preference Shares (GOAU4) - R$ 14,86
  5. Gerdau (GGBR4) - R$ 33,22
  6. Vale S.A. (VALE3) - R$ 109,20
  7. BTG Pactual (BPAC11) - R$ 107,75
  8. Braskem (BRKM5) - R$ 52,50
  9. Bradespar S.A. (BRAP4) - R$ 71,01
  10. Azul S.A. (AZUL4) - R$ 38,50
  11. Locamerica (LCAM3)- R$ 26,40
  12. Gol Linhas Aéreas (GOLL4) - R$ 23,45
  13. Localiza (RENT3) - R$ 64,30
  14. CVC Brasil (CVCB3) - R$ 23,97
  15. CIA Hering SA (HGTX3) - R$ 27,42

É o caso, por exemplo, dos setores de siderurgia e mineração, aponta Coimbra, que são exportadores. Com a recuperação de alguns países da crise gerada pela pandemia, como a China, esse mercado tem crescido significativamente.

"À medida que temos uma alta de imunização nos países desenvolvidos e que geram a mola de crescimento no mundo, você tem esses setores com uma perspectiva de crescimento. Isso acontece pelo possível retorno no pagamento de dividendos e pela recuperação externa", disse. 

O presidente do Corecon também comentou que esse é um movimento natural do mercado financeiro, que começa a apontar resultados baseados nas expectativas de que esses setores poderão continuar se beneficiando da dinâmica global de recuperação. 

Formação de estoque

Outro ponto que pode ter favorecido o crescimento das empresas com negócios baseados em commodities, segundo o economista Alex Araújo, foi a dinâmica imposta pela pandemia de reforço de estoques nacionais.

Com as cadeias impactadas pela baixa circulação de pessoas e mercadorias, muitos países buscaram aumentar a compra de alguns itens para não ter prejuízos na produção e no abastecimento do mercado interno. 

"Sem dúvida nenhuma a pandemia trouxe um impacto significativo, até porque boa parte das empresas tiveram de parar e outros setores tiveram ganho de importância pela dependência das commodities nos últimos 12 meses", disse Araújo. 

"Houve uma mudança na importância da cadeia de suprimento. Muitos países reforçaram estoques e buscaram novos fornecedores, também, para diversificar as rotas de comércio", completou.
Alex Araújo
Economista

Variação cambial

Além disso, segundo o economista, a valorização cambial do dólar frente ao real – com alta de mais de 50% nos últimos cinco anos – tem impulsionado os negócios baseados em exportação, como é o caso das empresas de produção de commodities no Brasil. 

"O que a gente está vendo, a partir da vacinação no mundo, é o aumento de novas oportunidades para setores  que vinham muito prejudicados, como bens de consumo semi duráveis, que já está mostrando uma alta na exportação de peças de vestuário", apontou Araújo.

"E essa vantagem do real muito desvalorizado ajuda para exportação. Mesmo os setores mais penalizados começam a ver oportunidades para exportação, no mercado internacional". 

Vacinação atrasada 

Contudo, o processo de vacinação no Brasil, apesar da dinâmica global, foi apontada como um entrave para o desempenho da bolsa de valores.

Segundo o presidente do Corecon, se o País não estivesse "tão atrasado" no processo de imunização, a perspectiva para o Ibovespa (principal índice do mercado nacional) era de até 150 mil pontos até o fim deste ano. 

"O que a gente vem observando é que se a vacinação já tivesse avançado mais, a nossa recuperação poderia estar muito melhor, com a bolsa em 130 mil pontos em vez dos 120 mil. Devemos ter um crescimento menos acelerado, com esses números sendo atingidos agora no final do ano", disse.
Ricardo Coimbra
Presidente do Corecon-CE

"Devemos ter uma recuperação boa em 2021, mas poderíamos fechar até com 150 mil pontos se não estivéssemos tão lentos na questão das vacinas", completou. 

Setores com bom potencial

Apesar  das empresas citadas já terem apresentado um desempenho considerável, ainda é possível que os investidores se beneficiem do movimento de recuperação de algumas empresas na Bolsa. 

Legenda: O setor de energias renováveis foi apontado como tendo um bom potencial de crescimento no momento de recuperação da pandemia, sendo uma opção para investidores
Foto: Reprodução

Segundo a avaliação dos economistas, alguns setores ainda podem apresentar bons níveis de crescimento e valorização a partir do cenário de recuperação no pós-pandemia, mesmo que os resultados não sejam semelhantes aos apresentados acima, considerando que a bolsa faz parte do mercado de renda variável. 

Para Alex Araújo, um dos mercados que deve se beneficiar economicamente é o setor de energias renováveis, já que empresas e governos em todo o mundo estão discutindo mais as questões de sustentabilidade ambiental. Com isso, investir em negócios relacionados pode dar bons resultados aos investidores. 

"Tem um movimento muito forte no setor de energia renovável no mundo, em função das realidades que vemos no Brasil e que foi acelerado, e isso tende a se valorizar. Temos uma oferta grande de debêntures, e temos muita oferta no mercado de renda fixa, mas é um setor com empresas de potencial muito grande porque o tema da sustentabilidade está voltando com muita força. É um segmento com muita possibilidade altas na bolsa", projetou. 

Já o presidente do Corecon-CE, destacou as empresas do setor financeiro, como os bancos, já que há no Brasil uma perspectiva de aumento da taxa básica de juros nos próximos meses por conta da alta da inflação. Com a alta nos juros, é provável que os bancos também apresentem melhor rendimento financeiro, o que pode elevar a valorização dos papéis no futuro. 

Cuidados para os iniciantes

Contudo, Coimbra destacou ser preciso ter bastante atenção ao entrar no mercado de renda variável como investidor. Uma das dicas é manter uma boa variedade de ativos na carteira e buscar informações com pessoas com mais experiência, até que se adquira um bom nível de conhecimento para arriscar mais nos aportes. 

"As pessoas que entram em algo novo devem ser conservadores, então, é sempre bom buscar empresas de volume maior, que são grandes e que passam confiança no médio, no curto e no longo prazo. Na composição da carteira é bom variar e à medida que for melhorando o entendimento, a pessoa pode acrescentar as small caps e criando carteiras mais variadas. E é importante buscar os conselhos de pessoas que estão há mais tempo", disse. 

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