Renda pela metade e engajamento menor: influenciadores reclamam de mudanças nas redes sociais
Segundo influenciadores, mudanças nos algoritmos afetam o alcance dos conteúdos, o que resulta em perda de contratos de publicidade
A renda que a influenciadora Anna Beatriz, 20, tirava do Instagram caiu pela metade. Ela percebe desde o início do ano uma redução no alcance de seus conteúdos e, ao mesmo tempo, o número de lojas que fechavam parcerias para publicidade também diminuiu.
Antes, ela conta que pegava por volta de 3 provadores — prática em que o influenciador vai a uma loja e monta looks para publicar nas redes — por mês, o que rendia uma receita entre R$ 450 e R$ 500.
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Hoje, essa renda extra caiu para uma faixa entre R$ 150 e R$ 250, o que fez com que ela buscasse um emprego formal para além das redes sociais.
Se o alcance cai consequentemente, as parcerias caem e algumas podem chegar a desistir. Se não traz rentabilidade, as empresas não vão querer. Mexe também com a autoestima da gente, a gente vê que está se esforçando por algo e não vê o retorno da plataforma".
Relatos como o de Anna são constantes no universo dos influenciadores digitais. A reclamação geral é de que as mudanças constantes nos algoritmos, sobretudo do Instagram, prejudicam a visibilidade do conteúdo produzido, o que reflete em menos visualizações, menos curtidas e menos seguidores novos.
Mudança de nicho
A influenciadora e empresária Rayssa Teixeira, de 31 anos, trabalha nas redes sociais desde que era adolescente, ainda na época que existia Fotolog. Ela conta que chegou a tirar R$ 30 mil por mês na época que trabalhava publicando nas redes sociais conteúdos de humor e pegadinhas.
A queda de faturamento começou quando ela mudou de nicho, criando uma marca de roupas fitness e passando a publicar mais conteúdos voltados a vida saudável.
“No meu caso eu nem sei se ponho a culpa no algoritmo. Ao mesmo tempo que começou a reclamação de todo mundo de que o algoritmo estava sabotando o trabalho das pessoas, concomitantemente eu estava mudando de nicho, mudando de estilo de vida, não posso culpar 100% o algoritmo. Minha decisão de mudança colaborou para que isso acontecesse”, reconhece.
Mesmo assim, ela conta que também percebe impactos no alcance de seu conteúdo, com seguidores afirmando não verem mais suas publicações nos Stories ou Feed.
Rayssa afirma que não teve redução nas parcerias de publicidade e que, para ela, ganhar dinheiro como influencer vai muito além disso.
“Para mim, ganhar dinheiro no Instagram não é somente o que eu ganho de publicidade, é a pessoa que vê a coleção nova que eu posto e vem comprar”, diz.
Redução nas publicidades
A cantora e influenciadora digital Camaleoa, de 25 anos, nota que a queda no alcance das publicações resultou em uma queda de parcerias de publicidade. Segundo ela, as “publis” estavam sendo quase diárias durante o auge da pandemia, mas se tornaram mais raras.
As publis deram uma diminuída por causa dos alcances, pra geral. A entrega ficou menor por inúmeros motivos, mas ainda se mantém. Só que a frequência diminuiu por não ser tão certo quanto antes".
Camaleoa afirma que apesar da queda nas parcerias, sua carreira musical conseguiu retomar após períodos difíceis entre 2020 e 2021, o que acabou compensando parte das perdas.
“As publis no meu caso não chegavam a pagar minhas contas, como outras pessoas que eu conheço que ainda se sustentam com elas. Mas elas ajudavam com certeza, a ausência delas causou uma diferença no meu orçamento considerável. Que hoje em dia consegui equilibrar, mas logo após a abertura do comércio, elas tiveram um impacto grande”, conta.
Ela destaca que, mesmo que a internet não seja o centro de seu trabalho, as mudanças nos algoritmos prejudicam que ela chegue a mais pessoas.
“Meu alcance vem sendo danificado com o tempo, como a maioria dos usuários. Meu trabalho não chega até mesmo pra quem me segue, então está complicado contar que vai chegar pra pessoas novas nesse momento”, aponta.
Algoritmo do Instagram
Em nota, a assessoria de imprensa da rede social respondeu questionamentos sobre a situação citando uma publicação do blog do Instagram.
“Um dos principais equívocos que queremos refutar é a existência do tal "algoritmo". O Instagram não tem um algoritmo único que define o que as pessoas veem ou não no aplicativo. Na verdade, utilizamos vários algoritmos, classificadores e processos, cada um com um propósito”, escreve o CEO do Instagram, Adam Mosseri, na publicação.
O texto explicita o papel de cada usuário na formação do que será exibido no Stories, Feed, Reels e Explorar.
“A maneira como você usa o Instagram influencia bastante o conteúdo que aparece ou não na sua tela. Você ajuda a aprimorar a sua experiência simplesmente ao interagir com os perfis e as publicações de que gosta”, explica.
A rede social não respondeu com relação a como os vários algoritmos podem prejudicar criadores de conteúdo nem deu previsão de quando ocorrerá uma nova mudança nos mecanismos de exibição da plataforma.