Preço alto de veículos novos faz mercado de carros 'velhinhos' crescer 10% no Ceará
Mais de 114 mil carros com treze anos ou mais foram vendidos ao longo de 2024
Ao comprar o seu primeiro carro, em 2024, o engenheiro e cientista de dados Luiz Alberto Freire optou com um veículo que tinha acabado de completar 15 anos. A escolha por um Celta Life de 2009 envolveu principalmente questões financeiras.
“Eu estava procurando um carro para me ajudar com trabalho e o mestrado. Então busquei uma opção que eu gostasse e que, ao mesmo tempo, fosse fácil de manter”, explica.
Uma das vantagens financeiras é que, pela idade, o carro escolhido não tem incidência do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). O engenheiro avaliou que, considerando os objetivos para o carro, não valeria a pena comprar um carro zero ou seminovo.
“Eu dei uma entrada e parcelei o resto no cartão de crédito em apenas 5 meses, meu intuito era não precisar me endividar por causa do carro e evitar burocracia de conseguir financiamento”, aponta.
Luiz Alberto é apenas um entre tantos cearenses que estão optando por aqueles mais antigos na hora de comprar um veículo usado.
A venda dos 'velhinhos', veículos com pelo menos 13 anos de fabricação, cresceu 10% ao longo de 2024 no Ceará, segundo levantamento da Federação dos Revendedores de Veículos Usados (Fenauto).
Os veículos mais antigos representam a maioria da frota de carros usados vendidos ao longo de 2024. Foram 114.985 'velhinhos' comercializados - 29,57% dos 388.847 usados vendidos.
Em 2023, foram 103.727 veículos com 13 anos ou mais vendidos no Estado, número menor que o total de usados jovens (com 4 a 8 anos de uso) vendidos - 114.042.
REFLEXO DE ALTA NO PREÇO DE CARROS NOVOS
O crescimento na venda dos carros mais antigos está relacionado ao encarecimento dos veículos novos, registrado principalmente nos últimos cinco anos, atesta o economista Ricardo Coimbra.
O preço médio dos carros novos mais vendidos no Ceará é de R$ 109.357, considerando a lista de mais comercializados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) de dezembro.
Coimbra avalia que a tendência do mercado é que os preços dos carros sigam neste patamar elevado. Uma possível mudança pode ocorrer com a chegada cada vez maior de carros elétricos e híbridos, aumentado a competitividade.
“Pode ser que você tenha uma certa estabilidade de preços e, de repente, surge uma composição de veículos elétricos com preços mais acessíveis. Mas no patamar popular, dificilmente a gente vai conseguir ter essa ideia do que seria um carro, efetivamente, com acesso maior para a população”, aponta.
O presidente do Sindivel, Everton Fernandes, avalia que os carros 'velhinhos' são maioria entre usados vendidos também devido ao grande tamanho da frota.
“Os carros acima de 13 anos com certeza representam mais de 50% da frota, então por essa razão são os mais comercializados. E são também os mais baratos, o que acaba tendo uma demanda maior”, reitera.
A alta demanda pelos usados gera um aumento da faixa de preço dos veículos, afirma Ricardo Coimbra. O comportamento de alta nos preços dos carros novos também interfere no mercado de usados.
À medida em que os preços dos carros novos ficaram mais elevados, isso acaba por elevar também o preço dos usados. O carro novo fica inacessível para uma parcela da população e o mercado secundário, o de usado, se torna mais ativo.
CUIDADOS COM MANUTENÇÃO
Para facilitar o deslocamento ao trabalho, o cearense Matheus Barreto também precisou investir no carro próprio recentemente. Como o preço era um diferencial, ele optou por um 'velhinho', um Celta de 2010.
“Eu ia de moto por aplicativo para o trabalho todos os dias, mas às vezes ficava ruim pelo tanto de coisa que levava para o dia. Junto disso, estava começando a época das chuvas”, explica.
Ele aponta que a compra de um carro novo seria inviável, então aproveitou a oportunidade de comprar o veículo que era de uma colega de trabalho.
“Ficaria bem difícil mesmo comprar um novo ou seminovo. O salário não acompanha muito [o aumento de preços], então ficaria meio inviável já que tenho que me bancar”, aponta.
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O técnico avalia que foi uma boa escolha, mesmo que tenha lidado com alguns imprevistos mecânicos. Um dos fatores a ser analisado ao comprar um carro com muitos anos de uso é necessidade de manutenções.
Os veículos de dez a quinze anos de uso representam 80% dos serviços feitos no LS Centro Automotivo, em Fortaleza. Os carros passam principalmente por manutenções preventivas, que buscam evitar problemas mecânicos graves.
É preciso considerar o desgaste natural dos veículos, que pode atingir o sistema de freios, pastilhas e discos de freios. Um grande tempo de uso ou quilometragem rodada também indicam atenção especial para correia dentada, velas de ignição, bateria e fusível.
RECORDE NA VENDA DE USADOS NO BRASIL
A venda de carros usados no Brasil bateu recorde em 2024. Foram vendidos 15.777.594 veículos, maior número da série histórica iniciada em 2011. Em comparação com 2023, as vendas cresceram 9,2%.
Os modelos 'velhinhos', com pelo menos treze anos, também foram os mais vendidos no Brasil: 5,7 milhões de unidades. Em seguida, estão os carros com 4 a 8 anos de fabricação (3,9 mi) e com 9 a 12 anos (3,5 mi).
Os seminovos são os menos vendidos entre os usados - foram 2,5 milhões de unidades vendidas com até três anos de fabricação.
Fugindo do padrão nacional, o Ceará teve um crescimento tímido na venda de veículos usados: 2,2%. Foi o pior aumento nas vendas entre os estados do Nordeste. Piauí teve o melhor desempenho, com crescimento de 17,2% dos usados vendidos.
Everton Fernandes, presidente do Sindicato dos Revendedores de Veículos Automotores do Estado (Sindivel), afirma que o resultado do Ceará sofreu interferência da greve de 21 dias do Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE).
“Com certeza, alguns carros estão circulando ainda sem terem sido transferidos por conta dessa dificuldade. Em outros casos, as pessoas estavam trocando de carro e decidiram adiar devido aos problemas de transferência”, aponta.
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