O que esperar do leilão do 5G e como a tecnologia mudará nossas vidas

Após dois anos de trâmites, o TCU publicou esta semana edital do leilão do 5G. Expectativa é que tecnologia funcione no país já neste ano

Escrito por Heloisa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
Vista aérea de cidade exibindo antena de 5G
Legenda: Todas as capitais do Brasil devem ter acesso à tecnologia até julho de 2022
Foto: Shutterstock

Internet até vinte vezes mais rápida e inovações tecnológicas como carros autônomos e cidades inteligentes. É o que o futuro guarda com a chegada do 5G de forma ampla.  

A tecnologia já chegou a países como Coreia do Sul, Estados Unidos, Austrália, Alemanha, China e Japão desde 2019 e aguardava trâmites envolvendo o Ministério das Comunicações, a Agência Nacional de Telecomunicações e o Tribunal de Contas da União (TCU) para chegar ao Brasil. 

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Agora, essa espera chegou ao fim. O TCU publicou na última segunda-feira (27) o edital que permitirá o leilão do 5G, considerado o maior leilão de radiofrequência da história das telecomunicações do país. 

O leilão agora já tem data: 4 de novembro. A expectativa é que R$ 49,7 bilhões sejam movimentados na operação, em que operadoras disputarão por quatro faixas de frequência, 700 MHz; 2,3 GHz; 3,5 GHz; e 26 GHz. As empresas interessadas devem apresentar propostas no dia 27 de outubro.

O resultado permitirá a chegada da tecnologia do Oiapoque ao Chuí até 2028, segundo previsão do Ministério das Comunicações. As principais capitais brasileiras devem ter acesso ao 5G ainda neste ano. 

Impasses até o leilão 

A liberação do edital do leilão do 5G seria realizada em 2019, mas foi adiada para o ano seguinte e efetivada apenas neste ano. O professor titular de telecomunicações da UFC e coordenador do Grupo de Pesquisa em Telecomunicações Sem Fio (GTEL), Rodrigo Cavalcanti, percebe que questões políticas entraram no meio do caminho. 

Se discutiu se haveria algum tipo de banimento a fornecedores chineses, o próprio governo federal ficou discutindo isso. Depois isso foi superado, mas o governo criou dentro do leilão uma rede segura para as ações do governo federal, é uma novidade que não existia em leilões passados
Rodrigo Cavalcanti
professor titular de telecomunicações da UFC e coordenador do Grupo de Pesquisa em Telecomunicações Sem Fio (GTEL)

Passado esse impasse, como o leilão arrecada fundos para a União, foi necessária uma análise criteriosa do TCU para a liberação do edital. “As operadoras a princípio já estão com os equipamentos a ponto de bala, a questão não é mais tecnológica, é só regulatória”, explica. 

Conforme informou o Ministério das Comunicações em nota, o processo de liberação do edital envolveu “inúmeras audiências no Congresso Nacional e outros eventos públicos”. 

“Todos os órgãos públicos envolvidos (MCOM, Anatel e TCU) se empenharam para dar celeridade à elaboração e análise da minuta do edital de licitação, mas sempre com a preocupação de garantir a consistência técnica e jurídica da proposta”, afirmou. 

O que esperar 

Cavalcanti explica que o leilão deve ser disputado principalmente pelas maiores operadoras do mercado, Tim, Vivo e Claro. Mas novos personagens devem aparecer, o que ajudará a levar a tecnologia a cidades mais interioranas do país. 

“A Anatel fatiou algumas faixas de frequência na expectativa que outras provedoras de menor porte possam se associar e quiçá competir com essas grandes. Essas operadoras podem se unir”, diz. 

As ISPs (provedoras pequenas de internet), como Brisanet, Unifique e Desktop, podem ter um papel fundamental em mercados que não são extremamente competitivos, ampliando a rede. 

A tecnologia deve ser implantada de forma gradual. A expectativa do Ministério das Comunicações é que todas as capitais tenham acesso ao 5G até julho de 2022. 

Uma série de inovações 

O professor de proteção de dados do Ibmec Brasília, Alex Rabelo, pontua que a chegada da tecnologia tem potencial de mudar toda a forma como conhecemos a internet. 

Um comparativo é que no 4G a taxa de transferência de conexão é de 1GB e demora entre 35 e 50 ms. No 5G esse volume sobe 20 vezes, acaba sendo 20GB. A gente consegue transportar mais dados no mesmo tempo
Alex Rabelo
professor de proteção de dados do Ibmec Brasília

Isso é possibilitado em razão da criação de novas bandas de frequência que permitem uma resposta quase imediata. Essa velocidade, por sua vez, permite uma série de inovações tecnológicas muito além da qualidade para os clientes. 

“A área da medicina tem uma vantagem de soluções tecnológicas de monitoramento de pacientes a distância. A comunicação é mais rápida, tem um acompanhamento mais rápido. Outro exemplo é o monitoramento de vigilância com monitoramento facial, a China conseguiu fazer medidas preventivas e proativas para conter a disseminação do vírus por causa disso”, exemplifica. 

A tecnologia também permitirá a abertura de uma nova dimensão da Internet das Coisas, possibilitando a conexão de diversos objetos à rede.  

Será aberta uma janela de possibilidades com automação e digitalização dos processos e das atividades, o que afetará o funcionamento das cidades, da saúde, da educação, da indústria, da agricultura e dos demais setores econômicos e sociais. 

Ao mesmo tempo, será necessário que a população realize a troca dos aparelhos móveis para conseguir utilizar a nova tecnologia.  

Internet mais barata? 

Rodrigo considera que a competitividade entre as empresas na prestação do serviço do 5G aliado à maior capacidade da rede podem possibilitar uma redução nas tarifas de internet. 

“Quando você aumenta muito a oferta, a tendência é que o preço caia. O 5G consegue ofertar muito mais largura de banda, a operadora vai ter até uma sobra de capacidade para venda”, aposta. 

Alex pontua, contudo, que apesar da maior capacidade, outros dispositivos passarão a utilizar internet, promovendo também um maior consumo. Isso pode equilibrar oferta e demanda, dificultando prever qualquer alteração sobre os preços. 

“No 4G estamos falando de soluções de dispositivos móveis, no 5G tem outros dispositivos como roupas, relógios, monitoramento de GPS que são consumidores da tecnologia. É interessante diferenciar, vão ter novos tipos de consumidores diferentes”, reflete. 

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