Número de clínicas estéticas cresce até 91% fora da área nobre de Fortaleza
Vila Velha, Jangurussu e Prefeito José Walter registram as maiores variações percentuais de unidades ativas.
O mercado de estética cresceu exponencialmente nos últimos anos em Fortaleza, descentralizando-se das áreas consideradas nobres, onde estão as maiores concentrações de clínicas. O aumento no número de unidades varia de 51% a 85% entre os bairros com maior presença desses estabalecimentos, de acordo com dados da Junta Comercial do Ceará (Jucec) referentes ao primeiro semestre de 2019 e ao de 2025.
Embora bairros como Aldeota, Meireles e Centro continuem liderando em número absoluto de clínicas de estética, Vila Velha (92%), Jangurussu (87%) e José Walter (83%) registraram os maiores crescimentos e número de novas unidades.
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Bairros como Cidade dos Funcionários, Edson Queiroz, Passaré, Bom Jardim, Messejana e Conjunto Ceará tiveram também aumentos expressivos na quantidade de estabelecimentos.
Confira a lista completa de clínicas por bairros:
| Posição no ranking | Bairros | Quantidade ativa em 2019 | Quantidade ativa em 2025 | Variação % |
|---|---|---|---|---|
| 1° | Aldeota | 511 | 947 | 85.32% |
| 2° | Centro | 284 | 507 | 78.52% |
| 3° | Meireles | 258 | 397 | 53.88% |
| 4° | Mondubim | 189 | 326 | 72.49% |
| 5° | Messejana | 182 | 323 | 77.47% |
| 6° | Jangurussu | 153 | 287 | 87.58% |
| 7° | Passaré | 142 | 259 | 82.39% |
| 8° | Joaquim Távora | 144 | 242 | 68.06% |
| 9° | José Walter | 130 | 239 | 83.85% |
| 10° | Barra do Ceará | 119 | 220 | 84.87% |
| 11° | Vila Velha | 104 | 200 | 92.31% |
| 12° | Papicu | 118 | 199 | 68.64% |
| 13° | Edson Queiroz | 131 | 194 | 48.09% |
| 14º | Parangaba | 118 | 192 | 62.71% |
| 15° | Fátima | 122 | 185 | 51.64% |
Em franca expansão, o segmento prevê faturar R$ 8,8 bilhões este ano, um crescimento de 10% em relação ao ano passado, quando registrou cerca de R$ 8 bilhões, conforme publicado pelo Diário do Nordeste.
O que explica o crescimento em diferentes bairros?
Mesmo diante dessa expansão, o eixo tradicional da zona Leste mantém a liderança. Em 2019, esses bairros já dominavam o ranking, com 511, 284 e 258 clínicas, respectivamente. A diferença, agora, está no ritmo.
A Aldeota, o Centro e o Meireles continuam com os maiores volumes, mas já não são os bairros que mais crescem proporcionalmente. A expansão acelerada migrou para regiões até então fora do circuito premium.
De acordo com Lisk Lobo, professora e especialista em negócios, a Aldeota ainda mantém uma forte “marca territorial”, associada ao atendimento premium, tradição e credibilidade, o que continua atraindo clínicas de alto padrão e clientes de toda a cidade.
O Centro, por sua vez, segue impulsionado pelo intenso fluxo comercial e pela variedade de serviços. Já o Meireles acompanha esse movimento por ser área de alto poder aquisitivo e alta demanda.
O cenário contrasta com a dinâmica dos bairros fora desse circuito, onde o crescimento é rápido, marcado pela popularização dos procedimentos de baixo e médio custo e pela atuação de microempreendedoras do segmento.
Comportamento pós-pandemia impulsionou o setor
Segundo a professora, a pandemia funcionou como catalisadora de uma busca crescente por autocuidado e procedimentos acessíveis, o que redesenhou a geografia do setor. O aumento das videochamadas fez com que as pessoas passassem a observar mais a própria aparência. Segundo Lobo, o fenômeno gerou impactos distintos.
“Houve tanto o desejo de refinar mais o rosto quanto o lado negativo de não gostar do que vê no espelho. São duas faces da mesma moeda”, explica.
O período também marcou a popularização do skin care e o fortalecimento do e-commerce, que ampliou o acesso a produtos de beleza.
Expansão e protagonismo das zonas periféricas
Segundo Lobo, o aumento de clínicas nos bairros reflete um mercado mais diversificado e distribuído geograficamente. Ela destaca que Fortaleza reúne públicos muito distintos, distribuídos entre bairros nobres, áreas de classe média e regiões periféricas, o que amplia oportunidades e modelos de negócio.
As periferias, embora com menor poder aquisitivo individual, representam grande potencial pelo volume populacional.
Lisk afirma que o perfil do consumidor também está mais definido. Predominam mulheres de 26 a 40 anos, de classe C e com ensino superior, que veem o salão como um espaço essencial de autocuidado. O público masculino cresce rapidamente e já representa mais de 25% do mercado.
Para a especialista, a profissionalização das empreendedoras também tem papel decisivo nesse cenário. Ela destaca que muitas profissionais dos bairros periféricos e intermediários têm buscado formação técnica, estratégias de posicionamento e melhorias na gestão financeira. Esse movimento contribui para a manutenção dos negócios a longo prazo e para o fortalecimento da economia local.
*Estagiária sob supervisão da jornalista Bruna Damasceno.