Mudança na presidência da Petrobras deve agravar perdas durante a próxima semana
Na noite desta sexta (19), o presidente Jair Bolsonaro anunciou o general Joaquim Silva e Luna para o mais alto posta da estatal
A troca na presidência da Petrobras, anunciada ontem (19) pelo presidente da República Jair Bolsonaro com a indicação do general Joaquim Silva e Luna para o cargo, deve agravar as perdas da empresa iniciadas após indicativos de mudanças na diretoria. Somente nesta sexta, a estatal já havia perdido R$ 28,2 bilhões em valor de mercado.
O economista Alex Araújo ressalta que a semana será de extrema tensão para a Petrobras. Isso porque o mero anúncio de mudanças no alto escalão da empresa foram suficientes para causar perdas significativas. "Apesar de o governo ser o acionista majoritário, o mercado considera uma intromissão no que seria a política da companhia", afirma, acrescentando que os demais sócios devem se sentir prejudicados pela movimentação.
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Ele lembra que o conselho de administração da empresa sinalizou que não aceitaria mudanças bruscas na presidência, o que pode ocasionar o pedido de saída de alguns conselheiros.
O consultor na área de petróleo e gás Bruno Iughetti também avalia como negativa a decisão. Para ele, a troca foi motivada por fins eleitorais. "A substituição do atual presidente, para mim, é um ato infeliz, porque ele vinha desempenhando muito bem suas atribuições e reconstruindo a Petrobras, que foi dilacerada por falcatruas", ressalta.
Segundo ele, a cadeira da presidência de uma empresa como a Petrobras também exige o mínimo de conhecimento aceitável da atividade fim. "O fato de indicar um general eu vejo com muita reserva. O mercado não vai reagir bem e espero que eles possam estar enganados. Mas não vejo com bons olhos e vejo que o mercado vai se manter numa expectativa dos próximos tempos", acrescenta.
O presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon), Ricardo Coimbra, explica que a possível intervenção do acionista majoritário da Petrobras em detrimento da saúde financeira da empresa gera incertezas em relação à independência da companhia.
"O mercado não vê com bons olhos um governo que se diz liberal ter mecanismos de intervenção numa empresa na qual o governo é acionista e que, até aquele momento, estava na condução de forma transparente, de forma a gerar perspectiva de maior resultado para a companhia sem o interesse político do governo de plantão", dispara.
Ele também acredita que a substituição seja uma forma de mostrar resultado aos eleitores que votaram no atual presidente na eleição de 2018, em especial os caminhoneiros, que vem pressionando o governo diante das altas constantes no preço do diesel.
Preços ao consumidor
Iughetti ainda teme um novo falso represamento de preços pela estatal, repetindo o problema que aconteceu durante o governo Dilma. Ele explica que o novo presidente pode conter os reajustes que seriam necessários no preço dos combustíveis por conta do aumento no valor do petróleo no mercado internacional e da variação cambial, gerando prejuízos para a empresa e ocasionando um reajuste exponencial lá na frente.
"A Petrobras represou os reajustes durante quatro anos no governo Dilma Rousseff. Quando não suportou mais, os preços estouraram no mercado. Além disso, estaríamos indo na contramão do que é praticado nos mercados mais avançados no mundo", destaca.
Já o economista Alex Araújo acredita ser cedo para saber o nível de interferência governamental que o novo presidente irá exercer e ressalta o conflito entre que a escalada dos preços traz para a empresa que possui acionistas governamentais e privados.
"Apesar da recessão, o preço do petróleo vem subindo muito. De um lado, temos a pressão do aumento de preços ao consumidor final. Do outro, temos a empresa de capital aberto e outros sócios além do governo, que são prejudicados quando a empresa não consegue repassar o custo ao preço final", elenca.