Mais de 54% das indústrias não demitem na pandemia; acesso ao crédito é apontado como dificuldade
Levantamento da Fiec mostra como a indústria cearense tem reagido à crise econômica provocada pela pandemia da Covid-19
Dependendo ainda da retomada econômica para reativar completamente a produção, a indústria cearense demitiu até o momento 14,4% da mão de obra, conforme relatório divulgado ontem (15) pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Segundo o documento, 54,4% das empresas não dispensaram seus funcionários, 25,3% cortaram entre 1% e 25% do quadro de colaboradores e 5% demitiram mais de 75% dos empregados.
A pesquisa da Fiec também aponta que uma das maiores dificuldades do setor é o acesso ao crédito para garantir capital de giro. Entre as empresas que solicitaram a ajuda, 59,7% tiveram o pedido negado, conforme a Federação.
O presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, diz que a aposta a partir de agora é de melhora no quadro das empresas e da economia como um todo. "Esse pacote do Governo Federal de complementar a folha de pagamento tem sido muito importante para o setor não demitir. Já o acesso ao crédito é o grande problema nosso hoje porque o Governo tem soltado medidas, mas elas não conseguem chegar na ponta, não chegam à empresa", aponta.
Cavalcante afirma ainda que as instituições financeiras continuam fazendo seus levantamentos para avaliar os pedidos de empréstimos por parte das empresas e que cumprem com as regras de mercado. "Nós temos trabalhado com o Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Caixa, para que a gente possa fazer isso (negociação), mas até agora não tem nenhuma recomendação do Governo dizendo para as instituições facilitarem esse crédito. Está faltando chegar ao ponto de o Governo e o Banco Central assumirem as operações".
O executivo reitera que é preciso controlar a Covid-19 para que as atividades indústrias e comerciais possam retornar integralmente às atividades. "É importante toda a cadeia voltar. Primeiro a gente tem que torcer para que a Covid caia para fazermos toda a indústria e o comércio trabalhar. Segundo, a gente tem que entender que o consumidor e as formas de consumo mudaram", complementa. O economista e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-CE), Ênio Arêa Leão, diz que enquanto o prazo de suspensão e redução de jornada estiverem valendo, as empresas vão postergar as demissões.
"E elas vão depender da velocidade da retomada e do segmento da empresa. Em alguns setores, os estoques caíram muito. Se essa retomada de produção se juntar à retomada de vendas, a gente pode ver um número baixo de novas demissões", analisa.
Em relação ao crédito às empresas, Arêa Leão afirma que os bancos ainda estão evoluindo na operacionalização dos empréstimos. "Nesses momentos, o Governo tem que entrar dando garantia de crédito. A gente espera que até o fim de junho essa linha de crédito avance, com mais garantias do Governo para os bancos", completa.
Pesquisa
Segundo a Fiec, 158 empresas cearenses responderam à pesquisa entre 29 de abril e 18 de maio. "Atualmente, 65,8% das empresas estão antecipando as férias individuais dos colaboradores para lidar com a medida de isolamento social.
As outras medidas mais adotadas para mitigar os custos são operacionalização remota das atividades (44,9%), concessão de férias coletivas (29,8%) e diferimento do recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) (31,7%)", informa o documento. O relatório da Federação ainda aponta que, se mantida a impossibilidade de funcionamento, 67,7% das indústrias reduzirão seu volume de produção em mais de 50%.
"A estimativa média dos empresários é de uma diminuição de 62,6% no faturamento do mês. Porém, é importante ressaltar que metade das empresas afirma que não fará demissões em massa: 34,8% não modificarão a quantidade funcionários e 15,2% reduzirão entre 5% e 25%. Dessa forma, se mantidas as restrições de funcionamento, estima-se que chegue a 38,3% de demissões na indústria no próximo mês", acrescenta o documento da Federação.
Ainda de acordo com a pesquisa, a maioria das empresas não solicitou crédito através dos novos programas do Governo Federal de acesso a capital de giro (51,3%). Entre as indústrias que solicitaram crédito, 59,7% tiveram suas solicitações negadas, enquanto 22,1% tiveram suas aprovações aprovadas parcialmente, ou seja, apenas 18,2% obtiveram o valor integral solicitado para seu capital de giro. "Possivelmente as condições determinadas para a tomada de empréstimos não são factíveis na atual conjuntura, pois 71,5% dos empresários apontaram a facilitação do crédito como uma medida necessária", sinaliza a Fiec.