Indústria de alimentos emprega mais de 50 mil pessoas e fatura R$ 17 bilhões no Ceará

Setor é responsável por cerca de 7% de todo o PIB do Estado

Escrito por
Luciano Rodrigues luciano.rodrigues@svm.com.br
Indústria de alimentos no Ceará
Legenda: Indústria de alimentos no Ceará é a 3ª maior do Nordeste do Brasil
Foto: Davi Rocha

O Ceará faturou R$ 17 bilhões na indústria de alimentos em 2024. Em participação no Produto Interno Bruto (PIB) estadual, a cadeia produtiva respondeu por 7,1%. Foram 1.411 empresas gerando pouco mais de 51 mil empregos diretos e mais de 204 mil indiretos.

Os dados foram divulgados pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) na manhã desta quinta-feira (20). Em termos de exportação, o Ceará comercializa com o exterior US$ 278 milhões (R$ 1,58 bilhão na cotação atual). 

No Nordeste, o Estado só fica atrás da Bahia, líder regional, e de Pernambuco. Nacionalmente, a indústria cearense do setor ocupa a 13ª posição em faturamento. 

No comparativo com os números da Abia de 2023, o faturamento manteve-se estável. No ano anterior, o Estado também registrou R$ 17 bilhões na indústria de alimentos. Já em demais quesitos, houve oscilações, com destaque para a geração de empregos. Há dois anos, o Ceará empregava 47 mil pessoas no setor. Em 2024, o número subiu para 51 mil, alta de 9%.

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Na contramão da geração de empregos, o Estado viu encolher a participação no percentual do que é adquirido no campo. Em 2023, a indústria de alimentos cearense comprava da agropecuária local 63,5% do que era beneficiado; agora, a fatia adquirida é de 52,5%.

Isaac Bley, presidente do Sindicato das Indústrias da Alimentação e Rações Balanceadas do Estado do Ceará (SindiAlimentos Ceará), reforça a posição privilegiada do território cearense na produção de alimentos na indústria.

"A importância da indústria se reflete no beneficiamento e processamento desses produtos, agregando valor e contribuindo para o desenvolvimento do agronegócio nessas regiões, gerando emprego, renda e arrecadação de impostos para o Estado", comenta.

Ceará com destaque na cadeia láctea e de massas

O economista Alex Araújo reforça o protagonismo de algumas áreas da indústria alimentícia no Estado, como a do leite e a de massas e biscoitos. Ambos os alimentos são representados por multinacionais que têm sede no território cearense, consolidando o Ceará como um polo essencial para a produção nacional dos itens.

"A indústria de beneficiamento de leite, com destaque para a Betânia, tem grande relevância, impulsionada por uma das principais bacias leiteiras do Nordeste, garantindo o abastecimento local e a produção de derivados como queijos, iogurtes e leite em pó", reflete.  

"No beneficiamento de trigo, o estado ocupa uma posição estratégica devido à presença de dois dos maiores grupos empresariais do setor, a M. Dias Branco e a J. Macedo, tornando-se um dos principais produtores de derivados como farinhas, massas e pães industrializados. A proximidade do Porto do Mucuripe facilita a importação do trigo, reduzindo custos e garantindo competitividade para o setor", completa o especialista.

Legenda: A linha de produção é um dos pilares da indústria.
Foto: Banco de Imagens

Para o economista e presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Wandemberg Almeida, "hoje, a indústria alimentícia do Ceará é muito relevante para o País", especialmente devido a ambos os produtos.

"O segmento lácteo, com o leite produzido no estado do Ceará, tanto o líquido quanto o em pó, isso fortalece a cadeia produtiva. A área de massas e biscoitos também é um segmento que exporta bastante", observa.

Agregando valor ao campo

Os resultados da indústria de alimentos, na visão de Alex Araújo, trazem como principal destaque a qualidade do que é produzido nas áreas rurais do Estado. Para o especialista, é fundamental o beneficiamento da matéria-prima, a exemplo do que acontece em cadeias produtivas como camarão e coco.

Esse volume é essencial porque, além de impulsionar a geração de renda e oportunidades de trabalho, fortalece a cadeia produtiva local. O processamento industrial transforma matérias-primas em produtos de maior valor agregado, ampliando a competitividade das empresas cearenses e reduzindo a dependência de mercados externos.
Alex Araújo
Economista

Plantação de milho na zona rural de Iguatu
Legenda: Plantação de milho na zona rural de Iguatu
Foto: Honório Barbosa

João Dornellas, presidente-executivo da Abia, reforça a "importante parceria com a agropecuária brasileira", evidenciando que a maioria da matéria-prima produzida no campo permanece no Brasil para ser transformada, superando a casa dos 60%.

"Compramos grande parte do que o campo produz, transformamos, geramos emprego e agregamos valor aos produtos do agronegócio. Estabelecemos relações de parceria com os produtores rurais, proporcionando previsibilidade na comercialização e na geração de receita. Além disso, a indústria de alimentos presta a esses pequenos produtores suporte técnico e de melhores práticas para o compliance e a sustentabilidade ambiental", classifica.

Saúde e bem-estar devem ser horizontes de 2025 para o setor, afirma especialista

Com a alta em diversos itens da cesta básica, como o ovo, Alex Araújo acredita que a indústria de alimentos no Ceará e no País deve ter uma tendência a procurar marcas e produtos mais baratos. Ao mesmo tempo, o economista defende uma busca por itens com foco na saúde dos consumidores.

"A crescente conscientização sobre saúde e bem-estar está impulsionando a demanda por alimentos saudáveis e suplementos alimentares. Produtos orgânicos, integrais, ricos em nutrientes e funcionais ganham espaço nas prateleiras. No Ceará, a indústria pode investir no desenvolvimento e processamento de itens que atendam a essa demanda, aproveitando a diversidade e gostos locais para oferecer opções diferenciadas", vislumbra. 

a imagem mostra um pote de whey protein e outros suplementos dentro de uma sacola e, ao fundo, um ambiente de supermercado com produtos para vida saudável
Legenda: O carro-chefe das lojas de suplementos é o chamado Whey protein, feito à base da proteína extraída do soro do leite e aminoácidos
Foto: FOTO: THIAGO GADELHA

Alex Araújo ainda salienta que produtos que combinem praticidade e bem-estar devem figurar entre as novidades recém-saídas da indústria. Com isso, é uma tentativa de se adequar às novas rotinas dos consumidores e aos diferentes estágios de compra dos brasileiros. 

"A busca por praticidade, especialmente entre consumidores que vivem sozinhos ou em famílias menores, aumenta a demanda por alimentos semi-prontos em porções individuais. Esses produtos oferecem conveniência sem comprometer a qualidade nutricional e investir nesse segmento pode atender às necessidades de um público que valoriza tempo e facilidade no preparo das refeições", arremata.

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