Com gripe aviária nos EUA, preço do ovo ultrapassa quilo do frango e da bisteca suína em Fortaleza

Bandeja com 30 ovos vermelhos passou dos R$ 30 na Capital cearense. Produção local tem sido mais demandada por outros estados

Escrito por
Ingrid Coelho ingrid.coelho@svm.com.br
Legenda: Preço de ovos sobe em supermercados de Fortaleza
Foto: Luciano Rodrigues

Alimento considerado uma alternativa às proteínas mais caras, o ovo parece estar deixando de ocupar esse lugar há cerca de duas semanas, quando o preço do produto começou a subir nos supermercados e atacarejos de Fortaleza.

Nos últimos dias, a bandeja com 30 ovos (tipo grande, vermelho) chegou a ultrapassar a marca dos R$ 30 em um supermercado, mais cara que o quilo do peito de frango (encontrado por até R$ 25,90) e que a bisteca suína (também encontrada por até R$ 25,90/kg).

O analista de Mercado das Centrais de Abastecimento do Estado do Ceará (Ceasa S/A), Odálio Girão, explica que, em um intervalo de cerca de 15 dias, os preços da bandeja com 30 ovos (tipo branco, extra grande) saíram de R$ 18 para R$ 20 e, em seguida, para R$ 25.

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Entre os motivos que explicam a elevação está o descompasso entre oferta e demanda no mercado internacional. Nos Estados Unidos, o avanço da gripe aviária levou ao abate de galinhas, afetando a produção de ovos e fazendo com que o país norte-americano demandasse mais de outras nações.

“Os Estados Unidos são um importante mercado consumidor dos ovos produzidos no Brasil, além de outros países da América do Sul”, afirma Odálio Girão.

O presidente da Associação Cearense de Avicultura (Aceav), João Jorge Reis, corrobora que a crise sanitária nos Estados Unidos contribuiu para a majoração dos preços observada no mercado local.

“Uma das maiores empresas produtoras de ovos do Brasil está direcionando boa parte da produção para exportação. Empresas como essa são as grandes responsáveis por abastecer o mercado do Nordeste, então quando elas deixam de enviar para esses estados, a produção cearense começa a ser mais exigida. A oferta diminui e o preço aumenta”, detalha.

O Ceará é, de acordo com a Aceav, o sétimo maior produtor de ovos do Brasil. Conforme os dados mais recentes do setor por estado divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará produziu, no primeiro trimestre de 2024, 61,3 milhões de dúzias de ovos.

A produção local é escoada para Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Bahia, Pernambuco e para o Pará, na região Norte. O Nordeste, porém, além de receber a produção de ovos do Ceará, era abastecido também com a produção de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo.

“Esses estados que mandavam para o Nordeste reduziram o envio justamente porque houve uma procura para exportação”, detalha João Jorge Reis.

Para o Brasil, o IBGE divulgou os resultados da produção de ovos de galinha até quarto trimestre de 2024. Foram 1,18 bilhão de dúzias, crescimento de 11% na comparação com o último trimestre de 2023, quando foram produzidas 1,070 bilhão de dúzias no País.

Custo de produção

O descompasso decorrente do problema nos Estados Unidos não é, entretanto, o único fator. Para João Jorge Reis, a principal causa da elevação no preço do ovo de galinha é o repasse do aumento no custo de produção. Isso porque, de acordo com ele, a ração utilizada para a manutenção das aves ficou mais cara.

“Houve aumento considerável no custo de produção, com aumento dos salários e do frete por causa da elevação do diesel. Os combustíveis pressionam muito os insumos como a ração. Esses são fatores muito importantes para o repasse de preços, então há uma parte relacionada ao custo de produção e outra ao mercado, que está procurando mais ovos para suprir a deficiência nos estados vizinhos. Nós não aumentamos ou diminuímos a produção”, reforça João Jorge Reis.

Segundo a Associação Cearense de Supermercados (Acesu), o preço dos ovos registrou aumento significativo desde a segunda quinzena de janeiro, podendo chegar a 40% do atacado.

"Esse reajuste reflete fatores como a maior demanda e a menor oferta no mercado. No Ceará, esse reajuste é de 9,5%. É importante ressaltar que os valores variam de acordo com a região e a dinâmica local de abastecimento", disse em nota.

Além disso, a Acesu reitera que os supermercados não estão subindo os preços dos ovos. "O que ocorre é um ajuste natural devido ao aumento da demanda em determinados períodos, como na Quaresma, quando o consumo de ovos cresce significativamente. Esse reajuste vem das próprias granjas, o que acaba impactando o consumidor final".

Preços das outras proteínas e produção de ovos

Odálio Girão lembra que, nos últimos anos, por questões comportamentais e pela própria inflação das outras proteínas como a carne bovina e o frango, o ovo passou a ser mais consumido. “Com a alta nos preços das carnes, o consumidor tem buscado com mais força o ovo como proteína”.

No ano de 2024, enquanto carne de porco, cortes de carne bovina (alcatra, patinho, acém e músculo) e o frango registravam inflação de até 24,6% em Fortaleza, o ovo de galinha ia na contramão, com deflação de 4,7%. Em janeiro de 2025, porém, o ovo apresentou inflação de 0,89%.

Apesar da elevação neste início de ano, João Jorge Reis acredita que os preços devem “se manter nesse patamar ou ter redução”. “Não sabemos quando, mas não nos parece que isso vai se prolongar ou que continuará havendo aumento. Acreditamos em manutenção ou queda”.

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