Leite vai ficar mais barato em 2025 com aumento da produção no Ceará?
Estado já fabrica mais de um bilhão de litros por ano e tem segunda maior cidade produtora do Nordeste
A produção de leite de vaca é um dos destaques da agropecuária cearense ano após ano. Especialistas no setor atribuem à cadeia leiteira os bons números que evidenciam o crescimento do setor. Com uma produção em alta, a expectativa pode ser de leite mais barato em 2025 — pelo menos, em teoria.
Nos últimos dados divulgados na pela Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), de 2023, levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará é destaque nacional na produção de leite de vaca.
O Estado aparecia na 9ª posição como maior produtor do alimento, tendo produzido mais de 1,13 bilhão de litros. Na região Nordeste, porém, Pernambuco (7º) e Bahia (8º) aparecem numericamente à frente, com 1,33 bilhão e 1,26 bilhão de litros gerados.
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Dentre os municípios, Morada Nova, no Vale do Jaguaribe, é disparado o maior produtor. A PPM indica que o local fabricou pouco mais de 107 milhões de litros em 2023, levemente atrás de Poço Redondo (SE), principal cidade geradora de leite, com quase 110 milhões de litros.
Para 2024, a expectativa é de que a produção leiteira no Ceará chegue a dois bilhões de litros, superando inclusive o estado de São Paulo, 6º maior produtor nacional, com 1,51 bilhão de litros. Isso não quer dizer, entretanto, que o preço do alimento vai ficar mais barato em território cearense.
"Acho cedo para dizer que o leite vai baratear em 2025, porque ao nível de produtor, hoje está no limite. Os custos dos laticínios vão se comportar, de acordo com a economia. Tem a mão de obra, energia elétrica, tem os insumos", analisa Antunes Mota, presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Ceará (Sindlaticínios-CE).
Inverno pode deixar leite mais barato no Ceará
Esses fatores, pelo menos no início de 2025, não devem mudar o preço do leite, vendido em geral pelos produtores a cifras abaixo de R$ 3 o litro no Ceará atualmente. Com a quadra chuvosa (de fevereiro a maio), com perspectivas de chuvas acima da média para o período, a tendência é de aumento da oferta e diminuição da demanda, princípio básico de mercado que pode baratear o alimento.
"Acho que poderá baixar no inverno, porque os custos do produtor diminuem, a oferta também aumenta, porque aquele gado que não tem boa genética começa a produzir também na faixa de sete, oito litros de leite. Aqueles pequenos produtores vão jogar esse leite no mercado. A tendência é dar uma queda em função da oferta mais, mas, por enquanto, o preço está estável", projeta Antunes Mota.
Para Amílcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), a situação do preço do leite é exatamente oposta. Segundo o gestor, a alta do dólar, cotado no início de 2025 a mais de R$ 6, pressiona as cifras do alimento e dos derivados, como iogurte e queijos.
Nossa expectativa não é que ele diminua de preço, pelo contrário. Existem alguns derivados de leite de importação que com o dólar alto, aumenta de preço. Nossa expectativa é que inclusive o preço do leite aumente. Achamos até que não está justo. O leite praticado no Ceará é aquém do que gostaríamos que fosse. O preço ideal do leite hoje é de R$ 3,20, e aqui é praticado em média de R$ 2,40 a R$ 2,50.
Melhoramento genético e isenção da cadeia produtiva explicam alta
Com uma produção em franco crescimento, sobretudo na bacia leiteira do Vale do Jaguaribe, algumas razões explicam o sucesso da produção de leite no Ceará. Conforme Antunes Mota, somente em 2025, a expectativa é "aumentar em torno de 20% da produção de leite".
"A gente tem muitas queijarias e pequenos laticínios, na região do Jaguaribe são quase 2 mil, a nossa maior empresa aqui trabalha com 800 mil litros por dia, com as outras que são filiadas ao sindicato, que são 26 ou 27, a gente chega a 1,3 milhão de litros, todas certificados. A gente tem uma produção diária em torno de mais de 2 milhões de litros, e tem mercado", explica.
Amílcar Silveira também expõe que os rebanhos de gado no Ceará vêm passando por mudanças que melhorem a genética dos bichos, de modo a preparar os animais para uma ordenha com maior produção de leite.
"Estamos ajudando os pequenos produtores a ter melhoramento genético. Estamos fazendo fecundação in vitro, e estamos levando essa tecnologia para pequenos produtores", diz.
O presidente da Faec também celebra a renovação da isenção de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para o leite e derivados produzidos no Ceará, bem como o caminho a ser traçado por empresas do ramo de laticínios, que beneficiam o alimento para produção de novos produtos.
"Recentemente a gente conseguiu renovar a isenção de todos os produtos lácteos produzidos a partir do leite do Ceará, isso é importante para ajudar os produtores a se organizar. Também conseguimos botar em operação um sistema que vai simplificar as indústrias de laticínios que vai poder ajudar as indústrias, que são mais de 2 mil, a se regularizar, vamos ter uma indústria de leite crescente", destaca.