Mesmo na pandemia, agronegócio e exportações ganham força

Considerado serviço essencial, o setor não parou durante o isolamento social decretado pelo Governo do Estado. Melhor disponibilidade de recursos hídricos traz segurança para expansão dos negócios

Escrito por Redação , negocios@svm.com.br
Legenda: Indústria pesqueira tem boas expectativas de vendas para a Europa, especialmente o atum
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

Menos afetado pelo período de calamidade que, nos últimos três meses, impôs fortes perdas para diversos setores da economia, o agronegócio cearense espera forte incremento tanto na produção como nos investimentos no segundo semestre.

Além do aumento da demanda esperado com a retomada gradual das atividades econômicas não essenciais, a situação dos reservatórios cearenses está melhor do que em anos anteriores e a chegada das águas do Rio São Francisco, prevista para o segundo semestre, dará maior segurança hídrica para investimentos na agricultura irrigada.

"O setor agropecuário no Ceará vem se sobressaindo durante essa pandemia, até porque o setor de alimentos não parou e tem uma demanda constante. Alguns setores até cresceram, como o de frutas cítricas, no começo da pandemia, e o de alimentos saudáveis", diz Sílvio Carlos, secretário executivo do Agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho (Sedet).

Entre os setores que mantiveram o ritmo de produção, se destacam a pecuária leiteira, a fruticultura e o segmento de algodão. "O setor leiteiro cresceu nesse período. E o algodão, que vem crescendo muito nos últimos dois anos, manteve o ritmo, ajudado pela demanda da indústria têxtil local. Os setores estão bem animados", destaca Silvio Carlos, lembrando que, com a transposição, a produção de algodão irrigado poderá dar um salto no Ceará.

Exportação

Outro fator que vem animando o setor local é a abertura de mercados na Ásia para produtos brasileiros, sobretudo as frutas, cuja safra tem início em agosto. "No segundo semestre, teremos a China e o Vietnã comprando melão. Com o dólar em alta, os nossos produtos ficam ainda mais atrativos para o comprador externo", diz Silvio Carlos.

Por outro lado, segundo o presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, haverá uma redução de 20% na área plantada do setor por precaução.

"Nós abastecemos a Europa no inverno deles. Estamos recebendo pedidos de clientes em volume menor, muitos deles ainda não confirmaram. Como temos que preparar terreno, comprar sementes, mudas, estamos plantando no escuro, coisa que, em outros anos, não acontecia". Ainda assim, Barcelos espera que o câmbio compense a recessão causada pela pandemia no continente europeu.

O secretário Sílvio Carlos destaca ainda boas perspectivas para a indústria pesqueira em geral com a abertura das exportações para a Europa. "O Ministério da Agricultura conseguiu abrir o mercado Europeu, que tem uma demanda muito grande por peixe, principalmente o atum. Ainda há pequenos entraves, mas a expectativa é boa. O que nos preocupa um pouco é a lagosta, que tem no mercado americano o principal comprador e está parado", pondera.

Foto: Foto: Honório Barbosa

Camarão

A carcinicultura também prospecta compradores no exterior para retornar as exportações. Segundo Cristiano Maia, presidente da Associação Cearense dos Criadores de Camarão (ACCC) e da Camarão BR - entidade que representa as 20 maiores empresas produtoras de camarão do País -, há negociação com possíveis clientes no Canadá, Estados Unidos e África do Sul.

"Estamos negociando, mas o problema da pandemia é mundial. O consumo de camarão é 80% relativo a bares e restaurantes, no Brasil e lá fora. Então, esperamos o retorno desse setor para voltarmos a vender plenamente", prevê.

Com a dependência da atividade dos restaurantes, os produtores que não tinham como armazenar os crustáceos acabaram perdendo a produção. Segundo Maia, houve um corte de 40% no povoamento das fazendas. "Ficamos só com camarões que já estavam em viveiro. Se os restaurantes voltarem em julho, aí deveremos retomar o povoamento, com nova produção em outubro"..

O presidente da ACCC ainda estima que o Estado possua estoque de 3 mil toneladas de camarão congelado. "Como as pessoas estão mais em casa, até tivemos um aumento do consumo de camarão fresco, que passou de 20% para 30%. Mas só".

O segmento de flores e plantas ornamentais foi outro que acabou sendo impactado pela falta de pontos de vendas e paralisação do segmento de festas e eventos. "Tudo isso impactou muito o setor. E o Dia das Mães não foi como o esperado. Para o Dia dos Namorados, há uma expectativa um pouco melhor por conta da flexibilização", diz o secretário Sílvio Carlos.

Empregos

De acordo com a Federação da Agricultura do Estado do Ceará (Faec), o setor agropecuário do Estado conseguiu manter os empregos "da porteira para dentro", com destaque para a produção de leite, queijo, castanha e mel de abelha. O resultado se deu, sobretudo, pelas vendas em padarias e supermercados. Segundo a entidade, as quatro maiores atividades do agronegócio cearense (bovinocultura de leite, bovino caprinocultura, cajucultura e apicultura) geram cerca de 300 mil empregos.

O último Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), referente à expectativa em abril, aponta que a produção esperada de cereais, leguminosas e oleaginosas no Ceará em 2020 é 12,9% maior que 2019, com 637,7 mil toneladas e destaque para o arroz, feijão, milho, algodão e mamona.

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