Financiamento imobiliário cai 18% no Nordeste; entenda motivos e veja por estado
Ceará se manteve estável no acumulado de 2023
Os financiamentos imobiliários com recursos da poupança no Nordeste caíram 18% no acumulado de janeiro a outubro de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado. Enquanto Sergipe, Piauí e Maranhão puxaram a queda, o Ceará se manteve praticamente estável.
De janeiro a outubro deste ano, os financiamentos imobiliários em todos os estados do Nordeste movimentaram R$ 12,86 bilhões - atrás dos R$ 15,75 bilhões movimentados ano passado. A redução foi registrada no boletim da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) divulgado na última semana.
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Em Sergipe, o montante movimentado saiu de R$ 168,8 mi para R$ 55,9 mi - queda de 36%. No Maranhão, os valores financiados caíram de R$ 1,36 bi para R$ 899 milhões. Quedas significativas também foram registradas em Pernambuco (26,29%) e Rio Grande do Norte (22,64%).
A menor queda nos valores financiados foi registrada no Ceará - 0,53%. O montante movimentado saiu de R$ 2,56 bilhões para R$ 2,55 bi. Com a movimentação praticamente igual, em meio à queda dos outros estados, o Ceará subiu no ranking e é o segundo da região em valor e unidades financiadas em 2023.
Para a economista Ana Maria Castelo, coordenadora dos Projetos de Construção do FGV Ibre, o comportamento do mercado imobiliário cearense, em uma perspectiva nacional de queda nos financiamentos, é surpreendente. Ela sugere que um dos fatores pode ser o boom imobiliário de imóveis de alto padrão em Fortaleza.
"Tem uma parcela da população com uma faixa de renda mais elevada que tem sofrido menos restrições. Pode ter um foco das empresas nesse padrão mais alto de financiamento", aponta. A economista também aponta que o Índice de Valorização de Imóveis em Fortaleza está abaixo da média nacional, tornando as condições mais favoráveis.
Patriolino Dias de Sousa, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), aponta que a redução nos estoques, assim como sinalização de diminuição das taxas de juros, levam ao aumento da demanda.
De 2015 a 2019, a gente passou por um período de crise e as construtoras não colocaram novos empreendimentos na praça. O ano de lançamento seria de 2019 e 2020, só que veio a pandemia, que gerou muitas incertezas, e as construtoras seguraram, isso ajudou a diminuir mais ainda o estoque"
Projeções para 2024
Fugindo desse padrão equilibrado, o Ceará registrou uma queda mais acentuada nos valores financiados em outubro, com redução de 12% em relação ao mesmo mês do ano passado. Mesmo assim, Patriolino afirma que a expectativa do setor é que os valores movimentados consigam superar os do ano anterior.
"Estamos observando uma busca maior tantos nos stands das construtoras como nos sites. Acredito que, tanto no fim do ano, como em 2024 terá uma melhora nas vendas", projeta.
Ana Maria Castelo aponta que, no cenário nacional, não há previsão de crescimento dos financiamentos imobiliários pela poupança para 2024, mas as quedas devem ser menores que em 2023.
A economista ressalta que o cenário complicado no mercado imobiliário já era previsto no início deste ano, com aumento das taxas de juros e diminuição das ofertas bancárias. No sentido inverso, há previsão de crescimento dos financiamentos imobiliários utilizando o saldo do FGTS.
Um dos pontos otimistas apontados por Castelo é o relançamento do Minha Casa Minha Vida, que retoma o protagonismo do mercado de habitação popular. "Para o crédito de média renda, ainda vislumbro um cenário desafiador pela pouca disponibilidade de recursos. Os imóveis vão ficando mais caros e o custo do financiamento aumentou significativamente", explica.
Segundo a Abecip, a queda no Nordeste está em linha com o comportamento nacional, que teve 17% de redução nos volumes de financiamento. A associação ainda não divulgou as projeções para 2024.