Financiamento de imóveis no Ceará salta quase 300% em janeiro
Foram 1.441 unidades financiadas com recursos da poupança no Estado no primeiro mês de 202. Endurecimento de medidas de isolamento preocupa mercado
Em ritmo crescente desde o ano passado, o mercado imobiliário deu um novo salto em 2021. O número de imóveis financiados com recursos da poupança no Ceará em janeiro foi quase quatro vezes maior que em igual período do ano passado, passando de 390 para 1.441 unidades no primeiro mês deste ano, um avanço de 269,4%.
Em valores, foram R$ 262,3 milhões financiados em janeiro de 2021 contra R$ 90,3 milhões em igual período do ano passado, um salto de 190,4%. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades de Crédito e Poupança (Abecip),
Além do forte crescimento observado na passagem do ano, o número de unidades financiadas no Estado também cresceu na comparação com dezembro, mês que já havia apresentado os melhores resultados de 2020. No último mês de 2020, a Abecip informou a tomada de crédito para aquisição de 1.317 imóveis no Ceará.
Os valores das unidades financiadas em dezembro, porém, ainda foram maiores: R$ 413,8 milhões, indicando que os imóveis adquiridos naquele período foram, em média, mais caros que os financiados em janeiro passado. O montante de dezembro no Estado é o maior, pelo menos, desde junho de 2014 (R$ 360,9 milhões).
Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Dias, os resultados ainda estão associados ao efeito da mínima histórica da taxa básica de juros, a Selic, sobre as taxas do crédito imobiliário.
“A Selic a 2% representa a menor taxa da história. Consequentemente, os bancos baixaram as taxas do financiamento imobiliário e isso faz com que o valor das parcelas caia bastante. Quando a parcela fica mais baixa, várias famílias passam a ter acesso ao sonho da casa própria”, detalha.
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“É a combinação da taxa de juros com estoques de imóveis com preços ainda muito bons, então as construtoras estão zerando os seus estoques, não só na Região Metropolitana, mas em outras cidades. Para segunda moradia, por exemplo, o estoque zerou completamente”, explica Patriolino Dias.
Estoques disponíveis
Ele explica que os estoques ainda correspondem aos lançamentos realizados entre 2013 e 2014, anos em que muitos imóveis foram colocados no mercado.
“Naquele momento, ‘encharcou’ e as incorporadoras fizeram o seu dever de casa, que foi não lançar novos empreendimentos entre 2016 e 2019. Na época, tínhamos uma Selic a 14%, então realmente não valia a pena comprar”, detalha o presidente do Sinduscon-CE.
Entre o fim de 2019 e o início de 2020, quando as construtoras se preparavam para outra temporada massiva de lançamentos, confiando na melhora do cenário macroeconômico, a pandemia assustou e jogou esses lançamentos para depois.
“Isso também ajudou bastante a limpar os estoques dos anos anteriores”, explica Patriolino.
Alta da Selic adiante?
Apesar dos indicativos de que a taxa básica de juros, a Selic, possa sair do tão celebrado patamar de 2% ao ano - o Boletim Focus do Banco Central divulgado hoje (1º) prevê que a Selic chegue a 4% ao ano no fim de 2021 -, o presidente do Sinduscon-CE avalia que o mercado imobiliário não sofreria tanto nesse cenário.
“Lógico que, quanto maior a taxa, menor é o apetite, mas a gente acredita que, com a Selic em até 5% ao ano, o nosso mercado trabalha superbem”, reforça.
Avanço da pandemia
Mesmo com a pandemia do coronavírus, o financiamento imobiliário cresceu em 2020 (até mesmo durante os meses mais rígidos de isolamento) e segue crescendo. O efeito do endurecimento das medidas de combate à doença, entretanto, preocupa quanto ao desempenho do mercado nos próximos meses, na avaliação de Patriolino.
“A gente vive incertezas com essa pandemia, mas acreditamos que, como não há lockdown, as pessoas ainda consigam ir atrás de imóvel no período da manhã e da tarde”, diz o presidente da Sinduscon-CE, pontuando também que o contexto de coronavírus alavancou a digitalização do processo de vendas das construtoras e incorporadoras.
“Mas logicamente a gente fica preocupado, porque a economia tem que ser forte como um todo para que as pessoas mantenham seus empregos e consigam adquirir imóveis”.
Cenário nacional
No País, o financiamento imobiliário bateu recorde, totalizando R$ 12,29 bilhões em janeiro de 2021, 72% a mais que em igual período do ano passado. Foi o maior volume nominal mensal registrado em um mês de janeiro na série histórica iniciada em 1994. Em unidades, foram 55,1 mil imóveis, um avanço de 97,4% frente a janeiro de 2020.
Na comparação com dezembro do ano passado, porém, houve queda de 29,7%. Em número de unidades financiadas com os recursos da poupança, houve queda de 1,6% no País.
No acumulado entre fevereiro de 2020 e janeiro de 2021 o montante financiado somou R$ 129,12 bilhões, crescimento de 59,9% na comparação com o período imediatamente anterior. Em relação ao número de imóveis, em 12 meses foram 453,9 mil unidades no País, avanço de 48,5% ante o período precedente.