Entenda como a redução da taxa Selic influencia a economia no Ceará

O mercado financeiro projeta uma nova redução de 0,5 ponto percentual; a definição deve ser anunciada pelo Copom ainda nesta quarta

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Banco Central
Legenda: As projeções apontam que o Copom, vinculado ao Banco Central, deve reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual
Foto: Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), decidiu, nesta quarta-feira (20), reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual — caindo de 13,25% ao ano para 12,75% ao ano. 

Taxa básica da economia, a Selic é usada como referência pelas instituições financeiras para a definição dos juros sobre operações de crédito, financiamento e empréstimos, por exemplo. Para o Ceará, a redução deve significar um "estímulo maior ao investimento", explica a economista Ana Alves. 

"Investimento na indústria, em inovações, em infraestrutura, já que, com uma redução da taxa de juros os investidores, vão tirar os seus recursos que estão aplicados no mercado financeiro e buscar maior rentabilidade nesses termos de investimento. E como o Ceará é um dos estados que vem crescendo significativamente em termos de investimentos na área de sustentabilidade e na indústria, isso pode afetar diretamente a economia do Ceará", detalha. 

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Professor de Economia e Finanças da Universidade de Fortaleza, Allisson Martins destaca que a queda nos juros torna o "ambiente de negócios mais saudável", permitindo que empresários consigam captar recursos financeiros de forma mais vantajosa, que poderá ser investido de diversas formas, desde o aumento do capital de giro, a compra de mais matéria-prima e insumos até investimento em maquinário, veículos e mesmo a construção de empreendimentos. 

"Essa janela aberta com juros menores possibilita implantar um novo negócio ou ampliar para atender uma demanda que não está sendo atendida", projeta o economista. Proporcionando, neste caso, a geração de emprego, que persiste uma das principais preocupações não apenas no Ceará, mas no Brasil. 

Aumento no consumo

O economista e integrante do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, pondera que pode ser mais "difícil de mensurar" o impacto da queda da taxa Selic no dia-a-dia dos cidadãos. 

Parâmetro para as demais taxas aplicadas no sistema financeiro, ela é referência para definir, por exemplo, a taxa do limite do cartão de crédito e do cheque especial e também o percentual de juros aplicado para o financiamento de uma casa ou veículo próprio, exemplifica. 

Ele lembra que existe uma tendência de que a Selic continue a ser reduzida. Segundo as projeções do mercado financeiro, nas duas reuniões do Copom marcadas ainda para 2023 — no final de outubro e na segunda semana de dezembro — devem ocorrer novas reduções da taxa, com a expectativa de que a Selic encerre 2023 a 11,75% ao ano. 

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Essa trajetória descendente da taxa deve propiciar um ambiente mais propício ao consumo, ao contrário da Selic alta, quando é mais vantajoso, para quem tem sobras, a poupança. "Então, pessoas que fazem financiamentos a longo prazo a médio prazo, que compram no varejo, no comércio de forma parcelada, pode haver um incentivo", afirma Ana Alves.  

"(A queda da Selic) Incentiva a compra de bens duráveis. O próprio sonho de ter a casa própria, porque a Selic é referência para os juros praticados no setor imobiliário", completa Allisson Martins. Apesar disso, pondera o economista, a queda de juros não ocorre "de uma forma tão rápida", apesar da redução na taxa Selic. 

"Começa a cair, mas vai caindo em uma velocidade não tão rápida quanto deseja", explica. Isto porque, apesar da Selic ser parâmetro para o que será aplicado em outras operações, outros fatores também são levados em consideração, como o como risco de inadimplência e as despesas administrativas. 

Como a taxa Selic deve ser reduzida ainda mais nos próximos meses, Coimbra aponta que, para quem deseja aproveitar a queda nos juros para contrata empréstimos ou mesmo adquirir um imóvel ou veículo, pode ser bom aguardar. 

"Cientes que existe uma expectativa do mercado, ainda no ano de 2023, de reduções na mesma magnitude (da prevista para esta quarta-feira), deve analisar se é interessante aguardar um pouco mais. A tendência de queda deve repercutir também nessas operações e qualquer tipo de redução tem impacto significativo". 
Ricardo Coimbra
Economista e integrante do Corecon-CE

Crescimento da atividade econômica

O aquecimento da economia, tanto cearense como brasileira, é o principal resultado da queda na taxa de juros, apontado pelos economistas ouvidos pelo Diário do Nordeste. "Da mesma forma que vai ficar mais barato para as pessoas comprarem, vai ficar mais para as empresas captarem recurso para capital de giro, compra de matéria-prima e para aumentar a capacidade produtiva", diz Coimbra. 

O estímulo ao setor produtivo ocorre no mesmo momento em que o consumidor tem um custo menor para adquirir o produto, o que "estimula o crescimento da atividade econômica", resume ele. 

"A economia como um todo tem expectativa de aquecimento por conta disso", concorda Ana Alves. Ela explica, por outro lado, que é necessário ter cuidado para esse aquecimento não acabe por ter impacto negativo na inflação. Essa é, inclusive, uma das preocupações do Copom, que informou em agosto que a redução da Selic se dará de forma conservadora exatamente por esse motivo.

"Qualquer que fosse a decisão [corte de 0,25 ponto ou corte de 0,5 ponto na reunião passada], era consensual que um cenário com expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial, núcleos de inflação ainda acima da meta, inflação de serviços acima do patamar compatível com a meta para a inflação e atividade econômica resiliente requer uma postura mais conservadora ao longo do ciclo de flexibilização da política monetária", detalhou a ata da reunião de agosto.
 
"É óbvio que essa tentativa do Copom em redução aos poucos dos juros é focada principalmente na economia, mas também pra evitar o risco de um crescimento inflacionário, já que, se a gente reduz os juros, a economia se aquece e, muitas vezes, a demanda aumenta já que as pessoas vão ter maior capacidade de renda, capacidade de compra e isso faz que, muitas vezes, os preços possam subir e daí vira inflação", pondera a economista. "Então, por isso, tudo é tomado com muito cuidado, com muita consistência, aos poucos".

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