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'Bancos jogam nas costas dos bons pagadores a dívida dos caloteiros', diz Lula sobre juros do cartão

Em junho, o Banco Central informou que os juros cobrados pelos bancos no rotativo do cartão de crédito subiram para 455,1% em maio

Escrito por Ingrid Campos , ingrid.campos@svm.com.br
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Legenda: Lula em discurso no BNB, em Fortaleza
Foto: Thiago Gadelha

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) improvisou um discurso, na manhã desta sexta-feira (1º), tecendo críticas à condução do Banco Central (BC). Durante agenda no Banco do Nordeste do Brasil (BNB), em Fortaleza, ele afirmou que o povo pobre é o mais atingido pelos altos juros do cartão de crédito

"O Paulo Câmara (presidente do BNB) falou que inadimplência chegou a 3%. Vocês sabem por que os cartões de crédito têm juros de 400%? Porque os bancos, já prevendo que vai ter calote, jogam nas costas dos bons pagadores a dívida dos caloteiros, e aí nos pagamos por aqueles que não pagam, o que não é correto", disse.

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"Primeiro, porque você não pode emprestar dinheiro se o cara não tem condições de assumir compromisso de pagar. [...] E a maioria do povo pobre e trabalhador tem muito caráter, eles não gostam de dever porque muitas vezes o maior valor que ele tem é o seu próprio nome, e por isso que ele é bom pagador. Então a gente não pode ter medo de emprestar dinheiro para pobre", discursou o presidente.

Em junho, o Banco Central informou que os juros cobrados pelos bancos no rotativo do cartão de crédito subiram para 455,1% em maio. Em abril, esse índice estava em 447,7% e, há um ano, estava em 368,8%, uma diferença de 86,3 pontos porcentuais. A taxa tornou-se a maior desde março de 2017, quando atingiu 490% ao ano.

No início de agosto, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, informou que estuda o fim do crédito rotativo de cartão de crédito, que eleva os juros alvos da crítica de Lula.

O rotativo é aquele crédito contratado pelo consumidor quando paga menos que o valor integral da fatura do cartão e dura 30 dias. Após os 30 dias, as instituições financeiras parcelam a dívida. No caso do cartão de crédito parcelado, os juros ficaram em 196,1% ao ano em junho.

A declaração de Lula ocorre em evento no BNB de comemoração aos 25 anos do Crediamigo e aos 18 anos do Agroamigo. 

Banco Central

Lula deu seguimento à pressão contra Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao posto. Desde o início do mandato, o petista tem alfinetado o presidente do Banco Central. Nesta sexta, não foi diferente.

Nos primeiros dez segundos de discurso na sede do Banco do Nordeste, o presidente disse: "Eu espero que alguns economistas brasileiros e que o senhor presidente do Banco Central estejam assistindo essa solenidade e tenham ouvido os discursos das duas companheiras".

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O mandatário referiu-se às falas das clientes do Crediamigo e do Agroamigo Maria da Conceição Menezes e Maria do Socorro Nascimento, que discursaram alguns minutos antes dele.

"Não tem mais interferência do presidente da República, que podia chamar o presidente do Banco Central e conversar. Esse cidadão, se ele conversa com alguém, não é comigo. Ele deve conversar com quem o indicou, e quem o indicou não fez coisas boas por esse País", continuou.

"Essa gente precisa compreender que o dinheiro que existe nesse País precisa circular nas mãos de muita gente. [...] Se o dinheiro ficar parado na mão de poucas pessoas, é concentração de riqueza", completou.

As rusgas envolvendo Lula e Campos Neto desde o começo do ano têm origem na taxa básica de juros, a Selic, uma das mais altas do mundo. Antes de passar de 13,75% ao ano para 13,25% ao ano, no início deste mês, Lula chegou a dizer que Campos Neto "não entende de Brasil".

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