Educação financeira deve ser ensinada desde cedo; veja como abordar o tema com crianças
Ensinar os pequenos a lidar com finanças possibilita criar uma relação melhor com o dinheiro na vida adulta
O cofrinho de Isadora, de 6 anos, já permitiu que ela pudesse comprar com seu próprio dinheiro uma boneca LOL e vários kinder ovos.
Mesmo pequena, a menina já reconhece a importância de poupar o dinheiro que recebe semanalmente da mãe, a química Priscila Vieira, de 37 anos, para realizar sonhos.
Priscila começou a abordar a temática da educação financeira com a filha quando ela ainda tinha 4 anos de idade, familiarizando a pequena com moedas e com a ideia de que eram aqueles pequenos objetos que podiam ser trocados pelas coisas que ela queria.
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Desde essa idade a criança começou a receber semanalmente dez moedas de um real. As ferramentas utilizadas para ilustrar a importância do poupar foram três cofres diferentes: um para sonhos pequenos, outro para médios e outro para grandes.
A ideia ensinada foi de toda semana guardar metade do recebido nos cofres e ficar com o restante para utilizar no resto da semana para ela poder comprar o que quisesse, seja um salgadinho ou um chocolate.
“A primeira vez que a gente foi no supermercado e ela pediu um kinder ovo, eu disse que não dava para comprar [por ser R$ 6, e não os R$ 5 disponíveis]. Ela começou a entender que ela tinha que esperar mais uma semana para conseguir comprar o kinder ovo, começou a dizer até que é caro”, conta a mãe, aos risos.
Educação financeira por faixa etária
A economista e educadora financeira Juliana Barbosa recomenda que a educação financeira pode ser inserida o mais cedo possível na vida da criança, tratando esse tema sempre de forma lúdica e conforme o grau de compreensão do pequeno.
“Crianças de 2 a 3 anos, a gente apresenta o cofrinho, mostra que moeda é dinheiro, separa as moedas por tamanho. Com 5 a 6, que já está na fase de alfabetização, já tem domínio maior dos números. Já pode trabalhar de forma mais direta com moedas e dinheiro”, ensina.
Ela indica começar a dar um dinheiro semanal a partir dos 7 ou 8 anos. A ideia é dar uma pequena quantia de dinheiro para que a criança possa administrar e realizar desejos cotidianos, como uma saída com amigos, e também guardar para realizar aquisições a médio ou longo prazos.
Começa a falar com a criança da importância do tempo, que se ela gastar tudo de uma vez ela vai passar um tempo sem ter. Começa a trabalhar paciência, guardar para realizar. A mesada é uma ferramenta excelente de educação financeira. Quando ele estiver trabalhando e tiver um salário já não vai ser mais uma novidade
À medida que o filho cresce, os pais podem tornar o dinheiro semanal em uma mesada, fazendo com que a criança tenha que planejar o uso dos recursos em um período maior.
Na adolescência ou pré-adolescência é possível incluir recursos como o cartão de crédito e começar a se falar sobre investimentos.
Valor da mesada
Os pais devem avaliar o valor dado ao filho de acordo com a situação financeira da família. Juliana indica, contudo, que mesmo que haja condições, não é recomendado dar grandes montantes de início, para que a criança consiga ter noção da finitude do dinheiro.
Um patamar apontado pela educadora financeira é dar o equivalente a R$ 1 vezes a idade da criança quando se for introduzir o tema.
O valor dado pode ir crescendo com o tempo, acompanhando o planejamento financeiro dos pais e o entendimento do pequeno.
A economista reitera que esse dinheiro não deve vir como uma compensação por notas boas ou bom comportamento, por exemplo.
“A mesada é um instrumento de educação financeira, não é moeda de troca nem prêmio. 'Se você não fizer dever de casa não recebe mesada', não é por aí. Com a mesada você está ensinando seu filho a lidar com dinheiro. Se ela tira uma nota ruim talvez ela deva se dedicar mais aos estudos, mas nunca atrelar isso ao dinheiro. Isso vai atrapalhar e muito o desenvolvimento da criança em lidar com o próprio dinheiro”.
Ensinamentos para a vida
A diretora de educação na Guide Investimentos, Loni Batist, chama atenção para a importância de tratar a temática da educação financeira desde cedo.
Esses ensinamentos podem influenciar na forma como a criança verá o dinheiro na vida adulta, influenciando inclusive no perfil de investimentos.
“É importante para desenvolver na criança uma relação com o dinheiro muito mais saudável. Hoje quando a gente fala no mundo de investimentos se fala em perfil de investidor. O perfil psicológico, que é a relação do indivíduo com o dinheiro, tem muita relação. Se o indivíduo é muito gastador, muito isso tem relação com sua história com o dinheiro desde a sua infância”, explica.
Juliana relaciona a educação financeira de forma direta como a possibilidade de realizar sonhos, desde os menores como a compra de um brinquedo aos maiores, como uma viagem.
“Quando a gente ensina, eles entendem que podem dizer não agora para realizar sonhos no futuro. Vão crescer sabendo lidar com dinheiro, tendo dinheiro como aliado e não como um problema”, resume.
Quando ensina Isadora, Priscila tem em mente que a filha tenha uma maior tranquilidade no futuro para lidar com a própria renda. Educá-la financeiramente também é uma forma de dar a ela uma maior liberdade.
“Ela adora. Ela cobra quando eu esqueço da mesada. Às vezes eu atraso porque não tem as moedas, ela fica cobrando que eu estou devendo. Ela gosta porque ela compra o que ela quer sem eu opinar”, conta.
Exemplo em casa
O primeiro passo para os pais que querem que os filhos tenham uma melhor relação com dinheiro é resolver o orçamento dentro da própria casa.
Mesmo que seja citada a importância do poupar, as crianças aprendem, sobretudo, com exemplos.
Loni indica que um bom exercício é levar os filhos para o supermercado tendo antes uma lista do que comprar e um orçamento previamente planejado.
Nesse espaço, os pequenos podem começar a ter noção de como economizar e conseguir descontos, mas se os pais são descontrolados financeiramente se torna um ensinamento no sentido contrário.
“Inevitavelmente, o filho vai aprender no próprio convívio social. A criança está aprendendo no seu âmbito familiar”, coloca.
A dica que Juliana dá é começar a anotar todos os gastos para montar um orçamento financeiro. Só assim, inclusive, será possível dar uma mesada ao filho com maior precisão à realidade da família.