Correr na rua é de 'graça'? Saiba quanto um praticante amador gasta

Com mais de 50 provas no ano, Fortaleza gera milhares de empregos e movimenta economia com corridas de rua

Escrito por Redação ,
Cristine Viana corredora
Legenda: Cristine Viana corre há 18 meses e tenta ser consciente nos gastos com a prática do esporte
Foto: Rafael Rodrigues da Silva

A prática de correr é milenar e tem conquistado cada vez mais o gosto de quem visa aliar qualidade de vida, exercício físico e momentos ao ar livre. O esporte, que tem fama de democrático e se vende como "quase de graça", já que para começar a praticar basta ter um tênis e força de vontade, cada vez mais se torna uma alavanca na economia local. Em Fortaleza, já são 52 provas oficiais no ano e mais de 110 mil atletas praticando o esporte diariamente em diversos pontos da cidade. Os dados são da Nova Letra Eventos Criativos, que desenvolve algumas das provas mais conhecidas da cidade, como a 21K Terra da Luz e Pé na Carreira.

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Para aqueles que querem se desafiar, as provas são o local ideal, mas, para isso, é preciso desembolsar uma média de R$ 100 por inscrição. Assim, se tudo der certo e o atleta amador conseguir correr pelo menos 10 provas no ano, já temos aí o gasto de R$ 1.000 com o esporte. Além disso, há uma lista de outras despesas como vestuário e acessórios, nutricionista, suplementação alimentar e fisioterapia, além da assessoria de corrida e da musculação, o que pode elevar esse custo, facilmente, de R$ 800 a R$ 1.000 por mês.

Corredora de rua há um ano e meio, a socióloga Cristine Ferreira Gomes Viana, 48 anos, se define uma praticante "comedida", porém, ela afirma que essa não é a realidade de todos. "Não sou das pessoas que gastam mais, porque não faço uso de suplementos, que muitas pessoas usam. Vou na nutricionista, que custa R$ 250 a consulta, a cada 4 meses. E, sou de uma assessoria vinculada a um plano de saúde, que custa R$ 50, mas essa não é a realidade da maioria".

Mesmo com todo esse relato de gastar pouco, Cristine somou pouco mais de R$ 4 mil de custo neste primeiro ano. "Tênis, tem gente que tem vários. Tive um que durou quase 1 ano, agora que comprei o segundo e o terceiro, um para provas e um para treinos específicos de velocidade", ela exemplifica, lembrando ainda que a filha de 19 anos também pratica o esporte e isso eleva os custos na família.

Cristine Corredora
Legenda: Cristine correndo com a sua filha de 19 anos, Júlia
Foto: Gleyson Silveira de Souza

Sobre outros acessórios, as roupas e relógios aparecem como pontos altos de consumo, para além do esporte propriamente dito. "Hoje em dia o apelo é grande e cresce cada vez mais. As marcas fitness tomaram conta das redes sociais, a gente se empolga, começa a seguir corredores, e aí pronto, já foi. Mas tem quem tenha juízo. Eu tinha só dois conjuntos de corrida e comprei o terceiro agora, na black friday. "As pessoas se envolvem com a corrida e, rapidamente, com o lado comercial".

Se pudesse, a corredora comenta que teria mais acessórios e suplementaria melhor, o que, só esse último item, lhe renderia mais cerca de R$ 350 mensais, o que, praticamente, dobraria o custo anual. "Mas é preciso lembrar que essa é a realidade de quem corre aqui na Beira Mar, Cocó, mas tem muitas outras realidades em bairros. A corrida é democrática, sim, e muitas confecções nacionais têm trazido produtos para todos os bolsos", comenta.

Assessorias esportivas

Um dos segmentos que mais alavancaram com o aumento de praticantes de corrida foram as assessorias esportivas especializadas nesse esporte. O personal trainer Thiago Pereira fundou a TP Assessoria em 2008 e comemora o ‘boom’ que o esporte teve nos últimos anos, destacando que mais pessoas estão aderindo para cuidar da saúde.

"Nos últimos anos tive um crescimento de alunos de cerca de 40%. São pessoas com os mais variados objetivos, seja buscando resultados, melhor qualidade de vida ou socializar. Lá em 2008 também já existiam algumas assessorias, mas essa alta na procura fez com que elas buscassem essa melhora na qualidade do serviço prestado", afirma Thiago.

Ele também conta que a tecnologia e o aumento de fotógrafos impulsionou a economia esportiva relacionada às corridas. "Sai um relógio novo que te mostra melhor os resultados, as pessoas compram. Temos também os fotógrafos que ficam em locais de treinos, as pessoas compram as fotos, postam, e isso acaba chamando outras pessoas também, alavancando as assessorias. Tem fotógrafo que vive só disso", explica o personal trainer.

Aqui, vale lembrar que as fotos variam de R$ 9,90 a R$ 15 e que o serviço destes profissionais fez com que muitos corredores, ao se ver na prática do esporte, investissem ainda mais em produtos relacionados, que não só prometem ajudar no desempenho, como também servem de vitrine para a vida social no esporte.

Movimentação econômica fora "das ruas" e turismo

De acordo com Fernando Elpídio, diretor da Nova Letra, a movimentação econômica de uma corrida vai muito além do esporte em si. Organizador de corridas de longa distância, ele reforça que atualmente, para se realizar uma corrida de médio e grande, 160 empregos são gerados diretamente. "Se estendermos isso para equipe de apoio, seguranças, staffs e promoção, advogados, comunicadores, profissionais de educação física, dentre outros, são mais de 250 empregos diretos e indiretos. E toda semana temos corrida de rua em Fortaleza. Isso é muito importante para nossa cidade", explica.

A Nova Letra Eventos Criativos estima que as provas em Fortaleza possuem uma média de 2,2 mil atletas com um ticket médio de R$ 105 por prova. "Cada um faz cerca de 12 ou 13 provas no ano, gastando cerca de R$ 1,3 mil no período com inscrições", complementou Elpídio, lembrando de todos os outros elementos que compõem a prática do esporte, além de participações em eventos paralelos do mesmo segmento.

Ele ainda destaca que a cidade de Fortaleza está aumentando gradativamente o número de turistas que vem só para a prática da corrida e participação em provas. Segundo ele, a prova 21K Terra da Luz de 2023 teve 10% dos inscritos de turistas. 

"São mais de 500 pessoas que vêm de outros estados e cidades cearenses e gastam com hotel, restaurantes, transportes, lazer, entre outros. A cidade está começando a criar essa cultura que já percebemos no Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos Aires e outras grandes cidades da América do Sul", finaliza.

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