Se inflação chegar a dois dígitos, punirá base de Lula: os mais pobres

Mas a inflação é só um problema. Os gastos de R$ 1 trilhão com a previdência em 2025, e de R$ 870 bi com os juros da dívida neste ano são outro. E há o efeito Trump.

Legenda: A inflação elevada, castiga os mais pobres. Para domá-la, só medidas duras, como juros altos.
Foto: Fabiane de Paula / SVM

Está na mesa do debate a complicada economia brasileira, que, por equívocos de gestão, tem problemas graves e de curto prazo a enfrentar. Um deles é a inflação, que caminha célere para passar a barreira dos 5% a caminho dos dois dígitos.

O Brasil e os brasileiros tememos que os preços sigam subindo e nos levem aos idos do governo Sarney, quando este país deu de cara com a hiperinflação. Está nos manuais: a inflação castiga os mais pobres. E os mais pobres são a base popular de sustentação do governo do presidente Lula, ou seja, não podem ser atingidos (do que pior pode significar o verbo atingir) por equívocos do próprio governo.

Mas a inflação é só um problema. Há outros, como o do crescente gasto com a Previdência Social, que, no Orçamento Geral da União (OGU) para 2025, passará de R$ 1 trilhão – mais precisamente R$ 1,07 trilhão.

 E o déficit da Prevideência – outro gravíssimo problema – só aumenta, porque cai o número de pessoas que contribuem para o sistema e cresce, na velocidade do frevo, o de aposentados e pensionistas. É uma conta que não fecha, e por isto mesmo está a exigir uma nova e profunda reforma previdenciária, algo de que o PT e seus aliados não querem ouvir falar.

A conta da despesa com o pagamento dos juros da dívida pública é outro sério problema, sobre o qual já falou o deputado federal cearense Mauro Benevides Filho. Ele disse que jamais o governo alcançará um superávit primário de R$ 870 bilhões capaz de pagar o serviço (os juros) da dívida previsto para este exercício de 2024. A relação dívida-PIB deve chegar, no fim deste ano, a 80%, um sinal de perigo para quem cuida de sua administração.

Sim, o Brasil tem reservas estimadas em US$ 370 bilhões, terá mais uma vez saldo superior a US$ 80 bilhões na balança comercial, está com desemprego em nível baixo e com a atividade econômica ainda aquecida, principalmente neste fim de ano.

Mas a inflação sobe e isto tem consequência ruim para – exatamente – os mais pobres, que passarão a ter mais dificuldade para comprar a prestação porque o crédito no varejo já tem juros muito elevados – nos próximos dias 10 e 11 de dezembro, o Comitê de Política Monetária  do Banco Central vai reunir-se para, novamente, subir a taxa de juros Selic, desta vez em 0,75 ponto percentual, o que a elevará dos atuais 11,25% para 12% ao ano. Altíssima!

O ainda presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem dito e repetido que a Autoridade Monetária mantém e manterá o compromisso de encaminhar a inflação para a meta de 3% ao ano, um trabalho difícil porque, neste momento, o IPCA dos últimos 12 meses está em 4,76% – bem acima do teto da meta, que é de 4,50% (o piso da meta é 1,50%).

O pior é que a inflação mantém o viés de alta, como resultado da explosão do dólar, encarecendo os produtos importados, como o trigo do pãozinho de cada dia e os princípios ativos dos remédios fabricados pela indústria farmacêutica brasileira. Poderia ser pior, porque a sorte está jogando a favor da Petrobras: o preço internacional do petróleo caiu bastante, estando hoje em torno de US$ 73 por barril. Por esta razão, a Petrobras não mexerá, por enquanto, nos preços dos combustíveis, o que é um alívio.

A equipe econômica do governo – que desejava um profundo corte de despesas – perdeu a batalha para os ministros políticos com gabinetes no Palácio do Planalto. Assim, o pacote fiscal não teve a robustez esperada, e a decisão de isentar do IR quem ganha até R$ 5 mil foi imposta pelo núcleo político, que já está de olho na reeleição do presidente Lula. E com razão. Atentem:

A isenção do IR beneficiará cerca de 36 milhões de brasileiros, e começará a valer exatamente no dia 1º de janeiro de 2026, o ano da eleição(ou reeleição) presidencial, de governadores, senadores e deputados. O discurso da reeleição já está escrito e será dirigido a essa multidão de contribuintes e eleitores tributariamente isenta.

“Quem se lembrou de vocês?” – será a natural pergunta de Lula nos seus comícios e na propaganda eleitoral.

O que acontecerá com o Pacote Fiscal na sua tramitação nas duas casas do Congresso Nacional ainda não está claro. O mercado já reagiu contra ele, mas essa reação será minimizada com o passar do tempo, e os pregões da Bovespa e as negociações com o dólar retomarão a normalidade, é o que esperam os otimistas. E os pessimistas – que estão na oposição – esperam o que? Resposta: esperam que nada dê certo.    

Há, porém, um fator exógeno que pode causar tumulto no cenário interno da economia e da política brasileira: a chegada, no dia 20 de janeiro, do novo presidente dos Estados Unidos, o mercurial Donald Trump. Em torno de sua posse e do seu governo já se construíram mil e uma narrativas, a última das quais saiu no Wall Street Journal, ao qual o ex-presidente Jair Bolsonaro deu entrevista.

Na sua fala, Bolsonaro admitiu que a eleição de Trump, impondo sanções econômicas ao atual governo brasileiro, poderá ajudá-lo a retornar ao poder.

Pode ser que sim, pode ser que não.