Como dólar e euro vão se comportar com a guerra entre Rússia e Ucrânia? Especialistas explicam
Tudo depende da magnitude que o conflito irá tomar e de como demais forças globais irão agir
O dólar chegou na última quarta-feira (23) ao menor patamar desde junho de 2021, fechando o dia em R$ 5. Mas, a invasão da Rússia à Ucrânia na madrugada desta quinta-feira (24) inverteu a tendência de queda que seguia desde o início do ano.
Na quinta-feira, a moeda norte-americana encerrou o dia em R$ 5,10, uma alta de 2,02%. O euro teve alta em menor patamar, de 0,94%, chegando a R$ 5,71.
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De acordo com especialistas consultados pelo Diário do Nordeste, o conflito tem potencial de elevar as moedas estrangeiras a patamares ainda difíceis de se prever. A tendência do câmbio será ditada pela magnitude que o conflito irá tomar e como as demais potencias globais vão se posicionar.
De acordo com o membro da Academia Cearense de Economia Henrique Marinho, a tendência de alta deve arrefecer na próxima semana caso sejam tomadas apenas medidas econômicas e não militares para remediar a guerra.
Impacto nos países emergentes
Marinho explica que a taxa de câmbio não representa apenas o preço de moedas estrangeiras em relação ao real, mas sim uma espécie de termômetro da economia como um todo.
“Sempre que há crises econômicas a tendência é que a moeda se desvalorize porque o mercado corre para as moedas mais fortes. Ao saírem do Brasil, ocorre essa valorização [do real]”, destaca.
O sócio-fundador da Fatorial Investimentos, Jansen Costa, detalha que o fenômeno de desvalorização da moeda diante de crises ocorre, sobretudo, com países emergentes. Isso porque, diante de incertezas, os investidores buscam economias mais consolidadas.
“Ninguém está olhando para um risco Brasil, é um risco global. Se a guerra piorar, países emergentes vão sofrer, a bolsa brasileira vai cair. É uma tendência de todos os países emergentes neste momento. O Brasil tem mais risco que os Estados Unidos, por exemplo”, percebe.
Ele analisa que é difícil traçar uma tendência do câmbio devido ao pouco tempo desde a invasão russa. A chegada do Carnaval aumenta a incerteza, já que a bolsa brasileira estará fechada enquanto o restante do mercado estará operando.
Henrique Marinho acrescenta que, caso não haja um agravamento do conflito, o dólar deve voltar a cair perante o real, devido aos altos juros na economia brasileira. Um posicionamento do Brasil a favor da Rússia, contudo, pode afastar investidores internacionais do país, na análise do especialista.
A situação pode se agravar a patamares difíceis de se prever caso grandes potências atuem no conflito de forma militar.
Se a ação europeia da Otan for militar, que possa estender essa guerra, os mercados globais vão ter fechamento. O preço do petróleo vai subir ninguém sabe até quando. É inimaginável ter um cenário de uma terceira guerra mundial em um momento como esse, não há como prever, mas com toda certeza as restrições das economias em todo o globo vão ser muito severas. Vai ter que ter uma ação muito forte do Banco Central [para segurar o câmbio]
Devo comprar moedas estrangeiras?
A situação para compra de moedas estrangeiras era bastante favorável na última quarta-feira, mas quem pretende comprar euro ou dólar para viajar deve ter cautela diante dos acontecimentos globais.
Na análise de Jansen, este é um bom momento de compra já que o real pode estar ainda mais desvalorizado após o Carnaval. Ele avalia que o dólar deve seguir uma trajetória de alta mais ascendente que o euro, principalmente se países europeus se envolverem na guerra.
Se continuar do jeito que está, a gente pode ter um euro mais próximo do preço do dólar. Se o real se desvalorizar frente ao dólar, mas o euro se desvalorizar contra o dólar, a gente pode ter algum momento que viajar para a Europa fica mais barato do que para os Estados Unidos
Henrique defende que este é um momento de cautela e que quem quer comprar moeda estrangeira para viajar deve fazer isso aos poucos.
“Até ontem estava um momento ótimo, mas a partir de hoje as pessoas devem esperar um pouco. Pode comprar hoje a R$ 5,14, mas se todo mundo corre para comprar a R$ 5,14, o preço sobe também. Eu não aconselharia ninguém a comprar, porque se estabilizar volta àquela tendência”, analisa.